A inveja nunca ganhou tanto destaque no mundo como na era atual. Hoje ser invejado tornou-se para muitas pessoas motivo de orgulho. Diante de uma vaidade cada vez mais cultuada entre as celebridades que fazem de tudo para permanecerem famosas e os anônimos que sonham em tornar-se uma delas, a importância das pessoas parece estar intimamente relacionada à inveja que elas provocam nas demais. Funciona como uma forma de reconhecimento social: “Se tanta gente me inveja é porque eu devo ter algum valor”. Parece loucura? Realmente é! Ironicamente as pessoas se contradizem em seus discursos e comportamentos. Existem fórmulas mirabolantes para se proteger da perversidade da inveja: Banho de sal grosso, rezas, arruda na porta de casa, fitinha sei lá aonde… Em contrapartida existem fórmulas ainda mais mirabolantes para alimentá-la. Quer um exemplo? Acesse a internet, veja as fotos que você encontra em sites de relacionamentos e como muitas pessoas utilizam esses espaços… Uma grande parte coloca as suas fotos em posições provocantes, por vezes seminuas, falando bobagens através de um português paupérrimo traduzido em frases que vão do nada para lugar nenhum. São poucos os que escrevem algo útil, filosófico, político ou poético. É tanta ânsia por aparecer que inúmeros passam horas diante do computador, encantados feito narciso diante da sua pobre imagem, devorando as migalhas da própria insignificância.
No outro extremo da corda estão eles, os invejáveis, que são comumente confundidos com o pelotão anterior, mas que na verdade são os que movem o mundo e que encontram nele um sentido maior para as próprias existências e dos demais. São os que usam os meios de comunicação, sim, mas de uma forma bem-humorada, criativa e construtiva. Assim como na internet, fora dela os invejáveis fazem uma enorme diferença, falam pouco da sua vida pessoal, são mais discretos e quando aparecem agregam valor e luz. Os invejáveis não são narcisistas, são humanos, não escondem suas fragilidades, aprendem com elas e inspiram outras pessoas a fazerem o mesmo. Invejável não sofre de vigorexia ou anorexia, de autopiedade nem de crises de ego, pois não vive para o próprio umbigo, vive por algo maior que o seu próprio mundo, ele possui ideais. Saber entender essa diferença pode melhorar muito a qualidade de vida de todos nós, pode nos tirar do limbo da indigência emocional que insiste em nos devorar.
Lígia Guerra é escritora e psicóloga, especialista em psicologia analítica e do trabalho. É autora do livro “O segredo dos invejáveis”, publicado pela Editora Gente.