Entre 219 mil e 246 mil bebês nascem a cada ano no mundo graças ao desenvolvimento das técnicas de reprodução assistida. Os números foram apresentados pelo professor Jacques de Mouzon e seus colaboradores em artigo publicado na revista científica Human Reproduction, em maio deste ano. Mouzon é membro do Instituto Nacional de Saúde e da Pesquisa Médica (Inserm), na França, e coordena o Comitê Internacional para Monitoramento de Tecnologias de Reprodução Assistida.
O estudo indica um aumento no número de procedimentos envolvendo as técnicas de reprodução assistida: mais de 25% em apenas dois anos, de 2000 a 2002. Os pesquisadores usaram dados de 1.563 clínicas em 53 países, mas ressaltaram a insuficiência de dados em partes da Ásia, África e Oceania.
Um dos destaques do documento é o crescente aumento no número de nascimentos a partir de técnicas como a injeção espermática citoplasmática, que tem crescido mais do que a fertilização in vitro. O artigo também traz dados que revelam a disparidade no acesso aos sistemas de saúde e às tecnologias de reprodução assistida pelo mundo. No oeste da Europa, por exemplo, essas condições se mostram bem mais favoráveis do que nos países em desenvolvimento.
Segundo Mouzon, estas informações levantam a questão de se desenvolver técnicas de baixo custo para aplicação em países mais pobres, onde normalmente, o tratamento é mais agressivo, podendo levar a nascimentos múltiplos e a problemas como a síndrome da hiperestimulação ovariana ou a necessidade de reduções fetais.
Veja o relatório World collaborative report on assisted reproductive technology em:http://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/dep098
Desafios da reprodução humana assistida
O nascimento de múltiplos bebês é considerado um problema de saúde pública devido aos riscos causados às mães, às crianças e pelo alto custo gerado ao sistema público de saúde. “Os riscos da gravidez múltipla são muitos. Para a mãe, podemos citar a pré-eclâmpsia, o diabetes gestacional, o rompimento do colo uterino e o parto prematuro. Para o bebê, o maior risco é o da prematuridade, o que pode ocasionar a malformação dos órgãos”, explica o Prof° Dr° Joji Ueno, ginecologista, diretor da Clínica GERA, especializada em reprodução humana assistida.
De uma maneira geral, em termos de reprodução humana, seja pela fertilização in vivo ou pela in vitro, temos poucas chances de sucesso em obter uma gravidez. “Como resolver esta questão? Melhorando o índice de implantação do embrião. Para melhorar as chances de gestação, normalmente, são transferidos para o útero mais de um embrião. Isto porque as chances de gestação aumentam, conforme o número de embriões transferidos, até se estabilizarem em torno de quatro embriões. Em outras palavras, transferir mais do que quatro embriões aumenta apenas a chance de gestação múltipla. Quando obtivermos melhores índices de implantação, poderemos diminuir o número de embriões transferidos, sem prejudicar as chances do casal de engravidar”, defende Ueno.
Este é um desafio para as clínicas de Reprodução Assistida, hoje: otimizar os resultados, manter bons índices de gravidez e não aumentar a incidência de gestação múltipla. “Com o respaldo de um bom embriologista, esperamos que, em alguns anos, possamos transferir rotineiramente apenas um embrião, com boas chances de gestação. Para isto, devemos desenvolver mais pesquisas sobre as condições ideais de transferência, sobrevivência intraútero e implantação do embrião. É necessário também melhorar os protocolos de congelamento e descongelamento de gametas e embriões, pois estas técnicas podem colaborar com a redução da gestação múltipla”, diz o diretor da Clínica GERA