Um fantasma ronda o Brasil, o fantasma da Lista Fechada. Sei lá o que Marx diria desse abuso, dessa paródia de sua célebre introdução ao Manifesto, mas o fato é que esse fantasma, muito mal comparando, está incomodando e muito, a muitos brasileiros sinceramente preocupados com nosso país. O fantasma que rondava a Europa se esfumaçou, mas deixou aqui um borralho que parecia calmaria, e não é: é rescaldo mesmo.
Começo pelo princípio: o que será que levou esse Congresso, tão completamente desligado do Brasil real, a entrar nessa agitação, nessa ânsia por uma Reforma Política até agora enfiada num dos mais encafurnados escaninhos de sua memória? O que foi que provocou essa espécie de vírus, um tipo de catapora, uma dança de São Guido, que não quer deixar Suas Nobrezas quietinhas como estiveram nos últimos anos?
Será medo de perder o troféu, o galardão de Deputado Federal, o assento no Paraíso Senatorial? Ou estou sendo absolutamente injusta e eles estão horrorizados com os escândalos que pipocam por todo o Brasil, de Brasília aos Palácios dos Governos Estaduais e desses às Prefeituras e Câmaras de Vereadores de todas as Sucupiras da nação?
Lembro de um tempo em que éramos gratos aos servidores públicos petistas por nos manterem a par das traquinadas de então. O que o PT esqueceu, ou prefere esquecer que existe, são os funcionários públicos que aprenderam com o PT a se indignar com o erro e só mudaram de camisa. Vermelha com estrelinha, nunca mais. Mas alertar o país, sempre!
E a Lista Fechada, perigo dos perigos, acendeu entre eles o Alerta, esse sim bem vermelho. Alguém tem dúvida de quem seriam os escolhidos para figurar nas listas, em todos os partidos? O que nos leva a acreditar, por um segundo sequer, que uma lista dessas seria feita pensando no Estado a ser representado e no País? Não tenho dúvidas: as bailarinas, os cabeleiras, os turistas, os mensalinhos e mensaleiros, os suplentes, os afastados pelo eleitor de ontem, esses iriam compor as listas. E os caciques, claro, que deles é a força…
Não podemos continuar como estamos? O proporcional não deu certo? Claro que não, esgotou-se à medida que o país cresceu. Não funciona mais. Precisamos de um modo que seja verdadeiramente representativo, que o cidadão conheça em quem vai votar e tenha acesso direto a seu representante.
Nada pode ser pior do que essa lista montada nos gabinetes. Nós não temos nem partidos nem nomes para que seja esse o modelo de voto ideal para o Brasil. E sinto um cheiro de enxofre no ar ao ver o Governo Federal apoiar a Lista Fechada. Vai ver é impressão, é porque andei lendo sobre o bolivariano, mas que o cheiro paira no ar, paira.
Cada um de nós deve formar sua opinião e não é esta articulista quem vai ter a arrogância de achar que vai influir na opinião de algum leitor. Ficaria feliz, isso sim, se colaborasse para que alguns, ou se possível, quase todos, parassem um instante para pensar nesse tema tão importante para nós.
Não sou cientista política, profissão que sempre me pareceu, assim como economista e psicanalista, um meio caminho entre a realidade e o que gostaríamos que fosse, entre e verdade e a fantasia. Sempre digo e repito: os sapateiros devem se ater aos seus sapatos e eu fico aqui, fazendo sapatinhos. Mas gostaria de respostas simples a perguntas também simples:
Por que esse tema brotou com tanta intensidade logo agora?
Qual a dificuldade em fazer como a grande maioria dos países e adotar o voto distrital?
Ou fazer como na Alemanha e adotar o voto distrital misto?
Por que temos sempre que ser a vanguarda do atraso?
Autora: Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa