Sabe por que aquela dieta funciona tão bem para a sua irmã e não faz efeito para você? O geriatra Eduardo Gomes de Azevedo, diretor da rede de Clínicas Anna Aslan, tem a resposta para esta pergunta. “Nosso metabolismo funciona de maneira única e a diferença entre a dieta apropriada para você e a mais adequada para sua irmã está no DNA”, defende o médico.
Eduardo Gomes nos explica como a informação genética é determinante para a saúde. “Durante a vida, os genes que herdamos dos nossos pais – que determinam as características físicas como cor dos olhos, altura e tipo de cabelo, assim como as doenças a que estamos mais predispostos a desenvolver ao longo da vida – reagem ao meio em que vivemos. Nossas escolhas alimentares, por exemplo, são capazes de inibir ou ativar certas partes do nosso código genético. Assim, os genes podem interagir de maneiras diferentes em cada organismo”, explica o geriatra, que também é adepto da terapia ortomolecular.
As descobertas do Projeto Genoma Humano nos possibilitaram a interpretação das informações contidas no DNA. “Com isto, por meio de um teste preditivo genético, começamos a compreender como os genes respondem a cada nutriente ingerido. Com estes dados em mãos, abre-se a perspectiva de se poder prescrever uma dieta única para cada paciente, voltada para o emagrecimento ou para a prevenção de doenças. A nutrigenômica, ciência que estuda a interação entre genes e alimentos, nos oferece o embasamento científico para tanto”, diz Eduardo Gomes.
Já sabemos que certos nutrientes são capazes de alterar a expressão dos genes, alguns têm sua ação estimulada ou inibida, o que influencia diretamente na manifestação ou não de uma doença, seu desenvolvimento e sua progressão. Variações genéticas individuais também afetam a forma como os nutrientes são assimilados, metabolizados, armazenados e excretados pelo corpo.
Papel fundamental do DNA
Hoje, temos a certeza de que os alimentos afetam a estrutura do DNA e o funcionamento dos genes. Quanto mais íntegros os genes, menor a probabilidade de desenvolvermos a maioria das disfunções e das doenças, especialmente câncer, infertilidade, distúrbios de crescimento e doenças degenerativas do cérebro, como Alzheimer. “Diversos fatores agridem o DNA e ele deixa de funcionar como deveria. A exposição a determinados tipos de radiação ou elementos químicos – incluindo poluição e agrotóxicos – além de deficiência de certos nutrientes são alguns deles”, enumera o diretor da rede de Clínicas Anna Aslan.
A alimentação é o fator ambiental extremamente importante na preservação da integridade do DNA. “Pequenas variações na concentração de nutrientes podem afetar a estrutura do genoma tanto quanto altas doses de radiação. A nutrigenômica nos ensina que uma das soluções para se viver mais e melhor está no prato, mais especificamente em um cardápio exclusivo e capaz de interferir na atuação dos genes de cada pessoa”, diz Eduardo Gomes.
Cientistas em todo o mundo trabalham em pesquisas para tentar descobrir a dieta ideal para cada ser humano e os alimentos que podem influenciar de maneira benéfica nossa herança genética. Nesse sentido, até agora, cerca de mil genes humanos ligados a doenças já foram identificados, assim como os nutrientes que tem ação sobre eles. No campo da nutrigenômica, já foram identificados genes que predispõem o organismo a consumir mais calorias, outros que influenciam as preferências alimentares por cafeína e doces, outros que favorecem as infecções no tecido adiposo – uma das maiores causas de obesidade. “Assim que soubermos todos os componentes alimentares que interagem com esses genes, teremos um caminho para controlar o apetite, a absorção de nutrientes, dentre outros aspectos envolvidos na digestão, tudo por meio da alimentação”, explica Eduardo Gomes.
Os Estados Unidos já aplicam os conceitos da nutrigenômica na prática. “Sabendo quais os genes associados e quem tem predisposição genética para desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e determinados tipos de câncer, alguns pacientes já seguem dietas específicas para agir sobre a parte do código genético que predispõe a esses males”, informa o geriatra.
O foco principal da nutrigenômica, hoje, é tratar doenças e/ou evitar o seu aparecimento. A relação genes e alimentos mais estudada é a que interfere na manifestação de doenças cardiovasculares, diabetes, síndrome metabólica e hipertensão, além de osteoporose, obesidade, câncer e doenças neurológicas, como mal de Alzheimer. “Mas em breve, a ciência avançará e voltará os olhos para outras áreas. Em poucos anos, saberemos todos os genes envolvidos não apenas no aparecimento de males, mas também nos aspectos que envolvem auto-estima, envelhecimento e o prazer de viver”,defende terapeuta ortomolecular.
Dietas personalizadas
Diante de todas as informações que dispomos hoje, os profissionais de saúde podem contar com os testes preditivos genéticos para prescreverem os alimentos certos para cada indivíduo. Aí, o sucesso da dieta só dependerá mesmo do paciente. “Emagrecer ou prevenir o aparecimento de uma doença será mais fácil, pois, afinal, você não seguiria com dedicação um cardápio exclusivo para te deixar com a pele bonita, mais magra, com um pique total e, ainda, livre de uma doença que incomoda a sua família há gerações?”, pergunta Eduardo Gomes.