A Cidade do Samba, no Rio de Janeiro, foi no dia 5 de novembro o cenário da apresentação do Projeto Meias Órfãs, evento incluído na programação oficial do Ano da França no Brasil. Lançada em Paris pela estilista brasileira Márcia Carvalho, radicada há vinte anos na Cidade Luz, a iniciativa reúne costureiras francesas e brasileiras que produzem, a partir de meias usadas, peças do vestuário feminino como casacos, camisetas, calças, bermudas, chapéus, boinas e até biquínis.
No Rio, as costureiras ainda têm o apoio de cinco estudantes de moda da Universidade Veiga de Almeida (UVA), associada ao projeto. “Nossas costureiras fazem roupas com meias usadas, procedentes de doações. Márcia trouxe o conceito e começamos a trabalhar com os modelos de roupas desenhados por ela”, declarou Nélia Melo, estudante da UVA, que ajuda no planejamento e gerenciamento da produção do ateliê da Cidade do Samba. “Márcia lançou o projeto, e nós continuamos”, acrescentou Bianca Elias, outra estudante da UVA envolvida no projeto.
O lançamento teve exposição de peças e desfile, tudo num clima muito informal. As peças expostas foram fabricadas por três costureiras cariocas moradoras de bairros populares. De acordo com Márcia Carvalho, que tem duas lojas e um ateliê de confecção em Paris, o objetivo do projeto tem duas finalidades. “O Projeto Meias Órfãs visa valorizar o trabalho das costureiras e artesãs, que vêm de comunidades mais pobres, e também valorizar a questão ambiental, reciclando um material que seria descartado”, explicou a estilista. “O projeto é bem interessante. É legal reaproveitar coisas que seriam jogadas fora. Trabalhar com meias usadas é totalmente novo para mim. É um conceito inovador, que desperta a curiosidade das pessoas”, comentou a costureira Maria das Graças Reges, moradora do bairro de Jardim América, na zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo Márcia Carvalho, tudo começou quando ela abriu uma gaveta no quarto de seus dois filhos e viu um monte de meias sem par. “Foi neste momento que decidi fazer algo com essas meias órfãs. Comecei a produzir algumas peças, e fui convidada em 2007 para o Grande Prêmio de Criação da Cidade de Paris, que acontece duas vezes por ano. Apresentei meus modelos, e a resposta foi incrível”, contou. “O sucesso foi tanto que resolvemos trazer o projeto para o Brasil, e o Ano da França acabou sendo o pretexto ideal”, acrescentou, retirando de uma mala cheia de roupas um casaco e uma regata com as cores das bandeiras da França e do Brasil fabricadas especialmente para o evento.
Indagada sobre os motivos deste sucesso, Márcia ressaltou a “originalidade” das peças. “Outro ponto positivo é que as costureiras trabalham com estudantes. É um processo de troca”, comentou. A ideia da estilista é vender sua produção no Brasil e na França. “O que temos por enquanto é um projeto piloto. Ainda não entramos na fase de produção. Precisamos trabalhar na capacitação, na formação das artesãs”, ressaltou. “A partir de 2010, lançaremos duas coleções por ano, uma de verão, e outra de inverno. Vamos fazer exposições aqui no Rio e em Paris. Também ampliaremos nossa produção. Por enquanto só trabalhamos com vestuário feminino, mas passaremos a fazer sacolas e vários objetos de decoração”, revelou a estilista.
Dando continuidade ao projeto, o Meias Órfãs vai até Alagoas, reunindo 25 artesãs da cidade e o design atualizado de oitos alunos da Escola de Moda Esmod da França. Até o dia 9 de novembro, a Márcia de Carvalho coordena a integração entre os franceses e as rendeiras num ateliê organizado para a integração de conhecimento e criação das peças que farão parte da coleção Filé das Alagoas, expostas ao público no dia 10 de novembro, na praia de Jatiúca, às 20h, durante abertura do evento Maceió Fashion Design.