A nossa sociedade está cada vez mais consumista. Quando nos aproximamos de datas como o Natal, por exemplo, é possível perceber como estamos contagiados pelo consumo. E, mesmo longe de datas que nos estimulam a comprar, não é difícil achar pessoas comprometendo seu dinheiro em crediários a perder de vista. Entre elas, há muitos pais e mães, que acabam passando o consumo inconseqüente como um exemplo a ser seguido pelos filhos. Por vezes culpam-se, inclusive, por não dar tudo aquilo que o filho quer.
Há quem tente suprir a carência dos filhos com bens materiais, apesar de, na verdade, ela ser simplesmente conseqüência da falta de companhia dos pais. “Como não é necessariamente um presente de que a criança necessita – e sim de amor e atenção -, o sentimento de satisfação nunca se completa, ficando apenas no nível da superficialidade”, explica a psicóloga Maria Rocha, do Colégio Infantil Ápice de São Paulo. “Certas pessoas desejam possuir coisas com muita intensidade, mas basta conquistá-las para que o interesse se perca. Se uma criança tem muitas demandas materiais e demonstra muitas vezes desinteresse ao adquiri-las, pode ser um sinal de carência”.
Para Ana Cássia Maturano, psicóloga clínica em São Paulo e especialista em atendimento infantil, “as pessoas se esquecem de que nunca será possível ter tudo, havendo sempre um limite para a realização de nossos desejos. É preciso cuidado com o que se dá aos filhos. Não é um problema presenteá-los de vez em quando, mas devem-se evitar radicalismos. É fundamental deixar claro o que se pode e o que não se pode adquirir”.
Uma situação muito comum, diante da qual muitas mães não sabem como agir, segundo Maria Rocha, é levar as crianças em uma loja de brinquedos. “Certamente elas vão se interessar por quase tudo, mas isso não é motivo para brigas e repreensões nem, por outro lado, para se sentir culpado por não poder oferecer a loja toda”. O ideal, segundo a especialista, “é reconhecer o desejo da criança e restringir a escolha, explicando-lhe as condições, num conjunto bastante reduzido de possibilidades e dentro daquilo que os pais acharem adequado para sua idade e perfil”. Ana Cássia complementa: “Geralmente, essa possibilidade de escolha não deve ultrapassar quatro ou cinco itens, pois oferecer o que quiser da loja pode deixar os pequenos muito confusos”.
O mesmo vale para roupas, segundo as duas especialistas. “Algumas crianças são bastante vaidosas e querem escolher suas próprias vestes”, diz Maria. “Não há problema algum em deixar que façam esse tipo de escolha, desde que optem por itens adequados para sua idade, para o bolso dos pais e que haja real necessidade da compra”, complementa Ana Cássia.
Colocar esses pequenos limites só contribui para o desenvolvimento da criança, que perceberão aquilo que podem ou não ter, darão mais valor àquilo que tem e dificilmente terão grandes frustrações futuras, quando se depararem com o mundo real, onde de fato não se pode ter tudo.
Ana Cássia Maturano
Colégio Ápice de Educação Infantil