Trago Comigo, que tem no elenco Carlos Alberto Riccelli, Emílio Di Biasi, Ligia Cortez e Selma Egrei, traz depoimentos reais de ex-militantes contrários ao regime militar. O projeto Direções, uma parceria da TV Cultura com o SescTV, estreia em 1º de setembro, às 23h10, a minissérie Trago Comigo, de quatro capítulos, dirigida pela cineasta Tata Amaral. Com um enredo emocionante, denso e dramático, a trama mistura ficção e realidade para falar de um tema espinhoso que ainda hoje causa dor e revolta em muita gente, a ditadura militar no Brasil. A obra traça um rico painel do ambiente social e político da época: o impacto do AI-5, as perseguições, as ações das guerrilhas, a vida clandestina dos jovens militantes, a realidade na prisão, as torturas, os traumas, e as mortes.
Tata participa pela primeira vez do Direções, que está em sua terceira temporada na TV Cultura, e conta que todo o conteúdo de Trago Comigo é inédito e exclusivo para a minissérie. “O material é totalmente original. No entanto, desenvolvemos uma história a partir de um dos temas de meu próximo filme Hoje”, conta.
O fio condutor de Trago Comigo é a história de Telmo Marinicov – interpretado de forma arrebatadora por Carlos Alberto Riccelli -, um supervisor de teatros que leva uma vida simples e pacata ao lado de sua jovem namorada, a atriz Mônica (Georgina Castro), mas que durante o período da ditadura foi membro da luta armada, exilado político e, na volta do exílio, nos anos 80, diretor teatral de sucesso.
Logo na primeira cena da minissérie, Telmo aparece dando entrevista para um documentário sobre luta armada e se dá conta de que não se lembra exatamente de tudo o que aconteceu com ele durante os meses que passou na clandestinidade e na prisão. A partir daí, ele começa a busca pela sua verdadeira história na luta contra a ditadura.
Dialogam diretamente com a ação da trama depoimentos reais e marcantes de ex-militantes contrários ao regime como o de Criméia Alice Schmidt de Almeida, guerrilheira do Araguaia: “Eu apanhei muito e apanhei do comandante”, diz ela. “Ele foi o primeiro a me torturar e me espancou até eu perder a consciência, sendo que eu era uma gestante bem barriguda. Eu tava no sétimo mês de gravidez”.
Ivan Seixas, jornalista, membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos relembra que colocaram sua mãe embaixo da sala de tortura. “Ela ouviu a noite inteira, o dia inteiro, o meu pai sendo torturado até morrer.”
Os depoimentos revelam ainda a angústia dos ex-militantes torturados pela ditadura militar em busca da verdade. “O direito à memória e à verdade é um princípio da democracia”, comenta o deputado federal José Genoíno, que também aparece em Trago Comigo.
No elenco afinado, a minissérie de Tata Amaral reúne atores já conhecidos do grande público e também da nova safra da dramaturgia brasileira: Emílio Di Biasi (Lopes), Selma Egrei (Madalena), participação especial de Ligia Cortez (crítica de teatro), Felipe Rocha (Miguel), Georgina Castro (Mônica), Julio Machado (Marcelo), Maria Helena Chira (Julia), Pedro Lemos (Pedro), Paula Pretta (Nina) e Gustavo Brandão (Betão).
A Diretora
Uma das mais bem sucedidas cineastas brasileiras surgidas na década de 80, Tata dirigiu o premiado Um Céu de Estrelas (1996), considerado pela crítica um dos filmes brasileiros mais importantes da década. O longa foi vencedor nos festivais de Brasília, Boston, Trieste, Créteil e Havana. A cineasta é também diretora de Antônia (2006), que gerou a série de mesmo nome produzida pela Rede Globo, exibida em 2006 e indicada ao Prêmio Emmy em 2007.
Encontro de linguagens
Com boa receptividade do público e reconhecimento da crítica em suas duas fases anteriores, Direções – projeto da TV Cultura em parceira com o SescTV, dá um novo passo, reunindo cineastas e encenadores para experimentar novas abordagens em teledramaturgia.
Nesta terceira temporada foram convidados três premiados cineastas – Beto Brant, Eliane Caffé e Tata Amaral – e três diretores de teatro que mais se destacaram nas edições anteriores: Rodolfo García Vázques, Maucir Campanholi, e André Garolli.
Cada diretor teve total liberdade e participou integralmente do projeto, desde a criação, adaptação do texto até a sua finalização na edição. Ao todo, o público vai poder conferir seis belíssimas séries inéditas – com gêneros e estilos diferentes -, divididas em 24 episódios.