Apesar de ainda não ter sido oficialmente confirmada para 2009, a captura experimental e controlada de jacarés no Amazonas pode trazer avanços práticos e científicos para o estado, em comparação aos anos anteriores em que a atividade foi realizada.
Segundo a gerente de apoio à utilização de animais silvestres do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam), Sônia Canto, a evolução da captura controlada de jacarés depende do avanço das pesquisas que fundamentem a exploração desse recurso, aliada à superação de obstáculos relativos à comercialização da carne e da pele dos animais.
A experiência acumulada com a captura experimental, já realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, a cerca de 525 quilômetros a oeste de Manaus, deve contribuir e, no futuro, a atividade pode ser uma das mais importantes alternativas de renda para os moradores da reserva, avalia Sônia. Segundo ela, o objetivo do governo estadual é ampliar a atividade, agregando valor à cadeia produtiva, sem deixar de valorizar a conservação da espécie na natureza.
“Para poder ter no Amazonas a expansão dessa atividade, temos que avançar nas metodologias para monitoramento, captura e processamento da espécie. Isso vai garantir a obtenção de qualidade sanitária necessária para ampliar a comercialização do produto no mercado local”, acrescentou Sônia.
Uma lei federal proibiu a captura de jacarés desde o fim da década de 70 no país. Contudo, a atividade no Amazonas é realizada de forma experimental desde 2004, por meio de um projeto piloto do governo estadual, na Reserva Mamirauá. O projeto tem autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Desde então, três capturas experimentais de jacarés já foram realizadas. Na primeira delas, em 2004, foram abatidos 60 animais. Já na segunda, em 2006, 250 jacarés foram capturados. Em 2008, entre os dias 16 e 22 de dezembro, foram abatidos 253 jacarés da espécie açu. Desse total, foram aproveitadas 226 peles e 203 carcaças. Aproximadamente 90 moradores da comunidade São Raimundo do Jarauá participaram da última captura, em Mamirauá.
O Instituto Mamirauá – organização social supervisionada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, que compartilha a gestão da reserva ambiental com o governo do Amazonas – presta assessoria às comunidades envolvidas no projeto, fornecendo dados técnicos e científicos a respeito da espécie e das possibilidades de manejo.
O governo estadual faze estudos e outros processos relativos à cadeia produtiva. Na reserva de Mamirauá existem três espécies de jacarés: aguá,tinga e açu. A maior espécie brasileira de jacaré é a açu e, por isso, foi escolhida para o manejo por apresentar maior valor comercial. O jacaré-açu é reconhecido pelos ribeirinhos por ter a cabeça e cumprimento maior e a pele mais escura que as outras espécies. Estima-se que um jacaré-açu possa viver até 60 anos, pesar 500 quilos e medir até 6 metros de cumprimento.
A presença dos jacarés em Mamirauá é marcante. Segundo o pesquisador do Programa de Manejo e Conservação de Jacarés do Instituto Mamirauá, Robinson Botero-Arias, há locais na reserva com concentração de até cem jacarés por quilômetro. Para Arias, o manejo de jacarés pode garantir o bem-estar dos ribeirinhos e também das espécies, já que os pesquisadores que acompanham a captura estabeleceram regras diversas para não prejudicar a conservação da espécie, como não abater jacarés próximos aos ninhos e evitar a morte de fêmeas.
“Os ribeirinhos são os principais beneficiados pela implantação do manejo, porque a atividade pode se transformar na principal alternativa econômica deles. A espécie também ganha porque, se tudo for feito da forma correta, com base nos princípios técnico-científicos adequados, o manejo de jacaré estará associado a estratégias de conservação da espécie”, disse Arias.
Os animais são capturados à noite e com arpões. Para localizá-los, os pescadores usam lanternas, cujas luzes se refletem nos olhos dos animais e indicam o local onde eles estão. Depois de imobilizados, os jacarés são levados para um barco para que se possa fazer a separação da carne, pele e vísceras e, posteriormente, o resfriamento do que será vendido.
Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil