Está em trâmite na Câmara Federal parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina) para que a indicação, adaptação e prescrição de lentes de contato sejam feitas exclusivamente por oftalmologistas. O CFM entende que o ato médico não se restringe às lentes corretivas. Abrange também as cosméticas que são usadas para mudar a cor dos olhos. O objetivo é reduzir complicações oculares causadas pela má adaptação e falta de informação. Só para se ter uma idéia depois da popularização das lentes na década de 70, os casos de contaminação ocular por lentes de contato quintuplicaram no mundo. No Brasil não é diferente. Um recente estudo realizado pelo oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, mostra que 2 em cada 10 usuários têm complicações oculares causadas pelo uso incorreto de lentes. O uso abusivo responde por 45% das complicações, alergias por 35%, contaminação por manutenção e armazenamento inadequados por 20%.
O médico estima que 1 em cada 4 adaptações no País seja feita sem supervisão médica e mais da metade é de pessoas que querem trocar a cor dos olhos. Usar receita de óculos para ajustar lentes corretivas é um erro, comenta, porque o tipo de lente depende do vício de refração. Além disso, como as lentes ficam justapostas à córnea e os óculos a uma distância média de 12 milímetros, nos graus mais elevados de vícios de refração é necessário que o oftalmologista corrija esta diferença. Mesmo que a finalidade seja só estética precisa de supervisão médica, alerta. Isso porque, a perfeita adaptação exige análise da curvatura e relevo da córnea, exame de refração, avaliação do filme lacrimal, fundoscopia, além de utilização de lentes para teste.
DE LENTES PARA CADA ALTERAÇÃO OCULAR
Queiroz Neto explica que correção da miopia, hipermetropia ou presbiopia (vista cansada) é feita com lentes gelatinosas esféricas, que apesar de se movimentarem nos olhos a cada piscada não prejudicam a acuidade visual. Já o astigmatismo, por ser uma alteração na curvatura e relevo da córnea é corrigido com lente rígida ou gelatinosa tórica, cujo desenho interno de curvatura impede o movimento nos olhos.
Independente do formato e material, observa, lentes mal adaptadas friccionam a superfície da córnea, aumentando o risco de lesões e formação de úlcera que representa grande risco de perda da visão. Por se tratar de uma prótese que fica em contato direto com a superfície ocular, comenta, não pode ser usada por qualquer pessoa. A contra-indicação recai sobre portadores de olho seco, quem têm glaucoma ou propensão a processos alérgicos.
OS MAIORES VILÕES DA CONTAMINAÇÃO
O especialista diz que o uso de lentes vencidas ou durante o sono, quando a produção lacrimal tem uma redução de 50%, são as causas mais frequentes de úlcera de córnea. Estas duas atitudes aumentam o risco de contaminação em 10 vezes por reduzirem a oxigenação da córnea. O perigo é ainda maior no calor por conta da evaporação da lágrima e proliferação de bactérias no ar.
O erro mais comum na manutenção de lentes, ressalta, é enxaguar com soro fisiológico. Isso porque, soro não contém conservante e depois de aberto se torna um campo fértil para a multiplicação de bactérias e fungos. Ao primeiro sinal de desconforto – olhos vermelhos, dor, sensibilidade à luz, visão embaçada e sensação de corpo estranho – o especialista indica interrupção do uso e passar por consulta com um oftalmologista.
As principais recomendações para usuários de lentes são:
Lavar cuidadosamente as mãos antes de manipular as lentes.
Utilizar soluções multiuso tanto na limpeza quanto no enxágüe das lentes e estojo.
Friccionar as lentes para eliminar completamente os depósitos
Não usar soro fisiológico ou água na higienização
Retirar as lentes antes de remover a maquiagem e quando usar spray no cabelo
Colocar as lentes sempre antes da maquiagem
Guardar o estojo em ambiente seco e limpo
Trocar o estojo a cada quatro meses
Respeitar o prazo de validade das lentes
Jamais dormir com lentes, mesmo as liberadas para uso noturno.
Interromper o uso a qualquer desconforto ocular e procurar o oftalmologista
Retirar as lentes durante viagens aéreas por mais de três horas
Não entrar no mar ou piscina usando lentes.