Enquanto os estudos sobre a relação da dieta e a prevenção da degeneração macular avançam, a forma mais efetiva de prevenir a doença continua sendo o exame oftalmológico de rotina
Uma pesquisa americana publicada recentemente no British Journal of Ophthalmology sugere que pessoas que sofrem de degeneração macular relacionada à idade (DMRI) devem seguir dietas ricas em ômega 3 e em alimentos com baixo índice glicêmico. Os pesquisadores basearam suas descobertas em exames feitos em quase 3 mil pessoas. O avanço de duas formas da doença, seca e úmida, foi 25% menor entre os que consumiram uma dieta rica em ácidos graxos, como o Ômega 3.
De acordo com o estudo, os ácidos graxos – encontrados em abundância em peixes como salmão e cavalinha – podem desacelerar ou até mesmo frear o progresso da doença. A pesquisa também revelou que pessoas que estavam no estágio mais avançado da doença e que seguiam uma dieta de baixo índice glicêmico – de alimentos que liberam açúcar mais lentamente – acompanhada de suplementos de vitaminas e minerais antioxidantes, como vitamina C e zinco, parecem ter reduzido o risco do avanço da degeneração em até 50%.
Estudos anteriores também já apontaram que a prevenção da doença está relacionada à ingestão de zinco e antioxidantes, juntamente com a redução da ingestão de gorduras. Agora, a nova pesquisa concluiu que a suplementação é ainda mais efetiva quando associada à ingestão de alimentos que são fonte de Ômega 3 e que têm baixo índice glicêmico.
Ainda que não haja uma única causa conhecida para a origem da doença, sabemos que a idade é o principal desencadeador do problema e que existem outros facilitadores para o aparecimento da degeneração macular, como por exemplo, o excesso de colesterol no sangue. A exposição à luz solar também pode desencadear a oxidação na mácula, por ocasionar morte celular na região e degenerá-la. Por isso, deve-se, sempre, usar óculos de sol com proteção contra os raios UV-A e UV-B que possam lesionar a retina.
Fumantes também têm mais propensão à doença, pois o cigarro acelera a oxidação do organismo e favorece a formação de drusas – acúmulos de substâncias tóxicas nas camadas mais profundas da retina. “As drusas são fortes indicativos de que há propensão para o surgimento da degeneração macular e mostram que o metabolismo está envelhecendo e não tem mais condições de eliminar as substâncias que produz”, diz o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Enquanto os estudos sobre a relação da dieta e a prevenção da degeneração macular avançam, a forma mais efetiva de prevenir a doença ainda é o exame oftalmológico de rotina, que deve ser feito anualmente, onde o oftalmologista pode solicitar exames complementares, como a angiofluoresceinografia e a tomografia de coerência óptica (OCT). “Precisamos também de campanhas para a educação dos pacientes, especialmente os idosos, sobre a existência da doença. É preciso envolver o oftalmologista generalista e o paciente, visando capacitá-los a realizar a detecção precoce da DMRI, quando as chances de melhora da visão e o controle da doença são maiores. São necessárias também ações educativas após o diagnóstico da doença, para que o paciente faça o tratamento adequadamente”, destaca o diretor do IMO.
Desafios no tratamento da doença
A degeneração macular relacionada à idade atinge especialmente pessoas com mais de 60 anos e pode levar à cegueira se não for tratada. Estima-se que aproximadamente 10% das pessoas entre 65 e 74 anos e cerca de 30% das com mais de 75 anos tenham a doença no mundo. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, 2,9 milhões de pessoas com mais de 65 anos sofrem com o problema no Brasil.
A DMRI atinge a mácula, a área nobre e central da retina, responsável por enxergarmos os detalhes e as cores. Com o envelhecimento, a região recebe menos oxigênio e, para compensar essa deficiência, os vasos sangüíneos começam a se reproduzirem descontroladamente. “Eles se rompem e causam uma mancha que prejudica a visão”, explicao oftalmologista Maurício Pinheiro, especialista em retina que integra o corpo clínico do IMO,ao falar de uma das formas da doença – a forma úmida ou exsudativa. Já em sua forma seca, a mácula se degenera – também pela falta de oxigênio – e forma uma cicatriz, que causa perda da visão central.
Atualmente, existem tratamentos somente para a forma úmida, que atinge a menor parcela dos pacientes, cerca de 10% dos que têm a mácula degenerada. “A forma seca interfere menos na acuidade visual e ocorre mais lentamente, mas deve ser diagnosticada o quanto antes porque não tem cura”, alerta o médico.
“O tratamento da DMRI já passou por várias fases, incluindo a fotocoagulação a laser, a remoção cirúrgica da neovascularização, a translocação macular, a terapia fotodinâmica (TFD) com verteporfina (Visudyne) e, atualmente, a injeção intravítrea de antiangiogênicos”, explica o oftalmologista Maurício Pinheiro.
Segundo o médico, o tratamento da DMRI exsudativa com injeções intravítreas de ranibizumabrepresenta a melhor alternativa terapêutica disponível. São muitos os estudos multicêntricos que destacam seus resultados. “Após anos e anos de evolução no tratamento da degeneração macular, esta é a primeira vez que o paciente tem um ganho real de visão. A ressalva em relação ao tratamento concentra-se no seu alto custo. O uso de injeções mensais representa um impacto financeiro na vida dos pacientes. Após as três primeiras aplicações mensais, o paciente é monitorado, submetido a um OCT, e, após uma avaliação de sua acuidade visual poderá ter que tomar outras injeções, como reforço para controlar a doença”, afirma Maurício Pinheiro.