Publicações internacionais e estudos apresentados em Congresso Brasileiro trazem nova esperança a pacientes portadores do vírus da hepatite C. No País, doença ainda é subdiagnosticada. Ao longo dos últimos anos, muitos avanços mostraram que a cura para a hepatite C, uma doença que atinge mais de 3 milhões de brasileiros, é possível. A próxima edição da revista médica Gastroenterology traz os resultados de um estudo que reforça justamente este avanço na luta contra a doença e renova as esperanças dos pacientes com o vírus HCV.
Realizado em Milão, na Itália, com cerca de 450 pacientes, o estudo MIST (Milan Safety Tolerability Study) avaliou taxas de cura de pacientes com diferentes tipos de hepatite C e comparou a eficácia dos tratamentos disponíveis atualmente – os interferons peguilados – Pegasys (peginterferon alfa-2a) e PegIntron (alfapeginterferona 2b).
Resultados do MIST mostram que a chance de cura pode chegar a 66% nos pacientes analisados. Além disso, o estudo comprovou que pessoas com cirrose também apresentaram taxas de cura próximas a 50%, consideradas altas.
Ao comparar os dois interferons peguilados disponíveis para o tratamento da doença, o MIST concluiu que o tratamento com o interferon peguilado alfa 2a é superior ao alfapeginterferona 2b. Os dois medicamentos são injetáveis e representam uma evolução do interferon convencional, com uma dose semanal e mais eficácia no tratamento da doença.
Estudos brasileiros
No Brasil, os medicamentos para tratamento da hepatite C estão disponíveis e as taxas de cura também são significativas. Hepatologistas, gastroenterologistas e outros especialistas de todo o País se reuniram na última semana para o Congresso Brasileiro de Hepatologia, em Gramado (RS). O evento apresentou estudos em torno das terapias e perspectivas de cura para a hepatite crônica C.
Em Minas Gerais, um estudo do Ambulatório de Hepatites Virais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encontrou taxas satisfatórias de cura clínica da hepatite C – cerca de 54% dos pacientes tratados com Pegasys (peginterferon alfa-2a) alcançaram resposta e 35,8% das pessoas que receberam PegIntron (alfapeginterferona 2b). Em São Paulo, o especialista Hoel Sette também identificou respostas satisfatórias. Um de seus estudos alcançou resultados de mais de 60% de taxa de cura com Pegasys (peginterferon alfa-2a). O Congresso trouxe também resultados de estudos com novos medicamentos que podem elevar a chance de cura da hepatite C para mais de 75%.
“Os resultados são uma boa notícia para os pacientes com o vírus. No entanto, o tratamento da doença esbarra em um fator ainda mais importante – a subnotificação de novos casos”, explica o especialista Dr. Hoel Sette, dono de um dos estudos sobre o tratamento da hepatite C. De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, cerca de 3 milhões de brasileiros estão infectados com o vírus e não sabem de sua situação. Sem o diagnóstico, as chances de resposta podem diminuir com a progressão da doença.
Sobre a Hepatite C
A hepatite C atinge cerca de 180 milhões de indivíduos em todo o mundo e pode ser fatal se não for diagnosticada e tratada precocemente. Como age de maneira silenciosa, sem apresentar sintomas, cerca de 90% dos infectados não sabem que estão com a doença.
A enfermidade pode evoluir para quadros graves, como cirrose ou câncer, sem que o paciente perceba o risco que ela representa para sua saúde e isso a torna a principal causa de transplante de fígado no país.
De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, cerca de 3 milhões de brasileiros podem estar infectados pelo vírus da hepatite C, ou seja, 1,5% da população. As estatísticas também mostram que a hepatite C infecta hoje cinco vezes mais brasileiros que a Aids.