Dois fenômenos climáticos fizeram com que o outono registrasse situações bastante distintas. Nas Regiões Norte e Nordeste, por exemplo, a estação teve a maior incidência de chuvas dos últimos 25 anos. Já as Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste passaram pelo inverso: uma grande estiagem, que no Rio Grande do Sul foi considerada a mais grave dos últimos 80 anos.
No Norte e no Nordeste, a grande responsável pelas chuvas foi uma área de instabilidade conhecida como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). A ZCIT é uma área de chuvas fortes que ocorre nas proximidades da linha do Equador. Este ano, a ZCIT registrou uma particularidade que intensificou a atuação do sistema: a diferença entre as temperaturas das águas do Oceano Atlântico. Nesta época, as águas do Atlântico Norte são mais frias, enquanto as do Atlântico Sul são mais quentes, mas no último outono, ambas registraram oscilações acentuadas. Essas divergências favoreceram a migração da ZCIT pelo Brasil e pelo Hemisfério Sul, aumentando o volume das chuvas.
A estiagem que atingiu o centro e o sul do País até meados de maio esteve associada, entre outros fatores, à atuação do La Niña, fenômeno que se caracteriza pelo resfriamento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico. A La Niña fez com que as frentes frias não adentrasse o País, desviando-as para o Oceano antes de se aproximarem. As conseqüências da seca influenciarem bastante a agricultura neste período. No Paraná, por exemplo, a colheita de milho safrinha teve quebra de até 40%.
A partir de meados de maio, a situação mudou totalmente nesta região. Com o término da La Niña e retorno da neutralidade climática, as frentes frias avançaram livremente pelo País, trazendo chuvas freqüentes ao centro e sul. Em alguns casos, até choveu em excesso, impedindo a colheita da cana e plantio do trigo entre Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Além das chuvas, intensas ondas de frio chegaram ao Brasil, provocando declínio acentuado da temperatura. O Estado do Paraná e de Santa Catarina chegaram a registrar temperaturas de 5°C negativos.
De acordo com os meteorologistas da Somar, apesar da volta das chuvas, o outono terminou com chuvas abaixo da média em praticamente todo o Sul, partes do Centro-Oeste e em boa parte do Estado de São Paulo. Deste modo, podemos dizer que os efeitos da estiagem trazidos pela La Ninã superou a neutralidade climática e a posterior volta das chuvas.
No centro e oeste do Rio Grande do Sul choveu entre 300mm e 400mm menos que o normal – o acumulado não chegou a 100mm em algumas cidades. Por outro lado, o oeste da Paraíba, norte do Piauí, centro e leste do Pará e parte do oeste de Tocantins receberam mais de 500mm acima do normal nos últimos três meses – o acumulado ultrapassou os 1500mm, especialmente entre o Pará e Maranhão.
Para completar, ainda neste início de inverno a população de Manaus (AM) enfrenta a segunda maior cheia de todos os tempos. As chuvas fortes na região continuam a aumentar o nível do Rio Negro, afetando mais de 18 mil moradores.
Com relação às temperaturas máximas (registradas no período da tarde), o outono registrou temperaturas mais baixas que o normal em partes do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, influenciadas pelo excesso de chuvas registrado nos últimos três meses. Em contrapartida, na Região Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul, várias cidades registraram tardes mais quentes que o normal por conta da falta de chuvas e excesso de insolação, especialmente no início do outono.
Já as temperaturas mínimas (registradas no período da madrugada) foram mais baixas que o normal, principalmente em alguns pontos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. No ano passado, a primeira onda de frio veio em abril, mas neste ano, a primeira grande onda de frio veio apenas em junho, o que mexeu bastante com a média das temperaturas mínimas.
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