Após receber um diagnóstico ruim, como o de câncer, por exemplo, aparecem as fases de recusa, revolta e fúria diante da doença. Além do tratamento pesado com quimioterápicos ou radioterápicos, os pacientes com este prognóstico estão cada vez mais buscando terapias complementares, como: grupos de apoio a outros pacientes, aulas de arteterapia, reiki (energização por meio das mãos), acupuntura, meditação, terapia ortomolecular e também fisioterapia para combater os efeitos da perda de sensibilidade em mãos e pés, provocados pelo tratamento da medicina tradicional. “As terapias complementares devem ser todas muito bem dosadas para não debilitar ainda mais o paciente. São uma extensão vital do tratamento químico e cirúrgico, indispensáveis, em diagnósticos de câncer, por exemplo”, conta o geriatra Eduardo Gomes de Azevedo, adepto da terapia ortomolecular.
O arsenal terapêutico complementar também inclui orientação nutricional e acompanhamento psicológico, quando necessário. É justamente na conjunção dos aspectos biológicos e psicológicos que atuam as terapias complementares, seguindo uma corrente que se intensificou nos últimos anos, especialmente nos EUA. Lá, são 41 universidades com linhas de estudo voltadas a essa nova área que enxerga o tratamento oncológico além do tripé tradicional: cirurgia, quimioterapia e radioterapia. É um modelo que também tem demonstrado eficácia para minimizar os efeitos colaterais. Versões de programas como estes estão presentes em grandes centros de oncologia norte-americanos como o M.D. Anderson, além de universidades como Duke University, Stanford University, Columbia University, Mayo Clinic e Harvard Medical School.
Onde encontrar suporte para a alma
“O tratamento oncológico pode causar complicações agudas e persistentes. Por isso, o paciente vive à sombra da possibilidade de novas doenças. É para este paciente que as terapias complementares podem ser muito valiosas”, explica o médico, diretor da rede de Clínicas Anna Aslan.
Em ambientes acadêmicos nos quais reina a medicina tradicional, as experiências com abordagens que extrapolam o campo médico já estão se tornando comuns e atraindo profissionais de várias áreas. É assim no Instituto de Medicina Comportamental, vinculado ao Departamento de Psicobiologia da Unifesp, onde diversas pesquisas são conduzidas utilizando-se ioga, meditação e outras técnicas de relaxamento.
Como a ortomolecular pode auxiliar
A prática ortomolecular não é milagrosa e não deve ser entendida apenas como um recurso estético, por exemplo, para emagrecimentos ou melhora da pele e da aparência. “A terapia ortomolecular tem uma aplicação individual, que depende de exames e do histórico médico do paciente. Precisamos conhecer seus vícios, seus hábitos alimentares, dentre muitos outros fatores, antes de propor um tratamento”, ressalta o diretor das clínicas Anna Aslan.
Na prática
· Câncer: nestes casos, a terapia ortomolecular apóia o tratamento oncológico convencional, é uma terapia complementar. “A reposição de antioxidantes serve para driblar os efeitos da quimioterapia e da radioterapia, atenuando seus efeitos e ainda preservando o restante do organismo, que fica debilitado com a agressividade do tratamento. Nas sessões de quimio e radio há uma alta produção de radicais livres”, diz o médico.
Radicais livres e nutrientes
Quando bem aplicada, a terapia ortomolecular – ou biomolecular, como também é conhecida – é uma aliada da saúde. “O princípio que norteia a nossa prática prega a diminuição dos radicais livres – os oxidantes – que o corpo produz naturalmente ao longo da vida, mas que, em excesso, promovem o desequilíbrio químico e estão por trás do envelhecimento celular e de inúmeras doenças”, explica Eduardo Gomes.
No Brasil a prática ortomolecular já completou 25 anos, mas o conceito nasceu muito antes. Em 1968, o químico norte-americano, ganhador do Prêmio Nobel por duas vezes, Linus Pauling criou a técnica, baseada na Terapia de Radicais Livres e Envelhecimento, proposta por Denham Harman, pesquisador norte-americano. De lá para cá, muitos estudos mostraram os benefícios do tratamento ortomolecular. AInternational Society for Free Radical Research promove uma série de simpósios, em todo o mundo, a respeito do tema e tem milhares de cientistas associados.
Faz parte da vida oxidar e antioxidar… “O tempo todo o nosso corpo está produzindo radicais livres. Uma parte é usada pelo próprio corpo para se proteger de invasores que causam as infecções. Outra parte, estima-se que 90% dos radicais livres, fica vagando pelo organismo, provocando a oxidação dos tecidos e modificando o núcleo das células. É como se o tecido celular enferrujasse”, explica Eduardo Gomes de Azevedo.
Segundo pesquisas americanas, até os 50 anos, 30% da nossa proteína celular terá sido convertida em lixo oxidativo. Entre os causadores do excesso dessas moléculas estão o tabagismo, a poluição, o estresse, a alimentação inadequada, o esforço físico exagerado e até a exposição a produtos químicos. “Quanto mais uma pessoa fica exposta a esses agentes, maior é a quantidade de radicais livres que ela acumula no corpo e maiores os riscos de ficar doente. Por outro lado, hábitos saudáveis, abandono dos vícios e uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes essenciais funcionam como agentes antioxidantes, diminuindo a quantidade de radicais livres”, explica Gomes.