Pesquisadores da Clínica Mayo, em Jacksonville, Flórida, descobriram que uma inflamação cerebral não é o gatilho que dispara a formação de depósitos de amilóide no cérebro e o desenvolvimento da doença de Alzheimer, ao contrário do que se acreditava até então no meio científico. Na verdade, a inflamação ajuda a desobstruir o cérebro dessas placas amilóides nocivas no início do desenvolvimento da doença, como demonstrado em estudos com camundongos que foram predispostos ao distúrbio, conforme publicado no final de outubro de 2009 pela versão online do informativo da Federação das Sociedades Americanas de Biologia Experimental (FASEB – Federation of American Societies of Experimenal Biology).
“Isso é oposto do que acredita a maioria dos estudiosos da doença de Alzheimer, incluindo nosso grupo de pesquisa”, diz o pesquisador principal do estudo, Pritam Das, Ph.D., professor assistente do Departamento de Neurociência da Mayo. “O estudo também sugere que podemos tirar proveito do próprio sistema imunológico do cérebro, fazendo com que as células imunes removam as placas amilóides ali depositadas, protegendo, assim, o cérebro contra os efeitos nocivos dessas placas”, ele afirma.
O estudo teve o objetivo de testar a teoria largamente aceita de que uma inflamação no cérebro aumenta a produção e a formação de uma proteína tóxica, conhecida como beta-amilóide (A?). Um aglomerado denso dessa proteína é o marcador patológico da doença de Alzheimer.
“Acreditava-se que, quando as células imunológicas do cérebro, conhecidas por micróglia, são ativadas depois da formação inicial das placas amilóides, a inflamação que se segue estimularia o mecanismo das células do cérebro a produzir mais a proteína A?, o que levaria a mais inflamações”, explica o pesquisador. “A ativação crônica das células imunológicas resultaria em um ciclo de realimentação de reforço próprio, que promoveria mais e mais depósitos de A? e inflamações, levando, com o tempo, ao mau funcionamento e à morte dos neurônios do cérebro”, explica.
Apesar desta teoria, baseada em estudo de células em laboratórios, ter sido aceita pela comunidade científica, os pesquisadores da Clínica Mayo desenvolveram uma forma de testá-la em um organismo vivo – e esperavam chegar ao mesmo resultado. “Iniciamos esses estudos, usando nosso novo modelo in vivo, para confirmar se o fato de induzirmos a inflamação no cérebro iria, de fato, exacerbar a doença”, explica o pesquisador.
Os pesquisadores usaram uma técnica conhecida como “Transgênese Somática Cerebral” para aumentar a expressão da Interleucina-6 (IL-6), da família as citocinas, que estimula uma resposta imune inflamatória nos cérebros de camundongos novos, predispostos ao desenvolvimento, progressivo com o envelhecimento, de placas amilóides. Essa tecnologia poderosa permite aos pesquisadores provocar a expressão de qualquer gene em partes específicas do corpo, ao juntar o gene a vírus Adeno-associados, que são inertes. Dessa maneira, podem estudar a função de qualquer proteína no cérebro e ainda testar o seu potencial uso terapêutico. Descobriram, então, que a IL-6 provocou inflamação em todo o cérebro e, assim, esperavam observar uma grande formação de placas, além de danos aos neurônios do cérebro. “Em vez disso, para nossa surpresa, descobrimos que a inflamação impediu a formação de placas e removeu toda e qualquer placa que estava lá”, disse o pesquisador.
Em vista desse resultado inesperado, os pesquisadores fizeram testes adicionais, usando estratégias diferentes. “Primeiro, nós expressamos a IL-6 nos cérebros de camundongos recém-nascidos, que ainda iriam desenvolver quaisquer placas amilóides e, depois, expressamos a IL-6 nos cérebros de camundongos com patologia de placa preexistente”, ele conta. “Em ambos os casos, obtivemos resultados semelhantes: a presença da IL-6 leva à remoção das placas amilóides do cérebro”, afirma.
Os pesquisadores realizaram, então, testes para determinar como as placas amilóides eram removidas do cérebro. As análises revelaram que a inflamação cerebral induzida pela IL-6 levou as células microgliais a removerem as placas amilóides do cérebro, por um processo chamado de fagocitose. “As células engolem a placa, identificada como uma invasora externa”, diz o médico Ph.D., Pritam Das. Os pesquisadores também descobriram que as células microgliais ativadas estavam bem apegadas às placas e expressaram proteínas que ajudam na remoção das placas amilóides do cérebro.
Os pesquisadores consideram a hipótese de que a inflamação remove placas no início do desenvolvimento da doença de Alzheimer, mas, em determinado ponto, a produção contínua de aglomerados de amilóides no cérebro supera a capacidade das células microgliais de realizar o seu trabalho. Nesse ponto, a inflamação, ativada cronicamente pela presença da placa amilóide, pode produzir seus próprios efeitos doentios na função do cérebro.
“De fato, pode ser factível manipular de forma temporária e seletiva as células microgliais, para alterar as placas amilóides de uma maneira que seja eficaz e tolerável”, ele diz. “No entanto, em vista de que uma inflamação crônica pode ser prejudicial após anos de ataque ofensivo, qualquer intervenção baseada na ativação do sistema imunológico do cérebro deve, claramente, encontrar um ponto de equilíbrio entre os efeitos neuro-protetores e os neuro-tóxicos”, adverte o médico. “Precisamos estudar esse fenômeno mais a fundo e, se estivermos certos, pode trazer implicações não apenas para o tratamento da doença de Alzheimer, mas também para outros distúrbios neuro-degenerativos, caracterizados pela formação de proteínas no cérebro, tais como a doença de Parkinson”, afirma.
O estudo foi financiado por verbas da Fundação Americana de Assistência à Saúde (AHAF), da Clínica Mayo e dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos.
Para mais informações sobre tratamento da doença de Alzheimer e outros distúrbios neurodegenerativos na Clínica Mayo em Jacksonville, Flórida, contate o departamento de Serviços Internacionais pelo telefone 1-904-953-7000 ou envie um e-mail para [email protected].