Com criatividade, seringueiros de Machadinho d’Oeste (RO) produzem a partir do látex um tecido ecologicamente correto, usado para fazer pastas, bolsas e mochilas.
O tecido da floresta! Na Amazônia, os seringueiros encontraram alternativas para uso do látex. Em Rondônia, eles trabalham com um produto que já conquistou o mercado, conforme mostrou o programa Pequenas Empresas & Grandes Negócios exibido neste domingo (18) pela TV Globo. Machadinho d’Oeste fica a 400 quilômetros de Porto Velho. Existem doze reservas extrativistas na região. Oito delas estão ativas. Na reserva Quariquara moram 38 famílias. O dia de trabalho na floresta começa muito cedo. Os seringueiros caminham até sete quilômetros por dia na mata fechada. Eles vêm de muitas direções e têm um código sonoro para se encontrar. O látex é a principal atividade econômica da região há décadas. Os atuais seringueiros cresceram na floresta. “Sou filho de seringueiro, neto de soldado da borracha”, revela um seringueiro. O instrumento usado no trabalho reúne uma faca e uma rapadeira. “Você limpa para o leite não sair fora do risco, que é para ir direto dentro da cuia”, ensina outro seringueiro. Com gravetos, os seringueiros fazem o suporte para as canecas. O látex escorre até o reservatório. Atualmente, o tecido da floresta dá muito mais lucro do que a borracha. Em 2004, o Sebrae apoiou a criação de uma cooperativa que organizou o setor. A produção de borracha já foi lucrativa. Com o enfraquecimento do mercado, muita gente abandonou a atividade. Mas em Machadinho d’Oeste, interior de Rondônia, dentro da Floresta Amazônica, os seringueiros foram criativos e encontraram um novo fim para o látex. O líquido é transformado em um tecido ecologicamente correto, usado para fazer pastas, bolsas e mochilas. Mas até isso ficar pronto é preciso muito trabalho. A coleta acaba e é hora de transformar o látex em tecido. Na floresta, os seringueiros usam a defumação. Em um barracão fechado, a fornalha é abastecida. A fumaça sobe, aquece o ambiente. O látex é derramado sobre uma manta de algodão. O calor une os dois materiais em um tecido emborrachado e a fumaça ainda ajuda na coloração. O Sebrae contratou um químico que eliminou o cheiro do tecido. “Era um odor muito forte, característico da vulcanização da manta com a defumação com coco de babaçu. Alguns clientes achavam ruim porque quando guardavam no guarda-roupa, deixavam cheiro em outras roupas”, lembra o consultor do Sebrae Hiram Leal. Dona Giselda Pereira Ramos ganha R$ 700 por mês com o trabalho. Já construiu até uma casa nova. “Não é um luxo, mas é nossa casa de moradia. Nós temos muito orgulho disso. E isso foi gerado através do nosso trabalho com o tecido da floresta”, ressalta a seringueira. A outra forma de transformar o látex em tecido é com uma estufa. Um processo mais industrial, feito na sede da cooperativa dos extrativistas da floresta de Rondônia. Os seringueiros usam corantes para fazer tecidos coloridos. “Hoje a gente pode fazer quase todos os tipos de cor que a gente quiser”, avisa o seringueiro Dino Ferreira dos Santos. O tecido está pronto para ser transformado em moda. A cadeia produtiva do tecido da floresta beneficia a cidade inteira. Quinze mulheres fizeram cursos de design, corte e costura. Elas produzem duzentas bolsas por mês e cada uma ganha entre R$ 15 e R$ 25 por peça pronta. Edna Rufino era dona de casa. Com a ajuda do Sebrae, virou uma profissional de corte e costura e já ganha R$ 250 por mês. “Agora é bom porque a gente já tem o dinheiro da gente”, explica a costureira. A cada três meses, a cooperativa lança novos modelos. As bolsas já são vendidas em lojas de vários estados. Um novo curso do Sebrae vai ensinar a substituir argolas e fechos pelo ouriço da castanha. “Buscar os nossos recursos existentes aqui para tornar o produto ainda mais sustentável”, resume o secretário da cooperativa Erni Santos Lima. A coperativa tem outra fonte de renda: vende o tecido da floresta para fábricas de São Paulo que desenvolvem produtos próprios. O Sebrae continua a buscar mercado para o tecido da floresta. O objetivo é fazer o produto ser tão popular quanto o algodão ou o linho. “É nossa pretensão, nos próximos dias, oferecer a uma grande franquia nacional uniformes e acessórios provenientes da utilização desse produto para os seus franqueados”, avisa o consultor Hiram Leal.
Fonte: Agência Sebrae