A dona de casa Marieta Miranda Costa, de 72 anos, mãe de seis filhos, sofreu durante 20 anos com uma dor que começava no final da coluna lombar e continuava nas pernas, no músculo multífidus. “Sentia uma dor muito forte, que queimava e ardia. A sensação era de que eu tinha pimenta nas veias e, ainda, pesava os quadris. Para andar eu precisava de bengala e da ajuda do marido e dos filhos”, diz. Marieta faz parte de uma triste estatística. Estudos revelam que 8 em cada 10 pessoas possuem dores na coluna lombar.
Segundo o diretor da Clínica de Dor, o médico anestesiologista Geraldo Carvalhaes, são inúmeras as doenças associadas às dores lombares. Ele explica que a síndrome de multífidus ou da covinha, como é popularmente conhecida, é muito comum e, diversas vezes, confundida com hérnia de disco. “O diagnóstico é clínico e não existe exame. A diferença é que a síndrome do multífidus não provoca alterações neurológicas”.
O músculo multífidus faz parte da camada mais profunda da coluna e é responsável pela estabilidade das articulações entre as vértebras. “Ele vai do processo transverso de uma vértebra a outra e também do processo transverso de uma vértebra até o osso ilíaco. Essa região é conhecida como articulação sacro ilíaca, visualizada na covinha no final da lombar bilateral. Aquele furinho que é mais comum nas mulheres”, detalha Carvalhaes.
De acordo com o médico, a causa da síndrome do multífidus está geralmente associada a uma distensão muscular. Tensão e ansiedade também podem aumentar a predisposição à doença. Entre os sintomas está dor forte em toda a região do músculo, da lombar até a perna, irradiando pelas nádegas na região posterior da coxa atingindo a panturrilha, sem chegar aos pés e dedos. Segundo Carvalhaes, o tratamento da síndrome é realizado na Clínica de Dor com aplicação de 3 a 5 injeções de anestésicos, ondanzetrona (antihemético) e terapia bioxidativa.
Foi exatamente este o tratamento que Marieta realizou antes de comemorar o retorno às caminhadas diárias e às pistas de dança. “Parece um milagre. Após três sessões de bloqueios anestésicos já fiquei bem melhor, acabou o formigamento e o peso nos quadris. Estou dormindo bem e já caminho sozinha”, revela Marieta, que reside em Dom Silvério, cidade da zona da mata mineira, há 185 km da capital. A dona de casa viaja uma vez por semana para Belo Horizonte para se submeter ao tratamento.
O casal Enide Morati e Manuel Viana também passou pelo sofrimento provocado pela Síndrome de Multífidus. Durante os 50 anos de convivência conjugal Enide e Manuel já conviveram com muitos problemas de saúde, mas sempre souberam dar apoio um ao outro nas horas difíceis. Manuel, de 73 anos, foi o primeiro acometido pela síndrome. “Ele caminhava e, de repente, ficava estático, não conseguia calçar as meias e muito menos amarrar o tênis”, lembra Enide.
Pouco tempo depois a dona de casa também passou a ter o mesmo problema. “Eu caminhava agachada até a cozinha, tamanha era a dor quando ficava de pé. Não conseguia dar um passo e nem acertar o corpo. Era como uma fisgada que começava na covinha da lombar e descia para a perna esquerda”, comenta. Ela conta que, junto com o marido, procurou por diversos especialistas e realizou várias tentativas de solução para o problema. O casal teve diagnóstico e fez tratamento na Clínica de Dor.
“Foi alívio imediato, como jogar água no fogo. O Manuel já está totalmente assintomático após cinco bloqueios anestésicos. Eu também fiquei sem dores durante 1 ano. Recentemente realizei algumas atividades mais pesadas e voltei a sentir um pouco de dor, mas já estou em tratamento na clínica”, revela.
Segundo Carvalhaes, para prevenir a doença, é necessário um programa de exercícios de reforço da musculatura pélvica: os músculos retos abdominais, os do períneo e os músculos da nádega através de fisioterapia. “Os indivíduos precisam exercitar mais os músculos no dia-a-dia. Em casa ou no trabalho, as pessoas também podem se exercitar e adquirir hábitos saudáveis para manter uma boa postura e evitar a síndrome”, conclui.