Uso prolongado responde por 45% das complicações oculares. Por falta de orientação médica, usuários de lentes de contato cosméticas são os mais atingidos.
Quem quer trocar a cor dos olhos encontra mais de um milhão de ofertas nos sites de busca da Internet. Mas ficar com os olhos claros pode significar risco de cegueira. Este foi o caso do adolescente de Marília, interior de São Paulo, que perdeu a visão do olho esquerdo nesta quarta-feira, dia 9, depois de dormir com lentes coloridas. Um estudo conduzido pelo oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, mostra que 2 em cada 10 brasileiros que usam lente de contato têm complicações na córnea. O uso prolongado responde por 45% das lesões, alergia por 35% e manutenção incorreta por 20%. Desde setembro tramita na Câmara Federal parecer do CFM (Conselho Federal de Medicina) para que a indicação, adaptação e prescrição de lentes de contato sejam feitas exclusivamente por oftalmologistas, mas até agora o procedimento não é regulamentado. De acordo com Queiroz Neto as complicações oculares atingem mais quem compra lentes em farmácias ou óticas sem prescrição médica. Isso porque, explica, para evitar ferimentos na córnea é necessário analisar a curvatura e relevo da córnea, avaliar o filme lacrimal, fazer exames de refração e fundo de olho, além de utilizar lentes para teste. Significa que nem toda pessoa pode usar lente de contato. Quem tem baixa produção lacrimal ou doenças alérgicas pode não ter uma boa adaptação, exemplifica. “O problema é que por serem gelatinosas as lentes cosméticas dificilmente provocam desconforto. Isso faz muitos adolescentes acreditarem que dá para dormir com elas. Mesmo as indicadas para uso noturno devem ser retiradas dos olhos antes de dormir porque à noite a produção da lágrima é menor”, afirma. Dormir com lentes de contato ou usar além do tempo prescrito reduz a oxigenação da córnea. Isso aumenta em até dez vezes a chance de contrair contaminação da por bactérias que podem levar à ulcera corneana e consequentemente à cegueira.
Outro erro comum apontado por Queiroz Neto é lavar a lente e o estojo com soro fisiológico, invés de usar as soluções multiuso indicadas para a boa higienização. Isso porque, comenta, o soro fisiológico não contém conservantes e por isso se torna um campo fértil para a proliferação de bactérias e fungos.
As principais recomendações para quem quer trocar a cor dos olhos ou substituir os óculos de grau por lentes são:
- Fazer a adaptação com um oftalmologista.
- Lavar cuidadosamente as mãos antes de manipular as lentes.
- Utilizar soluções multiuso tanto na limpeza quanto no enxágüe das lentes e estojo.
- Friccionar as lentes para eliminar completamente os depósitos
- Não usar soro fisiológico ou água na higienização
- Retirar as lentes antes de remover a maquiagem e quando usar spray no cabelo
- Colocar as lentes sempre antes da maquiagem
- Guardar o estojo em ambiente seco e limpo
- Trocar o estojo a cada quatro meses
- Respeitar o prazo de validade das lentes
- Jamais dormir com lentes, mesmo as liberadas para uso noturno.
- Interromper o uso a qualquer desconforto ocular e procurar o oftalmologista
- Retirar as lentes durante viagens aéreas por mais de três horas
- Não entrar no mar ou piscina usando lentes