Quais as principais origens de tensões financeiras de um casal? Em sua maioria acontece por achar que a questão “dinheiro” não é relevante, o que vale primeiro é amor, paixão, etc… e mesmo entre casais bastante experientes há uma certa vergonha em falar sobre dinheiro – como se isso não fosse importante ou fosse um tabu – e quando um tema importante não é analisado e pensado em conjunto abre-se uma brecha para problemas pequenos que acabam ficando muito, muito grandes. Quando a questão financeira não é tratada claramente a coisa só tende a piorar à medida que o tempo passa, vem os filhos e o descontrole se torna muito complexo, mesmo em situações onde há muito dinheiro disponível.
Como resolver os conflitos de dinheiro na vida do casal sem grandes brigas?
R: o primeiro passo é vencer a vergonha de falar sobre as finanças e dinheiro, e deixar de lado o pensamento que “isso é coisa de gente materialista e insensível”. Chame seu parceiro para uma conversa sobre objetivos comuns a curto, médio e longo prazos. Nesta conversa o fundamental é não voltar para o passado procurando culpados ou remoendo erros. O foco deve ser onde chegar com o novo planejamento financeiro e as formas práticas de agir para conseguir isso, seja para comprar um bem comum ou para quitar as dívidas pendentes. E ter o hábito de conversar sobre dinheiro entre o casal e com os filhos e familiares, de forma clara e sem inibições.
A intimidade pode prejudicar a relação quando o assunto é dinheiro?
R: Em muitos casos sim, porque há um pensamento socializado que falar sobre dinheiro é algo feio e pecaminoso, num contraste com a pureza do amor e da entrega; daí que embora as pessoas tenham um grande envolvimento, ficam envergonhadas de mostrar suas inseguranças quanto a dinheiro, divisão de bens, etc achando que irão desagradar o parceiro. Isso vale para homens e mulheres, ao contrário do que se pensa, que é coisa de mulher. Vejo isso acontecendo inclusive entre casais homossexuais, que falam de tudo mas quando o tema é dinheiro a coisa muda completamente.
Quando os dois trabalham, é saudável cada um ter sua conta-corrente e cartão de crédito?
R: É fundamental; cada pessoa deve ter seu próprio controle de finanças e o casal deve ter um pensamento comum sobre dinheiro, dividindo despesas, pois isso dá autonomia a qualquer parte em presentear, comprar algo diferente – coisa que, se há uma conta conjunta apenas, a outra parte fica sabendo e qualquer romantismo não resiste a um comentário do tipo “nossa, gastou tudo isso!”… Mesmo se um não trabalha, deve ter sua própria conta corrente e cartão de crédito, e acertar com a outra parte uma verba (como é comum para quem é dona de casa e fica com os filhos) somente sua, para fazer o que quiser, desde comprar um vaso de flores até mudar a cor dos cabelos.
Como dividir as despesas? Quem fica responsável pelo quê?
R: Dividir de forma agradável para ambas as partes; imagine como deve ser complicado dividir despesas com Paris Hilton ou Athina Onassis? Mas garanto que elas tem clareza de valores e sabem que é possível dividir com critério, sem pesar para quem não tem a mesma fortuna. O primeiro passo é conversar sobre o dinheiro, e não importa se a mulher é a mais aquinhoada ou o homem; há muitos casos onde a mulher tem uma renda 75% superior ao parceiro e ambos estipulam despesas divididas, tal que um paga a conta da luz e do condomínio, e o outro paga os valores mais expressivos. O mais importante é que a fórmula encontrada pelo casal seja boa e aceita plenamente por ambas as partes.
E quando a mulher é dependente financeiramente, como agir?
R: Volta a importância da conversa; há casos que o homem quer que ela seja dependente dele, e a mulher logicamente tem que ter clareza deste aspecto. Neste caso fica implícito que toda a despesa é por conta dele. Mas há casos onde a mulher é a dona de casa e cuida dos filhos, e isso é um trabalho e tanto! Vale conversar com o marido e estipular uma verba para suas coisas pessoais, e mesmo guardar um dinheiro para presentear, fazer um tratamento estético, enfim, algo que seja um desejo capaz de motivar comportamentos mais econômicos. E a despesa doméstica será, neste caso, bancada pelo marido, que é quem gera renda para a família.
Alguma dica para que, mesmo que o dinheiro acabe, o relacionamento continue?
R: Quando o relacionamento é sólido e há uma conversa natural sobre dinheiro, mesmo que a família quebre ou o casal entre em sérias dificuldades financeiras o relacionamento não irá acabar. O relacionamento acaba por diversas razões que ficam potencializadas com a questão das dívidas e do dinheiro, mas dinheiro não é o responsável final pelo fim da relação. Há muitos casos onde o casal estava bem financeiramente e pessoalmente, e acontece um imprevisto que gera dificuldades; o casal se fortalece lutando juntos para reestabelecer as condições materiais e normalmente saem mais fortalecidos após uma experiência como essa. Mas se o casal já está mal por outras razões – lembre-se que é fácil colocar a culpa no dinheiro para sair de uma relação, pois isso é mais aceito do que uma traição pela nossa sociedade – a falta de dinheiro simplesmente acelera a decisão de acabar com a história.