Agência FAPESP – A dengue é não apenas um dos principais problemas de saúde pública do Brasil, mas também do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 50 e 100 milhões de pessoas são infectadas a cada ano em mais de 100 países, com cerca de 20 mil mortes.
Não há medicamentos específicos e os únicos tratamentos recomendados para a doença são a ingestão de líquidos, repouso e antitérmicos não-esteróides para a febre. Mas uma boa notícia vem de um estudo publicado na edição desta quinta-feira (23/4) da revista Nature, que identificou fatores importantes para a infecção do vírus.
Um grupo de cientistas nos Estados Unidos descobriu componentes celulares em mosquitos Aedes aegypti e em humanos que o vírus da dengue usa para poder se multiplicar após infectar os hospedeiros. São dezenas de proteínas das quais o vírus depende para o seu desenvolvimento.
Segundo o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas do governo norte-americano, que financiou a pesquisa, a descoberta de tais alvos pode levar ao desenvolvimento de drogas capazes de inibir um ou mais desses componentes, barrando a infecção e o desenvolvimento da doença.
Todos os vírus cooptam partes das células que invadem, mas os cientistas estimam que o vírus da dengue precise de muitos componentes dos hospedeiros, por ter um material genético próprio muito pequeno. Mas até agora poucos desses fatores haviam sido identificados.
Mariano Garcia-Blanco, da Universidade Duke, e colegas usaram um modelo mais conhecido, da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), por suas semelhanças com o mosquito transmissor da dengue e pela disponibilidade de muitas ferramentas para determinar suas funções genéticas.
Os cientistas usaram uma técnica chamada de interferência de RNA para silenciar segmentos do genoma da drosófila e identificar de quais deles o vírus depende para crescer eficientemente. Encontraram 116 fatores genéticos, dos quais apenas cinco haviam sido descritos anteriormente. Dos 116, os pesquisadores verificaram que 42 têm correspondentes em humanos.
Em seguida, os pesquisadores usaram interferência de RNA e mosquitos vivos para testar se, ao silenciar alguns dos fatores, o vírus teria alguma redução na capacidade de infectar o tecido do intestino dos insetos. A resposta foi clara: observaram que o silenciamento reduzia grandemente a capacidade do o vírus se multiplicar no mosquito.
Segundo os autores do estudo, os resultados, embora preliminares, levantam a possibilidade de inibir propositalmente o crescimento do vírus em mosquitos. O que abre o caminho para, por exemplo, desenvolver um spray que possa ser usado não para matar os mosquitos, mas torná-los menos eficientes no transporte do vírus.
Como tais alternativas não atacariam o vírus diretamente, mas sim seu hospedeiro, o vírus teria menos oportunidade de desenvolver resistência a drogas.