Estudo do Ministério da Saúde aponta queda de 20,5% nas mortes por doenças cardiovasculares no período de 16 anos, de 1990 a 2006. Principal causa de óbito no país, esse grupo de doenças, que inclui o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC), matou cerca de 300 mil pessoas em 2006, quase 30% do total de óbitos registrados. Já as mortes especificamente por doenças cerebrovasculares tiveram uma redução de 30,9% no mesmo período. Houve aumento nos óbitos por diabetes como causa básica, que passaram de 16,3 para 24 por 100 mil habitantes.
Os dados fazem parte do Saúde Brasil 2008, publicação anual da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), que neste ano abrange os 20 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre outros aspectos, o estudo analisa a tendência do risco de morte para doenças crônicas não-transmissíveis no Brasil e seus fatores associados.
Uma redução expressiva nas mortes por doenças cardiovasculares foi observada na população de 20 a 74 anos. Nessa faixa etária, o risco de morte caiu de 187,9 por 100 mil habitantes, em 1990, para 149,4 por 100 mil habitantes em 2006, o que representa queda de 1,4% ao ano. As reduções mais significativas estão nas regiões Sul e Sudeste, que apresentam declínio desde 1990, enquanto a região Nordeste apresentou aumento.
O estudo aponta, também, que os jovens de 20 a 39 anos estão morrendo menos por doenças cardiovasculares. Para as mulheres jovens, a queda anual foi de 3,6%, enquanto que para os homens foi de 3,3% ao ano.
De acordo com o diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde da SVS, Otaliba Libânio Neto, a melhora nos resultados se deve ao maior nível de instrução da população, assim como às políticas de prevenção à saúde, como a promoção de alimentação saudável e o estímulo à atividade física. “No que se refere à assistência à saúde, a expansão da atenção básica contribuiu para esse resultado, porque são doenças que podem ser controladas com diagnóstico precoce e informação”, explica Libânio.
De todas as causas específicas do aparelho circulatório, os óbitos por doenças cerebrovasculares, especificamente o AVC, foram a primeira causa, com 9,4% de mortes, seguidos pelas doenças isquêmicas do coração (8,8%), como infarto.
DOENÇAS CEREBROVASCULARES – A tendência de queda é ainda maior quando analisadas as mortes por doenças cerebrovasculares: houve redução de 30,9% entre 1990 e 2006. Na população de 20 a 74 anos, a taxa passou de 64,5 por 100 mil habitantes para 44,6 por 100 mil habitantes no mesmo período. Essa diminuição é observada em todas as faixas etárias, tanto nas mulheres quanto nos homens, com maior declínio na região Sul (4% ao ano). As regiões Sudeste e Centro-Oeste também apresentaram reduções importantes. Nas regiões Norte e Nordeste, as taxas se mantiveram estáveis entre 1990 e 2006.
O risco de morte por doenças cerebrovasculares entre jovens de 20 a 39 anos apresenta redução considerável tanto para as mulheres (4,6% ao ano) quanto para os homens (4,8% ao ano). Essa tendência se estende a todas as faixas etárias. “As pessoas estão mais informadas sobre os fatores de risco, o que ajuda a evitar a morte prematura por doenças crônicas”, afirma Libânio.
As taxas de mortalidade para as doenças isquêmicas do coração também caíram para todas as faixas etárias e ambos os sexos nas regiões Sul e Sudeste, sendo mais significativo no Sudeste para mulheres de 20 a 39 anos (4,1% ao ano). Na região Nordeste, no entanto, foi registrado aumento de 1,4% ao ano. Das doenças isquêmicas, o infarto agudo do miocárdio corresponde a 6,7% da proporção de óbitos.
DIABETES – O estudo aponta, por outro lado, tendência de aumento nas mortes por diabetes, de 1990 a 2006, ao se considerar apenas o óbito por causa básica. Nos adultos de 20 a 74 anos, o risco de morte passou de 16,3 por 100 mil habitantes, em 1990, para 24 por 100 mil habitantes, em 2006. “O principal fator associado é a mudança na alimentação do brasileiro, que leva ao sobrepeso, afinal o diabetes tem relação direta com a obesidade”, comenta Libânio. “No entanto, observamos estabilização em algumas regiões do país a partir do ano 2000”, pondera.
O aumento está mais concentrado entre os homens com 40 anos de idade ou mais, sendo de 2,3% ao ano. A partir dos 60 anos, esse aumento é de 3,5% ao ano. Para as mulheres na mesma faixa etária, o aumento é de 1% e 1,7% ao ano, respectivamente. Já entre os jovens de 20 a 39 anos houve redução de 1,6% para mulheres e 1,5% para homens (tabela 3).
VIGITEL – Desde 2006, o Ministério da Saúde acompanha os fatores de risco e de proteção para as doenças crônicas não-transmissíveis por meio do inquérito telefônico realizado nas 26 capitais e do DF. São mais de 54 mil entrevistas que ajudam a monitorar variáveis como o hábito de fumar, o consumo de bebidas alcoólicas, o excesso de peso, a obesidade, os hábitos alimentares, o sedentarismo e a morbidade referida, com diagnóstico prévio para diabetes e hipertensão arterial.
O diretor do Departamento de Análise de Situação de Saúde da SVS, Otaliba Libânio, ressalta a importância de conhecer esses fatores como estratégia para reduzir as mortes por doenças crônicas não transmissíveis. “Os estudos mostram que o Brasil teve uma redução significativa no hábito de fumar, o que pode ter contribuído para a redução na mortalidade mostrada neste estudo”, exemplifica.
PREVENÇÃO – O SUS possui um conjunto de ações de promoção de saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, capacitação de profissionais, vigilância e assistência farmacêutica, além de pesquisas voltadas para o cuidado aos pacientes com doenças crônicas. São ações pactuadas, financiadas e executadas pelos gestores dos três níveis de governo: federal, estadual e municipal.
Para o controle do diabetes, por exemplo, a política de Promoção da Saúde tem como uma das prioridades o estímulo à atividade física e o Programa Saúde na Escola (PSE), criado para prevenir e promover a saúde dos estudantes por meio de avaliações do estado nutricional, incidência precoce de hipertensão e diabetes, controle de cárie, acuidade visual e auditiva e também psicológica. Um dos principais objetivos é orientar sobre a segurança alimentar e a promoção da alimentação saudável, bem como estimular as práticas corporais e a atividade física, fatores essenciais para uma prevenção primária do diabetes.
A ênfase na rede básica se dá por meio de protocolos clínicos, capacitação de profissionais de saúde, assistência farmacêutica com fornecimento gratuito dos medicamentos essenciais por meio do programa Farmácia Popular. São 107 itens para doenças recorrentes na população brasileira, dentre eles analgésicos, antihipertensivos, medicamentos para diabetes, colesterol, gastrite entre outros. De 2004 a 2008, os investimentos no Programa foram de R$ 325 milhões.