Acautele-se. O momento atual está muito complicado. Dias atrás o presidente do maior banco brasileiro encantou a todos dizendo que “bancos reduzirão juros mais rápido”. Em seguida, economistas dos dois maiores bancos privados sentenciaram: “a recessão acabou em maio”. Tanta notícia boa só foi ofuscada pelo levantamento realizado pelo IBGE que mostra que a média nacional de crescimento do setor industrial aponta para uma queda de 13,4% na comparação com o primeiro semestre de 2008. Maior queda desde 1976. Pesquisa do Ministério do Trabalho mostra uma redução no aumento do salário inicial médio dos trabalhadores empregados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal, ou seja, as três unidades da Federação que respondem pela maior parte das remunerações pagas no país. Ter ou manter um bom salário continua difícil. Fique atento com o destino diário do seu dinheiro. Se você consegue poupar entre 5% e 10% do seu salário mensal, parabéns. Caso contrário, não desanime, veja onde focar o controle dos seus gastos. Ninguém sabe quanto tempo esta crise poderá perdurar. Uma coisa é certa, ela já está influindo no seu orçamento doméstico.
Atente para as sete principais agressões ao seu escasso dinheiro. A primeira delas diz respeito à renda líquida. Observe quanto é creditado no banco da sua remuneração mensal. Atenção para os descontos: crédito consignado, imposto de renda, INSS, Vale transporte, Vale alimentação, Vale farmácia, etc. Muitos são os benefícios recebidos e não são poucas as co-participações descontadas. Dependendo de cada caso, podem ficar retidos até 31% do seu salário bruto. Raciocine sempre sobre o que sobra para os compromissos do mês.
Despesas domésticas. Isoladamente os valores podem ser pequenos, porém, quando você soma água, luz, gás, condomínio, telefone fixo, celular, assinatura TV, internet, aluguel, supermercado, sacolão, pequenas manutenções, etc, os valores podem se tornar expressivos. Caso você pague aluguel, fique mais atento. Os gastos aqui vão consumir entre 15% e 25% do que você recebeu efetivamente.
Você que é bem sucedido na vida, nada melhor do que comprar a sua moradia e aquele carro novo para não mais depender dos amigos ou andar de coletivo. Mostrar para as pessoas o seu progresso financeiro pode tirar o seu sono. Investimentos surgem em terceiro lugar. A posse de bens duráveis é uma demanda necessária. Costumamos raciocinar sobre o valor das prestações e se elas cabem no orçamento. Comumente nos esquecemos do custo de manutenção, seguros, pequenos reparos e defeitos de fabricação que levam ao desembolso de quantias inesperadas. Inclui-se aqui a sua educação formal e a de dependentes. O consumo de bens supérfluos pode obrigá-lo a inclinar-se para instituições de ensino com menor qualidade e reconhecimento público, o que vai refletir na sua capacidade futura de melhores salários. Este conjunto pode comprometer até 30% do seu orçamento.
Sua base de sobrevivência está estabelecida, vamos à luta. O mundo diz que devemos viver a vida, não conhecemos o dia de amanhã, dinheiro não é tudo e por aí vai. O lazer e cuidados pessoais surgem em quarto lugar. Aqui entram as baladas, viagens, cirurgias estéticas, academia de ginástica, salão de beleza, refeições fora de casa, a casa na praia ou no campo, as comemorações de aniversário, casamentos, bodas ou qualquer outro evento. Dependendo do seu padrão de consumo, a conta pode ficar cara, caríssima. Evite desembolsar mais do que 10% da sua renda líquida nestes acontecimentos.
Em quinto lugar aparece o impulso. Um verdadeiro flagelo para orçamentos frágeis. Muitas vezes potencializa o supérfluo ou o bem de uso esporádico. Pense bem antes de agir. Não é porque está barato que você vai levar tudo. Veja se você está realmente precisando. Comprar uma TV nova para encostar a outra nem sempre é uma boa decisão. Comprar um computador que vai melhorar sua performance profissional é uma decisão mais racional. Pesquise preço, condições de pagamento e a utilidade da compra. Um bom terno ou um costume de qualidade pode ser fundamental naquela entrevista para mudança de emprego e melhora do seu salário. O seu dinheiro é um bem precioso, trate-o com rigor e critério. Seja rigoroso consigo mesmo, não comprometa mais do que 5% do seu orçamento aqui.
Chegamos às dívidas. Originadas nos cartões de crédito, cheque especial, consignado, cheques pré-datados entre outros. Ative seu estado de atenção. Pare, reflita e desista da compra. As taxas de juros no Brasil ainda são as maiores do mundo. Não tem salário que acompanhe o ritmo de crescimento das dívidas. Pague suas compras passadas. Acabar na SERASA, SPC ou Cadastro do Banco Central não é bom para sua vida financeira. Elimine este câncer de sua vida, fará muito bem para sua saúde física, mental e psicológica.
Agora o modismo. Não se entusiasme com situações que objetivam levá-lo ao centro do consumo, ele vai sempre comprometer o seu orçamento. É aquela viagem à Disney das crianças; o utilitário espaçoso que todo mundo está comprando; as refeições caras e bem acompanhadas de cartas de vinho; a decoração nova da casa; trocar o guarda roupa na nova estação. Enfim, tudo que é ligado à vaidade, glutonaria, superficialidade e imitação em níveis incompatíveis com o seu orçamento.
Cada qual conhece suas realidades, limitações, necessidades e sabe como comportar-se. Desenvolva uma base de reflexão bastante pragmática sobre o consumo neste momento em que vivemos. Evite cair nas armadilhas do consumismo. Vivemos uma crise e esta ainda estará conosco por um bom tempo. Entenda que ganhar honestamente seu dinheiro exige muito trabalho e é demorado. Consumir traz auto-realização, estabelece uma relação de prazer com o ato, melhora a auto-estima, reforça a sensação de poder e diferenciação em relação ao seu grupo de referência. Tudo isto é muito bom. Porém, devemos evitar que isto sobrepuje nossa capacidade periódica de geração de riqueza material e comprometa nossa saúde mental, espiritual e moral.
Carlos Stempniewski, mestre pela FGV, administrador, consultor e professor das Faculdades Integradas Rio Branco.