Apagão 2009 – Técnicos e estudiosos do setor energético garantiram em audiência pública que o blecaute ocorrido no dia 10 de novembro foi resultado da associação de descargas elétricas e de intensas chuvas que atingiram a usina de Itaipu, entre as cidades de Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP). A afirmação foi dada em audiência realizada nesta quinta-feira (3) pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Para eles, os fenômenos climáticos provocaram curtos-circuitos simultâneos em várias outras regiões, causando blecaute em 17 estados brasileiros e no Distrito Federal.
O debate também teve como objetivo analisar a situação do sistema elétrico brasileiro, bem como o processo de fiscalização das atividades e as perspectivas de investimentos no setor.
De acordo com o diretor de operação do sistema e comercialização de Energia das Centrais Elétricas de Furnas, Cesar Ribeiro Zani, não existe dúvida de que o blecaute foi causado pelas descargas atmosféricas e fortes chuvas, que reduziram a capacidade de atuação dos isoladores de Itaipu. Ele disse ainda que estão pesquisando soluções para evitar novos problemas.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fez a mesma constatação. De acordo com o seu diretor, Gilberto Câmara, o instituto não detectou raios de grande intensidade para justificar, isoladamente, o apagão. “Esses raios, associados às fortes chuvas, podem sim ter sido a causa dos curtos-circuitos”, conta o diretor.
Para o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Djalma Mosqueira Falcão, os blecautes são inevitáveis, mas são eventos de “baixíssima probabilidade” e têm ocorrido no Brasil a cada cinco anos, em média. “O último blecaute ocorrido no Brasil foi em 2002. É preciso avaliar se a sociedade estaria disposta a pagar mais caro sua fatura mensal de energia para destinar investimentos com o objetivo de reduzir esse tipo de evento”, observou.
Deficiências
Na opinião do diretor-geral do Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (Cepel), Albert Cordeiro, o fato de o Brasil dispor de um sistema elétrico interligado é excelente, pois permite que falhas possam ser corrigidas sem causar grandes prejuízos. Ele destacou que não existe nenhum sistema no mundo totalmente seguro, mas, graças às tecnologias atualmente disponíveis, a maioria das falhas não é percebida.
Cordeiro observou ainda que alguns isoladores de Itaipu estão em operação há mais de 20 anos e apresentam trincas, mas garantiu que eles não foram responsáveis pelo blecaute. Afirmou, no entanto, que chuvas intensas, como as ocorridas no dia 10 de novembro, podem reduzir a capacidade de isoladores de hidrelétricas. “Temos que estudar como aumentar a capacidade desses isoladores para apontarmos uma solução melhor para esse tipo de evento”, afirmou.
Já na opinião do consultor e diretor da Expertise Consultoria e Orçamento em Energia Eficiente, Cyro Vicente Boccuzzi, as tecnologias existentes têm se mostrado insuficientes para atender às necessidades da sociedade moderna. “Não temos ainda sistemas que atendam essas necessidades, mas teremos em dois ou três anos”, afirmou.
Investimentos
Segundo o senador Eliseu Resende (DEM-MG), é necessário investir em recursos tecnológicos para que o sistema elétrico brasileiro, que é interligado, seja mais seguro no futuro, a ponto de evitar blecautes em cascata, como o ocorrido em novembro. “Estamos sujeitos a ter novos eventos como esse”, explicou Eliseu Resende.
Delcídio Amaral (PT-MS), também senador, afirmou que é preciso esclarecer a diferença entre blecaute e racionamento de energia. “Blecaute é o que ocorreu em novembro e racionamento é muito mais grave, pois ocorre devido à falta de capacidade de atender a demanda da sociedade”, explicou.
Para Roberto Cavalvanti (PRB-PB), com a explicação dos especialistas, ficou claro que o apagão foi motivado pela conjunção de raios e chuvas. Ele observou que as avaliações que estão sendo feitas sobre o episódio, por vários órgãos técnicos, servirão para melhorar o sistema elétrico brasileiro.
A audiência foi presidida pelo presidente e vice-presidente da CI, senadores Fernando Collor (PTB-AL) e Eliseu Resende (DEM-MG), respectivamente. Também participaram dos debates os senadores Valdir Raupp (PMDB-RO), Paulo Duque (PMDB-RJ), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Osvaldo Sobrinho (PTB-MT).
Assessoria de Comunicação Social
Ministério de Minas e Energia