Estudos mostram que a chance para acidentes automobilísticos é duas vezes maior com motoristas que sofrem de apneia obstrutiva do sono. O distúrbio acomete de 2% a 4% da população saudável. Nos portadores de doenças cardíacas, a prevalência pode chegar a até 30%.
A apneia provoca sonolência durante o dia, alteração de memória e comprometimento do sistema cardiovascular, com o possível desenvolvimento de hipertensão arterial. “Como a pessoa dorme muito mal, acordando diversas vezes ao longo da noite para poder respirar, sente muito cansaço no dia seguinte e o grande risco é acabar cochilando no volante”, alerta a dra. Marília Cabral, pneumologista da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e médica do Pronto-Socorro Cardiológico de Pernambuco.
Para tratar, o paciente precisa perder peso e resolver a obstrução nasal ou, nos quadros moderados e graves, usar, durante o sono, uma máscara nasal conectada a um compressor de ar, que gera pressão para abrir a via aérea.
“Apesar dos riscos em seguir com o distúrbio e da certeza dos benefícios do tratamento, a não adesão oscila entre 30% e 80% das pessoas que diagnosticam o problema. Muitos acham incômodo ter de usar o equipamento para dormir. Além disso, o custo de cerca de R$ 1.000,00 torna o dispositivo inviável para a maioria, já que não é coberto pelo SUS”, afirma a dra. Marília.
Mas segundo a especialista, o aparelho já é fornecido por algumas secretarias de saúde estaduais. Ainda assim, ainda não há uma quantidade suficiente.
Legislação para os motoristas
Desde fevereiro de 2008, o motorista que renovar, adicionar ou mudar sua carteira de habilitação para as categorias C (caminhões pequenos), D (vans e peruas) e E (ônibus e caminhões de grande porte) tem de passar por uma avaliação que identifica os motoristas com maior risco para a apneia.
“A relação de acidentes automobilísticos ocorre não apenas com a apnéia obstrutiva do sono, mas também com outros distúrbios do sono, como insônia e narcolepsia, os quais podem provocar fadiga ou sonolência incapacitante e, assim, provocar acidentes”, afirma a dra. Marília. Além disso, a regra exclui as outras categorias de condutores, também suscetíveis à doença.
A avaliação médica envolve pesquisa dos sintomas específicos, como ronco constante, engasgos e sonolência diurna, e busca por evidências físicas como obesidade, hipertensão, pescoço largo, entre outros. Se for identificado um risco alto para a doença, é feito um encaminhamento para a avaliação médica específica e a polissonografia, exame que registra as atividades cerebrais e respiratórias durante o sono.