Pesquisa Datafolha mostra que só 3 em cada 10 pessoas sabem apontar doenças que podem gerar lesões graves nos rins. Apenas 5% procurariam um nefrologista em caso de problemas renais.
Quando o assunto é cuidado com os rins, atenção e informação são mais que necessários. Para avaliar a percepção da população acerca deste tema, a Fundação Pró-Renal Brasil, com o apoio da Roche, encomendou ao Instituto Datafolha uma pesquisa para avaliar o conhecimento dos brasileiros sobre problemas renais. De acordo com o levantamento, 7 em cada 10 pessoas dizem tomar alguma atitude no dia a dia para preservar a saúde renal. O problema é que a alternativa mais mencionada para atingir esse objetivo foi a ingestão de água (63%).
Os números são extremamente importantes, pois refletem o desconhecimento da população acerca de problemas que podem acometer os rins. De acordo com especialistas, a ingestão de água não é a principal atitude que deve ser tomada para garantir a saúde renal. “Não há evidência científica de que tomar muita água preserva a saúde dos rins. O próprio organismo tem um sistema altamente sensível para controlar essa ingestão, que é a sede. Por isso, além da água, os cuidados adequados com os rins devem incluir alimentação saudável e controle de doenças como diabetes, hipertensão, inflamações e infecções”, explica Miguel Riella, nefrologista e presidente da Fundação Pró-Renal Brasil.
Outro dado preocupante é que apenas 30% das pessoas souberam apontar doenças que podem gerar lesões graves nos rins, como o diabetes e a pressão alta. Para Riella, esse número também revela a falta de conhecimento dos brasileiros. “Essas enfermidades, comuns e cada vez mais crescentes no Brasil, figuram como as principais causas da doença renal crônica (DRC), que resulta na incapacidade irreversível das funções dos rins. O agravante é que, se os pacientes não têm essa informação e não fazem o controle dessas doenças, seus rins poderão ser gravemente lesionados pela DRC. E a doença não apresenta sintomas até que as funções renais estejam comprometidas em até 75%”, afirma o nefrologista. “Quando chega neste estágio, a DRC pode gerar consequências gravíssimas, podendo levar o paciente à necessidade de hemodiálise e até transplantes”, conclui.
Anemia
Quando questionadas se problemas renais podem se agravar e causar anemia, 42% das pessoas responderam que não e 10% não souberam dizer. Isso mostra que parte significativa da população desconhece a anemia renal e, consequentemente, não está atenta aos seus complicadores. “Há muitas pessoas que só conhecem a anemia provocada pela falta de ferro e não sabem que existe e nem o que é a anemia associada à doença renal crônica”, explica Riella.
Estatísticas mundiais mostram que mais de 500 milhões de pessoas tem algum grau de DRC. Elas sofrem com uma deterioração da função renal que pode durar vários anos até que seja necessária uma terapia para a substituição do rim. Quando é constatada a falência desses órgãos, os pacientes não conseguem secretar eritropoietina, hormônio produzido pelos rins que estimulam a fabricação de glóbulos vermelhos na medula óssea. Sendo assim, eles desenvolvem anemia, diagnosticada através do exame que mede os níveis de hemoglobina (proteína que carrega o oxigênio dentro dos glóbulos vermelhos).
A anemia renal pode acometer os pacientes com DRC já nos estágios iniciais e piora à medida que ocorre perda progressiva das funções renais. Cerca de 95% dos pacientes com doença crônica renal que necessitam de diálise (procedimento que faz a filtração do sangue) apresentam um quadro de anemia renal crônica. A enfermidade prejudica o transporte e utilização de oxigênio em tecidos e órgãos do organismo, apresentando efeitos como fraqueza, cansaço, palpitações, dificuldade de concentração e tonturas, que afetam tanto a qualidade de vida quanto a saúde e o bem-estar.
Em grande parte dos casos, quando tratada tardiamente, a anemia renal contribui para o aparecimento de complicações cardiovasculares, como o aumento do tamanho do coração e a aceleração no ritmo de bombeamento do sangue em busca de compensação para a falta de oxigenação no corpo.
