Um novo método corretivo mudou a rotina do Centro de Referência para Tratamento de Pé Torto Congênito do Hospital Estadual Infantil de Vila Velha, unidade administrada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Como resultado, houve diminuição no tempo de recuperação e melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
Atualmente, mais de 40 crianças de todo o Espírito Santo, entre dois meses e 16 anos de idade, já sentem os benefícios proporcionados pela nova técnica, implantada há cerca de um ano na instituição. Todos são atendidos por equipe multidisciplinar, formada por ortopedistas, técnicos de enfermagem, psicóloga e assistente social.
Melhores resultados
Antes, o tempo médio de tratamento ambulatorial era de seis meses e havia a necessidade de uma intervenção cirúrgica invasiva. A partir do uso do novo método, chamado de Ponseti – homenagem ao médico italiano que inventou a técnica, ele foi reduzido para seis semanas, em média.
O tratamento é simples, efetivo, barato e minimamente invasivo, segundo o médico ortopedista e coordenador do serviço, Paulo Moulin. “Os resultados são melhores e mais rápidos, pois dispensa cirurgias agressivas e diminui o tempo de internação no hospital durante o pós-operatório”, afirma.
Moulin conta que a técnica de Ponseti consiste em correção das deformidades de forma gradativa, com manipulações suaves e substituição de gesso a cada semana, por aproximadamente um mês e meio, no mínimo. Num segundo momento, em alguns casos, é indicada uma cirurgia simples, que se caracteriza pela liberação do tendão calcâneo, mais conhecido como tendão de Aquiles, e correção do calcanhar.
Em seguida, utiliza-se o gesso por mais três semanas, já com o pé em boa posição e, posteriormente, coloca-se uma órtese, que são duas botinhas ligadas por uma barra ajustável de metal. Neste momento, a criança, que já se encontra em fase de manutenção, é examinada a cada 30 dias. Este período pode durar uma média de três meses.
A última etapa consiste no uso da órtese por doze horas durante a noite, e mais um intervalo de duas a quatro horas no período diurno, por mais quatro anos. “Após o tratamento, as crianças não terão dificuldade para praticar esportes e ter uma atividade física regular, podendo levar uma vida sem restrições físicas”, conta o médico.
O tratamento deve ser iniciado de sete a 10 dias após o nascimento, que é o momento em que o Pé Torto Congênito é diagnosticado clinicamente. “Quanto mais cedo começar o tratamento, mais cedo ele será concluído e melhor será o resultado”, completa Paulo Moulin.
Eficaz
Mesmo assim, o método Ponseti se mostrou eficaz também em crianças que iniciam o tratamento com idade mais avançada. “Temos pacientes de quatro, cinco, sete, e até de 16 anos. São crianças que podem ter feito o tratamento pela técnica antiga, sem bons resultados, e que voltaram para corrigir o problema pelo novo método. Todos eles estão apresentando uma melhora satisfatória”, comemora o médico.
O ortopedista Eduardo Antônio Bertacchi Uvo, que também atua no Centro de Referência do Hospital Estadual Infantil de Vila Velha, aponta outra vantagem para o paciente. “Há ainda uma melhora na vida social desta pessoa. Ela vai deixar de se tornar um adulto inválido e um aposentando precoce. Além disso, não sofrerá discriminações na escola e poderá ter uma vida normal. Ele também recupera a autoestima”.
Uvo explica ainda que o sucesso do tratamento depende em grande parte da família da criança. De acordo com ele, é um processo que, mesmo não sendo tão longo, requer uma disciplina e um comprometimento enorme de todos, pois o paciente tem que comparecer semanalmente ao hospital e usar a órtese. Em caso de desistência, o tratamento terá uma duração mais longa.
Acesso
Para ter acesso ao Centro de Referência para Tratamento de Pé Torto Congênito, o paciente deve ser encaminhado pelo médico ortopedista que realizou o diagnóstico clínico. Ao receber um novo paciente, os médicos fazem os exames necessários para o diagnóstico, e inicia o tratamento o mais breve possível.
Embora afete uma a cada mil crianças, o pé torto é uma deformidade congênita considerada comum. Em todo o mundo, são 100 mil novos casos por ano, sendo que 50% são bilaterais (acomete os dois pés) e os meninos são 2,5 vezes mais afetados.
Quando um dos pais tem Pé Torto Congênito, a chance de se ter um filho com a mesma deformidade é de 3 a 4%. Já em casos em que os pais têm o problema, esta chance aumenta para 15%.