Ji-Paraná conta com pouquíssimas praças no seu perímetro urbano, conta menos ainda com locais para manifestações culturais de suas diversas comunidades e escolas. De fato, alem do teatro municipal, que anda precisando urgente de uma reforma, existe apenas uma pequena praça no centro da cidade com equipamentos necessários para uma apresentação artística.
Esta praça enquanto ainda uma esquina cimentada e espremida entre ruas e construções, era um espaço de ninguém. Foi construída encima do primeiro cemitério da região e denominada Praça da Bíblia pelos seus idealizadores.
No período de 2007 / 2008 recebeu melhorias e passou a contar com um palco coberto, iluminação e bancos para os freqüentadores. Após a sua reinauguração, sem nenhuma divulgação ou discussão, a Câmara Municipal aprovou uma lei destinando-a exclusivamente para apresentações religiosas. Foi tão secreta esta votação que até o último mês de abril a população desconhecia os novos destinos da praça. Provavelmente os grupos gospel de Ji-Paraná também não sabiam desta lei, pois pouquíssimas apresentações foram lá realizadas.
No final de 2008 a vida cultural da cidade foi prejudicada mais ainda, pois o espaço cultural Beira Rio, local para grandes eventos, foi interditado para servir de canteiro de obras na triplicação da ponte sobre o Rio Machado. Vendo os seus espaços acabarem as pessoas realmente envolvidas com a cultura procuraram a Câmara para discutir uma alternativa e encontraram o respaldo da vereadora Marcia Regina (PT – RO) que encampou a luta para revogar a lei que restringe o uso da Praça da Bíblia.
Deveria ser uma discussão técnica, um debate sobre incentivo à cultura, sobre a soberania do povo no uso de equipamentos públicos, deveria ser uma discussão sobre o acesso de nossos jovens a um direito constitucional. Entretanto, grupos interessados em politizar a discussão, tentaram transforma-la em uma cruzada do bem contra o mal, da religiosidade contra o profano, de um pagode gospel contra um pagode secular.
Os defensores do “status quo” desconsideraram a Orquestra Filarmônica Municipal, o Grupo de Balé da Fundação Cultural, os vários corais de nossa escolas e lembraram apenas do axé, do forro e do carnaval, que iriam profanar a memória dos nossos entes queridos. Para perturbar ainda mais a discussão, sites de outras origens passaram a divulgar uma matéria isenta de um respeitado jornalista ji-paranaense, acrescida de manchetes escandalosas e acusativas contra a vereadora.
Hoje o parecer da comissão de constituição e justiça, contrario ao projeto, foi julgado pelo plenário da Câmara.
Oito dos nobres vereadores aprovaram parecer contrário e não proporam nenhuma alternativa ou um projeto para a criação de espaço semelhante (não vale a chacota de propor o uso da frente da igreja Dom Bosco).
A nossa mocidade, sadia, ordeira e promissora, merece mais consideração.