A vacina contra Hepatite A é indicada para todas as idades a partir de 1 ano de vida. Mesmo após o contato com o vírus, chance de acerto é de 80%. Para diminuir índice de prevalência da doença, especialista diz que são necessárias medidas para melhorar as condições sanitárias básicas, além de campanhas educativas.
O surto de Hepatite A em algumas regiões de Goiás próximas ao Distrito Federal, como na cidade de Luziânia, poderia ser controlado no curto prazo com a vacinação universal das crianças da região. Essa é a opinião da médica Mônica Álvares da Silva, especialista em pediatria, imunologia e alergia, diretora da SBIm/DF (Associação Brasileira de Imunizações – Regional Distrito Federal) e diretora médica da Clínica de Vacinas Imunocentro.
“Para o recente surto de Hepatite A no entorno do Distrito Federal, o ideal é que se faça a vacinação universal da população daquelas regiões. A vacina, apesar de não fazer parte do calendário de rotina de toda a população brasileira, é padronizada pelo Ministério da Saúde para situações de alto risco, como é o caso de Luziânia”, explica a especialista.
A vacina contra Hepatite A é indicada para pessoas com mais de um ano de vida. “É segura e efetiva e confere proteção de longa duração. Além disso, após a vacinação, existe rápida produção de altos títulos de anticorpos protetores, permitindo o controle de surtos da doença”.
O Distrito Federal, por sua vez, conta atualmente com diversos “bolsões de Hepatite A”, como na região de Estrutural, Arapuã, Planaltina, Santa Maria, Riacho Fundo, entre outras áreas. A explicação para isso é a convivência lado-a-lado de regiões de alta e baixa endemicidades. Muitas pessoas, por exemplo, trabalham nas regiões de baixa endemicidade e residem naquelas de alta endemicidade, levando a doença para dentro das casas de famílias, escolas, restaurantes e lanchonetes.
Para a diretora médica do Imunocentro, o fato de a população estar vulnerável à Hepatite A contribui para que pessoas em idades mais avançadas da vida acabem contraindo a doença e desenvolvendo-a de forma grave, com maior índice de complicações. “Isto nos mostra a grande importância de se indicar a vacina a toda a população susceptível, sendo ideal a vacinação universal das crianças brasileiras”. A especialista faz outro alerta: caso a pessoa não tenha se vacinado e tenha contato com o vírus, deve receber a vacina o mais precocemente possível, pois ainda é possível conseguir a proteção contra o vírus.
A experiência clínica de diversos casos no mundo, e que fazem parte da literatura médica, mostra a vantagem em se vacinar uma pessoa mesmo após ter tido contato com o vírus. “Trata-se de uma doença que possui um longo período de incubação (pode chegar a 50 dias). Como a resposta na produção de anticorpos induzida pela vacina é muito rápida, muitas vezes há tempo hábil destes anticorpos impedirem que a doença venha a se manifestar. No entanto, há casos em que a pessoa acaba desenvolvendo a doença, mesmo após a vacinação”.
De acordo com o novo Manual do Ministério da Saúde, a vacina deve ser aplicada até oito dias após o contato com o vírus, com uma chance de acerto de 80%. A vacina contra Hepatite A é indicada para pessoas de todas as faixas etárias, a partir de 1 ano de idade, desde que não tenham desenvolvido a doença. São necessárias duas doses, com um intervalo mínimo de seis meses entre elas, não havendo necessidade de reforço posterior. Ocasionalmente, podem ocorrer reações adversas, geralmente de leve intensidade e transitórias. A vacina é contra-indicada para pessoas com histórico de reação anafilática grave a algum componente da vacina.
Doenças X Infraestrutura
A Hepatite A é uma doença que tem relação direta com o poder aquisitivo da população e com as condições sanitárias básicas e de higiene. Não à toa a prevalência de Hepatite A em uma região é utilizada, de forma indireta, como parâmetro para definição de índice de desenvolvimento sócio-econômico da população. No longo prazo, explica a doutora, o controle da doença pode ser conseguido com medidas para a melhoria das condições de infraestrutura, como fornecimento de água potável, tratamento de esgoto e coleta de lixo, além de campanhas educativas sobre medidas básicas de higiene, como lavar as mãos após o uso do banheiro, por exemplo.
Desinformação é um agravante
A Hepatite A é uma doença que atinge um órgão de extrema importância para o nosso organismo, sendo caracterizada pela inflamação do fígado. Apesar de poder manifestar-se de forma benigna, é uma doença que tem uma duração prolongada, com uma média de 30 a 60 dias de sintomas, podendo durar bem mais. É também uma doença que pode ter complicações graves, evoluindo de forma fatal.
A falta de informação sobre a gravidade da Hepatite A, e de suas complicações, é a principal razão para a disseminação da doença. “Uma grande parte da população brasileira desconhece a existência da vacina contra Hepatite A. E, após contraírem a doença, queixa-se de nunca ter sido orientada por seus médicos a receber a vacina”, afirma a Mônica Álvares da Silva.
Segundo Lucia Bricks, diretora médica da Sanofi Pasteur, divisão de vacinas da Sanofi Aventis, a Hepatite A é responsável por até 40% dos casos de transplante de fígado em crianças menores de 15 anos no sul do País e, mesmo entre as famílias de alta renda, ainda existe muita desinformação sobre os riscos da doença e benefícios da vacinação. “A experiência de países onde a vacina foi introduzida no calendário de rotina mostrou que em menos de dois anos, existe beneficio não apenas para as crianças vacinadas, mas para toda a comunidade”, conta Lucia Bricks.
Para ela, a maior preocupação dos profissionais da área da Saúde em relação à Hepatite A é controlar a doença e mudar o quadro que hoje existe de elevada prevalência na população. “É preciso uma série de ações em diversas frentes, desde a melhoria das condições sanitárias básicas da população, até a promoção de campanhas educativas de amplo alcance na mídia, nas escolas, restaurantes e lanchonetes, órgãos públicos e empresas privadas. A melhor medida é sempre a prevenção da doença. No caso da Hepatite A, é preciso adotar a vacinação universal da criança brasileira, conforme orientação da OMS para países com realidade semelhante à nossa”.