Brasília – O segurança Paulo Henrique, de 29 anos, trabalhou toda a madrugada de hoje (4). De manhã, dormiu menos de duas horas, mas foi à escola pública onde é monitor de informática e conseguiu uma dispensa para jogar basquete. Ele é um dos 310 participantes da terceira seletiva da Liga Internacional de Basquete de Rua do Distrito Federal, promovida pela Central Única das Favelas (Cufa-DF). Realizado em todo o país, o torneio selecionará os melhores times de basquete de rua de cada estado e do Distrito Federal para a disputa do campeonato nacional, no Rio de Janeiro. A disposição e a paixão pelo basquete demonstradas por Paulo Henrique podem ser vistas em todos os basqueteiros, como são chamados os jogadores dessa modalidade de esporte de rua. Ao todo, 45 equipes se inscreveram para a etapa da capital federal: 41 masculinas e quatro femininas. Para o coordenador administrativo da Cufa-DF, Roberto Neiva, muito mais que uma competição, o torneio de basquete de rua é uma forma tirar os jovens das drogas e aproximá-los do esporte. Ao som de rap e hip hop, jovens de cidades carentes do Distrito Federal se divertiam no torneio que definirá a equipe representante do DF no campeonato nacional de basquete de rua. “É uma oportunidade a mais para gente evoluir jogando basquete. E, com as regras da Cufa, jogamos mais o nosso jogo, de forma mais divertida”, disse o atendente de lanchonete Lucas Souza, de 23 anos. Nascida da união de jovens de várias favelas do Rio de Janeiro, a Cufa é hoje reconhecida nacionalmente pelo trabalho voltado para os jovens de comunidades carentes de todo o país. E a Liga Brasileira de Basquete de Rua (Libbra), informou Neiva, surgiu do trabalho com a juventude. “Em nossos eventos, o pessoal jogava muito basquete de rua. Aí, resolvemos aperfeiçoar as regras e criar outras novas”, disse ele. “Temos hoje linha de dois, três e quatro pontos. A manobra por baixo das pernas e a tabela valem um ponto. Isso traz mais emoção. É um jogo mais descontraído, com mais corpo-a-corpo que o basquete tradicional, mas, em compensação, temos mais agilidade no jogo.” A etapa do Distrito Federal será realizada durante todo o mês de abril. Os times vencedores vão direto para as finais e os derrotados terão uma nova chance em uma repescagem. O vencedor vai para o campeonato nacional, que, por sua vez, selecionará o time que vai disputar o mundial. O time Guariroba, de Paulo Henrique, perdeu logo na estréia, mas isso não tirou o sorriso do rosto do segurança. “O importante é a diversão. Nem sabia que estava inscrito no torneio”, afirmou ele. E brincou: “mesmo com a derrota, valeu o sono perdido.”. O coordenador de Políticas de Juventude do Ministério da Justiça, Reinaldo Gomes, elogiou o trabalho da Cufa. Segundo ele, dos 280 bairros mais violentos do país mapeados pelo ministério, a Cufa está em 80%. “Temos que estudar a fundo o método de abordagem dos jovens realizado pela Cufa. Eles têm um sucesso muito grande na reintegração dos jovens à sociedade”, ressaltou.
Ivan Richard Repórter da Agência Brasil