A disfunção erétil – ou impotência sexual, como é popularmente conhecida — tem assombrado o público masculino provavelmente desde os tempos dos homens de Neandertal, aqueles que viviam em cavernas. Um estudo iniciado em 2007 e concluído recentemente revela que os problemas de impotência estão fortemente associados aos distúrbios do sono. Na conclusão de sua pesquisa, a Drª Monica Levy Andersen revela que a apneia é um dos maiores riscos para a disfunção erétil, e que na cidade de São Paulo, a quinta maior metrópole do mundo, ela atinge mais de 1.700.000 homens.
A pesquisa conduzida por ela traz, além deste número surpreendente, inovação. Ao contrário das anteriores – realizadas apenas por meio de questionários -, ela foi desenvolvida in loco, no laboratório. O trabalho pioneiro com os pacientes fez com que a Drª Andersen recebesse o prêmio de US$ 20 mil da L’Oreal Unesco para Mulheres na Ciência. Em março deste ano, a cientista apresentou o estudo que vincula a disfunção erétil aos problemas com o sono irregular no 29º Congresso Anual de Apneia do Sono, na Coreia. Ao exibir sua pesquisa no evento realizado pela Sociedade Coreana de Medicina do Sono, a cientista teve a oportunidade de mostrar a seus pares um trabalho que é diferente dos outros principalmente pelo ineditismo da metodologia.
Outros estudos já concluíram que o problema pode ter sua causa em variáveis que passam pela diabetes, a baixa taxa de testosterona ou em um acidente vascular cerebral. “Ao levar as pessoas para dentro do laboratório tivemos a chance de fazer uma análise completa, com exames de sangue, hormonais, otorrinolaringológicos, além de aplicar os habituais questionários com perguntas relativas à rotina dessas pessoas. É a primeira vez que se faz um estudo monitorando de tão perto o padrão do sono”, explica a Drª Andersen, de 35 anos, que nasceu em Anápolis, Goiás, e mora em São Paulo.
Foi no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) que ela deu início ao estudo que relaciona a prevalência da disfunção erétil às disfunções do sono. A pesquisa da Drª Andersen faz parte do Episono – estudo populacional sobre distúrbios do sono e seus fatores de risco na cidade de São Paulo. A cidade foi escolhida por ser uma das maiores do mundo, atualmente com mais de dez milhões de habitantes. O Episono foi aplicado em 1.042 pessoas, recrutadas após levantamento do Datafolha, que contou com a colaboração de dois estatísticos, ambos professores universitários.
Dos recrutados, foram escolhidos 467 homens, com idade entre 20 e 80 anos, para aplicar a pesquisa. Destes, 17% apresentaram disfunção erétil, número este representativo da cidade de São Paulo, segundo Monica Andersen. “Eles foram apanhados nas suas residências duas horas antes de seus horários habituais de sono. No laboratório, receberam uma refeição leve e foram submetidos a questionários e polissonografias. No dia seguinte, fizeram diversos exames”, conta a cientista. Segundo ela, o questionário continha perguntas como: “O seu desejo ou interesse sexual é menor do que antes?”, “Você é capaz de manter uma ereção tempo o bastante para ter relações sexuais?”, “Você dorme melhor após ter mantido relações sexuais?”, entre outras abordagens que procuravam saber do próprio paciente a ordem dos problemas sexuais que poderiam estar relacionados com os distúrbios do sono.
Na pesquisa geral, a do Episono, que inclui homens e mulheres, a conclusão é de que 32,8% da cidade de São Paulo sofre de apneia do sono. Na pesquisa da Drª Andersen, restrita aos homens por estar relacionada à impotência sexual, concluiu-se que os voluntários com idade entre 20 e 30 anos tinham problemas irrelevantes em termos percentuais. Mas 12% dos homens na casa dos 40 aos 49 anos apresentavam disfunção erétil; 22% dos que ficavam entre 50 a 59 anos, também. E o número aumentava entre os mais velhos: acima dos 60 anos, 63% tinham o problema. A razão de tudo: a disfunção erétil, normalmente relacionada a inúmeros fatores, tinha sua origem em uma noite mal dormida causada pela apneia, a parada respiratória que ocorre durante os vários ciclos do sono.
De acordo com a Drª Monica Levy Andersen, a investigação sobre o impacto da privação de sono sobre o comportamento sexual poderá oferecer um maior entendimento sobre essa interação, seus mecanismos, além de poder contribuir para uma melhor resposta ao tratamento. Para ela, os apelos do mundo moderno, como a internet, as dezenas de canais a cabo entre outros entretenimentos também colaboram para uma alteração na qualidade de uma noite bem dormida. “Somos uma sociedade privada do sono”, alerta a cientista.
Sobre o L”Oréal/Unesco Para Mulheres na Ciência
O Programa L”Oréal/Unesco Para Mulheres na CIência foi lançado em 1998, fruto de uma parceria entre o Grupo L”Oréal e as Organizações das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A iniciativa é dividida em duas premiações: uma que distingue anualmente, com uma bolsa-auxílio Grant (US$ 100 mil), cinco notáveis cientistas, uma por continente; e a outra, que destaca em mais de 40 países sete pesquisadoras em cada um deles. Todas recebem o prêmio de US$ 20 mil.
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