Um panorama epidemiológico brasileiro sobre a prevalência da resistência à terapia antirretroviral em portadores do HIV que nunca se trataram – os chamados pacientes virgens de tratamento – acaba de ser publicado pela revista AIDS Research and Human Retroviruses. “A prevalência e as características de pacientes com esse perfil são pouco documentadas no Brasil”, afirma o professor Eduardo Sprinz, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e um dos autores do estudo.
Idealizado pela Pfizer, o estudo “Resistência à terapia antirretroviral em pacientes com HIV/AIDS virgens de tratamento no Brasil” envolveu 400 pacientes de 20 centros clínicos de 13 cidades brasileiras: São Paulo, Campinas, Santo André, Santos, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Salvador e Brasília.
Seguindo consenso da Sociedade Internacional da AIDS, testes de genotipagem (para identificar a presença de vírus mutantes) foram conduzidos nos pacientes do estudo. “Esse tipo de teste é obrigatório em alguns países. O procedimento é feito antes de se iniciar o tratamento para detectar características específicas do HIV e identificar o tratamento adequado a cada paciente”, explica Sprinz. Entre os pacientes que apresentaram algum tipo de resistência, a maioria (91%) apresentou o vírus subtipo B, o mais prevalente no Brasil. No mundo, o vírus mais prevalente é o subtipo C.
Resultados do estudo revelam que 7% dos pacientes virgens de tratamento apresentaram mutações no vírus HIV, ou seja, resistência à terapia com uma classe de antirretrovirais. Pacientes virgens de tratamento, cujos parceiros já se tratavam com antirretrovirais, apresentaram mais chances de ter algum grau de resistência aos medicamentos antiaids.
Segundo Sprinz, testes para verificar a resistência à terapia antirretroviral em pacientes virgens de tratamento deveriam ser considerados, especialmente junto àqueles cujos parceiros estão em tratamento com o coquetel antiaids. “É importante realizar estudos dessa natureza periodicamente. Os resultados podem influenciar na resposta ao tratamento da doença”, conclui.
A epidemia da Aids
Segundo o programa das Nações Unidas para Aids (Unaids), a epidemia já contaminou 33 milhões de pessoas no mundo, atingindo cada vez mais pobres e cada vez mais jovens. É verdade que desde 2001, o número de novos casos por ano caiu cerca de 10%. Foram 3,1 milhões de infecções contra 2,7 milhões em 2007. No Brasil, a epidemia de Aids está estabilizada em cerca de 30 mil novos casos por ano desde 2000. Estima-se que 630 mil pessoas no país sejam portadoras do HIV.