Uma nova abordagem cirúrgica para a redução do estômago de indivíduos com obesidade mórbida, chamada de gastrectomia vertical com anel (GVA), pode, futuramente, ocupar o lugar da técnica Fobi-Capella, atualmente utilizada em 75% das cirurgias bariátricas realizadas no país.
Apesar de ser a opção mais viável para a maioria dos obesos mórbidos frente às inúmeras doenças que podem desencadear devido ao excesso de peso, a técnica Fobi- Capella acarreta uma diminuição drástica da absorção dos nutrientes pelo organismo e obriga as pessoas a reporem, de forma medicamentosa, vitaminas e sais minerais pelo resto da vida.
Já a técnica GVA mostrou-se uma opção menos prejudicial aos pacientes no aspecto nutricional. Além de não impedir que as vitaminas e sais minerais dos alimentos sejam absorvidos normalmente, também demandou um tempo menor de cirurgia e de internação.
A conclusão é de um estudo desenvolvido por pesquisadores das universidades federais de São Paulo (UNIFESP) e do Espírito Santo (UFES), que comparou os impactos clínicos, após um ano de cirurgia, das duas técnicas, ambas realizadas por laparoscopia, em 65 mulheres com obesidade mórbida. Em 32 mulheres, os pesquisadores utilizaram a cirurgia por derivação gástrica e, em outras 33, a gastrectomia vertical com anel (GVA). A perda de peso e o controle de doenças como hipertensão, diabetes e síndrome metabólica foram semelhantes em ambos os grupos. Apenas na diminuição dos níveis de mau colesterol (LDL) e de triglicérides é que a antiga técnica foi mais eficaz.
Alternativa para aqueles que não podiam operar
De acordo com os autores do estudo, João Luiz Moreira Coutinho de Azevedo, professor associado da Disciplina de Técnica Operatória e Cirurgia Experimental da UNIFESP, e Gustavo Peixoto Soares Miguel, professor assistente do Departamento de Cirurgia da UFES, é justamente a preservação do processo digestivo, que envolve a passagem do alimento ao longo de todo o tubo digestório, sem desvios, que possibilita ao organismo absorver os nutrientes necessários. “Outra vantagem para o paciente é que a desembocadura de seus canais biliares e pancreáticos no intestino superior continua a ser acessível mediante endoscopia, e dessa forma pode-se diagnosticar e tratar cálculos que venham e formar-me após o emagrecimento”, afirma Azevedo.
Segundo ele, a GVA ainda não obteve o reconhecimento pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), mas, desde julho deste ano, é reconhecida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). “Atualmente a GVA se tornou uma alternativa para obesos mórbidos que não tinham indicação cirúrgica pela técnica convencional devido a algumas doenças inflamatórias crônicas dos intestinos e à cirrose do fígado com aumento da pressão venosa neste órgão”.
O estudo foi apresentado em 2008 no 13º Congresso Mundial da Federação Internacional de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, em Buenos Aires, e defendido, na UNIFESP, como tese de doutorado do cirurgião e professor Gustavo Peixoto Soares Miguel, da UFES.
Entenda como funciona cada método
Fobi-Capella (cirurgia bariátrica por derivação gástrica)
Na versão atual da cirurgia de redução de estômago, apesar de preservado, o órgão é grampeado e reduzido em até 95%. A parte do estômago que ficará atuante, e que é menos elástica, é ligada ao intestino, impedindo que os alimentos passem pelo duodeno e que os nutrientes sejam absorvidos corretamente. A capacidade do órgão fica reduzida entre 20 e 40 ml. A dieta, entretanto, é bastante restrita.
Gastrectomia Vertical com Anel (GVA)
O novo método proposto é irreversível, uma vez que 80% do estômago – porção responsável pela produção do hormônio que estimula o apetite (grelina) – é retirado e os outros 20% é grampeado, sem alterar o processo digestivo, ou seja, o alimento não passa por nenhum atalho antes de chegar ao intestino. Os nutrientes, neste caso, são absorvidos normalmente pelo organismo.
Obesidade e expectativa de vida
A obesidade é uma doença de causa multifatorial e com prevalência cada vez maior, acometendo milhões de pessoas no mundo todo. É fator de risco independente para o desenvolvimento de diversas doenças associadas como diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemias, síndrome metabólica, entre outras. Esse risco é ainda maior quando a obesidade é mórbida – índice de massa corporal acima de 40.
Estudos apontam que a obesidade mórbida reduz em até 12 anos a expectativa de vida quando comparado a indivíduos com peso normal, além de causar prejuízos no âmbito psicossocial, com preconceitos e frustrações por repetidos insucessos em tratamentos clínicos para a perda de peso.
Sobre a UNIFESP
Criada em 1933 por um grupo de médicos reunidos em uma sociedade sem fins lucrativos, a Escola Paulista de Medicina (EPM) foi federalizada em 1956 e, em 1994, transformada em Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), primeira universidade especializada em saúde no País. Atualmente, com 18 mil alunos matriculados nos cursos de graduação, pós-graduação e demais programas de pós, a UNIFESP conta com 874 docentes, sendo que 93% possuem título de doutor, um percentual que marca a qualidade de ensino oferecida por uma das universidades que mais cresce no País.