O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirmou nesta quarta-feira (29), em entrevista coletiva, que o país está preparado para enfrentar uma pandemia de gripe suína, quando uma epidemia da doença atinge diversos países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o nível de alerta para pandemia da gripe suína de 4 para 5. Isto significa que há risco de que esse cenário aconteça e os países devem estar preparados para acionar seus planos de contingência.
“O País está preparado para esta situação. Temos um plano de contingenciamento desde 2005; os aeroportos e portos estão em alerta; há uma rede de 52 centros de referência para o acompanhamento e tratamento de eventuais casos da doença” ressaltou o ministro.
Temporão informou que o Brasil tem estoque suficiente do medicamento para o tratamento da doença. O Ministério da Saúde dispõe, para uso imediato, de 6.250 tratamentos para adultos e 6.250 tratamentos pediátricos.
Além disso, há um estoque estratégico de 9 milhões de tratamentos (suficientes para, pelo menos, 9 milhões de pessoas). A matéria-prima está acondicionada a granel e pode ser transformada em cápsulas no laboratório de Biomanguinhos (no Rio de Janeiro) e em laboratórios da Marinha e do Exército. Juntos, os laboratórios tem capacidade de produzi 300 mil cápsulas por dia (o equivalente a 30 mil tratamentos). A quantidade de medicamento e o início do processamento serão indicados pelo Ministério, conforme a necessidade.
O ministro advertiu, porém, sobre os riscos da automedicação. “A automedicação, além de desaconselhada, pode ser muito prejudicial. Todo medicamento para tratamento dessa doença está em poder do Ministério da Saúde. A automedicação pode maquiar sintomas, alterar os sintomas e criar resistência ao tratamento”, alertou.
Há no País dois casos suspeitos, na capital de São Paulo e em Belo Horizonte (MG). Em ambos os casos, os pacientes estão isolados e sendo tratados para a doença, apesar de ainda não haver a confirmação via exame laboratorial.
Ainda assim, nesta quinta-feira, todos os estados receberão 20 tratamentos completos da doença, como medida de precaução. Os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro já receberam 200 tratamentos cada.
A OMS disponibilizou nesta quarta-feira na Internet a sequência genômica do vírus, o que possibilitará ao Brasil realizar, no prazo de dez dias, exames específicos para diagnosticar a doença em três laboratórios públicos: Instituto Evandro Chagas (PA), Instituto Adolpho Lutz (SP) e Fiocruz (RJ).
CASOS EM MONITORAMENTO – Além dos dois casos sob suspeita, há 36 pacientes em monitoramento em 11 estados (Amazonas, Pará, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo). Há diferenças importantes entre casos em monitoramento e casos suspeitos. Os pacientes em monitoramento apresentam algum dos sintomas da doença, mas não preenchem todos os critérios de descrição da doença pela OMS. Estão em monitoramento por medida de prevenção. Já os casos suspeitos são aqueles em que os pacientes atendem a um conjunto de fatores possíveis da doença. Em ambos os casos, os pacientes vieram de países afetados pela gripe aviária.
“A rede pública de saúde está preparada para a detecção precoce de casos suspeitos”, enfatizou o ministro. “Este é um momento importante e o fato de o nível ter passado de 4 para 5 prova isto. A existência de centros de vigilância epidemiológica em todo o País é uma arma muito poderosa. Os 52 centros de referência que temos são outra arma para o enfrentamento da doença. Temos um grande centro em São Paulo, uma planta industrial com técnicos aqui no nosso país, capaz de produzir o tratamento. Este é o momento de combater a insegurança, a dúvida e o medo, de se ter confiança de que o governo está enfrentando o problema com seriedade”.
O NÍVEL 5 DE ALERTA – Para a elevação de nível de alerta, na tarde desta quarta-feira, foram levados em conta os dados epidemiológicos do mundo inteiro e a existência de surto em mais de um país de uma mesma região da OMS. Isso deve levar os países a adotarem novas medidas de contingenciamento, segundo o ministro. “É o que viemos fazendo desde sábado”, reforçou.
Desde 2000, o Brasil começou a estruturar a rede de vigilância em saúde para o enfrentamento ao vírus influenza. Em 2003, com a detecção de uma variação do vírus na Ásia, houve um fortalecimento da vigilância epidemiológica e da rede laboratorial do País. Em 2005, por Decreto Presidencial, foi inclusive criado um grupo executivo interministerial para preparar o Brasil para uma eventual pandemia por influenza – é nesse ano que houve o surto da gripe aviária.