Ao menos 10% dos modelos que desfilarão no São Paulo Fashion Week (SPFW) – maior evento de moda do país – serão negros, afrodescendentes ou indígenas. A cota foi estabelecida por um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado ontem (20) entre o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a empresa Luminosidade Marketing & Produções Ltda., organizadora do evento, marcado para acontecer entre os dias 17 e 22 de junho.
Um inquérito civil instaurado pelo Grupo de Atuação Especial de Inclusão Social (GAEIS) do Ministério Público apontou um baixo número de negros e indígenas entre os modelos participantes do evento. Por essa constatação, o MP sugeriu o estabelecimento da medida como forma de inclusão social.
Segundo o acordo, caso a temática dos desfiles não se encaixe com a porcentagem mínima de negros e indígenas, as grifes poderão apresentar as justificativas ao MP, que analisará os casos. O termo prevê multa de R$ 250 mil em caso de descumprimento das cláusulas do acordo pela São Paulo Fashion Week.
Para Helder Dias Araújo, diretor da HDA Models, agência especializada em modelos negros, a medida é necessária, apesar de ressaltar que “gostaria que não houvesse essa necessidade de a Justiça impor para uma entidade a contratação de negros”.
Na opinião de Araújo, a falta de negros nas passarelas não se deve somente ao preconceito. O problema ocorre porque os estilistas preferem copiar fórmulas de sucesso do exterior, em vez de criarem com base nas características tipicamente brasileiras, como a diversidade racial.
Ele ressalta que ação do Ministério Público é importante para gerar uma reflexão sobre a questão da exclusão dos negros como público-alvo da moda.
Por meio de nota, a organização do SPFW declarou que “acredita ser fundamental o apoio à inclusão social dos diversos tipos étnicos presentes na população brasileira, dentro de um processo sociocultural com reflexos históricos". "Como evento de repercussão internacional, revelou várias modelos, que fazem sucesso por uma característica de nosso país: a mestiçagem, fruto de nossa diversidade, que faz do Brasil um celeiro reconhecido de belezas únicas”, diz a nota.
Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil