O Mutirão Arco Verde Terra Legal, feito nos 43 municípios prioritários no combate ao desmatamento da Amazônia Legal, apresenta novas propostas de desenvolvimento sustentável na região são uma oportunidade para mostrar iniciativas já existentes. Em Nova Ubiratã, a quarta das 20 cidades mato-grossenses a receber o mutirão, a Feira de Produtos da Reforma Agrária e Agricultura Familiar reuniu a produção orgânica. As assentadas Geneci Schulke e Benilde Narciso, do assentamento Entre Rios, venderam mel, rapadura, amendoim, paçoca, tomate e mandioca.
Elas fazem parte da Associação dos Produtores Rurais da Gleba Entre Rios (Aproger) – que conta com apoio do Projeto de Alternativa ao Desmatamento e Queimadas (Padeq), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), para implantação de viveiros de mudas e da Casa do Mel. O mel silvestre embalado pela Casa, construída dentro dos padrões do Sistema de Inspeção Federal (SIF), é vendido na região e em feiras nacionais e regionais de iniciativas sustentáveis.
O viveiro e a Casa do Mel são também locais para atividades de educação ambiental. Nesses dois espaços, estudantes aprendem, por exemplo, a importância de ajudar na recuperação da floresta. “É um sentimento gratificante. Enquanto outros estão destruindo, estamos construindo e vivendo com mais qualidade de vida”, diz Geneci.
Ela conta ainda que no assentamento onde mora foram plantadas dez mil mudas e que outras 15 mil estão sendo preparadas. São espécies nativas e frutíferas que compõem o Sistema Agroflorestal (SAF), implantado como alternativa tanto para recuperação de áreas degradadas como para a agricultura familiar.
Adubação orgânica – Outra iniciativa que teve destaque em Nova Ubiratã foi a aula de campo no sítio do agricultor familiar Gari da Silva, onde foi mostrada a importância da adubação orgânica e seus resultados na produtividade e na diversificação da produção. Para adubar a terra, o agricultor utiliza apenas esterco de suas criações (gado, frango, suíno e coelho), folhas secas, serragem e casca de soja. A mandioca é o plantio que se destaca, tanto pela produtividade quanto pela variedade, e que garante renda para toda a família, além do leite e derivados, banana, cana-de-açúcar e hortaliças.
Agricultor consegue primeiro documento aos 67 anos
Ao buscar atendimento durante o Mutirão Arco Verde Terra Legal em Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso, o lavrador João Gomes da Silva (67) sabia apenas o nome dos pais, a data e o local onde havia nascido. Não tinha, portanto, qualquer documento.
Logo que foi atendido pelas equipes, conseguiu, de uma só vez, a carteira de identidade, o Cadastro de Pessoa Física (CPF), o título de eleitor e a carteira de trabalho. Ele saiu do Mutirão também com o cadastro no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para receber, em 30 dias, o benefício assistencial ao idoso. O valor é de um salário mínimo.
Agora que terá rendimento, João Gomes, que trabalhou como empregado de fazendas em vários estados, planeja permanecer no pedaço de terra que conquistou há cerca de uma década em Peixoto de Azevedo. O plano anterior era vender a propriedade, faltava saúde e renda para continuar produzindo e cuidando do gado.
Para obter todos os demais documentos, João Gomes da Silva teve a emissão da certidão de nascimento autorizada pela Defensoria Pública por meio da oitiva de testemunhas. A certidão do agricultor foi a primeira documentação tardia emitida pelo Mutirão Arco Verde Terra Legal no Mato Grosso, estado que vem desenvolvendo campanha para erradicação do sub-registro de nascimento.
A documentação pessoal é somente uma das ações desenvolvidas por meio do Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR/MDA) durante o Mutirão Arco Verde Terra Legal. O atendimento para emitir documentos é prestado numa unidade-móvel, denominado Expresso Cidadã, equipado com aparato tecnológico que possibilita a emissão imediata de documentos.