Especialidade médica
Questionados sobre a hipótese de terem problemas nos rins, 54% dos entrevistados não saberia qual especialista procurar para tratar o problema e apenas 5% buscariam um nefrologista, especialidade adequada para o tratamento de problemas renais. Do restante, 25% procurariam um clínico geral e 11%, um urologista.
“É importante que a especialidade de nefrologia fique atenta à quantidade de casos que podem aumentar nos próximos anos, por conta do crescimento do número de diabéticos e hipertensos. Hoje temos pouco mais de 3 mil nefrologistas no território nacional – este número tende a aumentar para dar conta da demanda”, explica Riella.
Outros resultados
O Instituto Datafolha ouviu 2.556 pessoas, com 16 anos ou mais, de 180 municípios brasileiros, entre os dias 26 e 28 de maio deste ano. A média de idade da amostragem foi de 38 anos e a distribuição por sexo foi equivalente entre homens e mulheres. Outros dados constatados foram:
– Tomar muita água é hábito mais comum em mulheres – 67%.
– 25% procurariam um clínico geral para o tratamento de problemas renais; 11%, um urologista e 5% procurariam um nefrologista. 54% não saberiam qual especialidade procurar.
– 45% souberam apontar causas para a anemia. As mais mencionadas foram falta de ferro (23%) e alimentação inadequada (14%). – Apenas 28% das pessoas souberam apontar as conseqüências da anemia. Fraqueza (19%) e cansaço (8%) foram as mais mencionadas.
– 62% das pessoas apontaram algum sintoma de problema renal. Dificuldade de urinar (24%) e dores na região da barriga (24%) são os sintomas de doenças renais mais conhecidos pelos brasileiros.
– A baixa escolaridade do brasileiro tem reflexos na falta de conhecimento sobre problemas renais.
Tratamento adequado
Aprovado em 87 países, inclusive no Brasil, o Mircera (betaepoetina-metoxipolietilenoglico), medicamento produzido pelo laboratório Roche para tratamento da anemia associada à DRC, consegue estabilizar o nível de glóbulos vermelhos, tratar a anemia renal e devolver a qualidade de vida aos pacientes com apenas uma injeção mensal. Pelo menos 70% dos doentes tratados com Mircera (betaepoetina-metoxipolietilenoglico) ficam com os níveis de hemoglobina estáveis. Estudos e análises recentes tem confirmado a eficácia da droga, que é o primeiro agente estimulante da eritropoiese a oferecer terapia mensal.
Informações Úteis:
– No Brasil, aproximadamente 90 mil pessoas estão em diálise e 95% delas sofre de anemia renal. Dados do Censo 2008 da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) mostram que o número de pacientes submetidos à diálise cresce ao menos 8% ao ano.
– O tratamento dos pacientes em diálise consome cerca de 10% do orçamento da saúde no Brasil.
– 70% dos casos de pacientes com DRC desenvolveram a doença por conta da diabetes e hipertensão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 150 milhões de pessoas no mundo sofrem de diabetes e estima-se que esse número dobre nas próximas décadas. A hipertensão também é considerada uma epidemia pela OMS e atinge 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.
– Para checar como anda o funcionamento dos rins, é recomendado o exame de creatinina, obtido por meio de uma amostra de sangue. Uma elevação da creatinina no organismo alerta para algum problema com as funções renais. Não há uma periodicidade padrão para a realização desse exame, mas indivíduos com fatores de risco para doença nos rins não devem esperar as consultas de rotina.
– Segundo os dados da SBN há atualmente 3.152 nefrologistas no país. Projeções apontam, porém, que o número de especialistas terá que dobrar até em 2010, por conta do aumento de casos de DRC e de pessoas em tratamento.
– No Brasil, há cerca de 30 mil pacientes esperando por um transplante de rim. No ano passado, foram realizados cerca de 3 mil transplantes do tipo – ou seja, apenas 10% das pessoas na fila por um rim estão sendo atendidas.