Com o lançamento da vacina contra o HPV, muitos pais têm procurado os consultórios dos pediatras com dúvidas sobre o assunto. Isso porque a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a vacina contra o papilomavirus humano (HPV), a partir dos 9 anos. E muitos acham essa data precoce demais. Para o médico infectologista Marcelo Genofre Vallada, do Hospital Infantil Sabará, a polêmica existe porque alguns pais acham que assim as adolescentes iniciariam sua vida sexual mais cedo, justamente por causa da vacina.
“Não há nenhuma evidência de que isso possa acontecer. Muito pelo contrario. Quem recebe a vacina são meninas e mulheres que se preocupam com sua saúde ou cujas famílias são mais esclarecidas em relação ao risco da doença e procuram proteger suas filhas, criando mais oportunidades para conversar sobre a sexualidade e a prevenção”, opina o médico.
Não disponível na rede pública de saúde, a vacina contra o HPV tem um custo elevado e deve ser administrada em três doses. De acordo com o infectologista do Hospital Infantil Sabará, as vacinas contra o HPV não têm ação terapêutica. “Ambas são vacinas profiláticas e devem ser administradas antes da exposição ao vírus, ou seja, idealmente antes que as adolescentes iniciem sua vida sexual”, esclarece.
O HPV é um vírus que está associado a diferentes tipos de câncer, mas principalmente ao de colo uterino e à verruga genital. Há mais de quarenta tipos de HPV que podem causar doença no ser humano, alguns são muito frequentes, outros muito raros. O infectologista explica que duas vacinas estão disponíveis no Brasil para a prevenção da doença causada pelo HPV, com diferenças importantes entre elas.
“A vacina bivalente protege diretamente contra os dois sorotipos mais freqüentemente associados ao câncer de colo uterino (16,18) e dá proteção indireta (proteção cruzada) contra dois outros tipos também associados ao câncer (31, 45). A vacina quadrivalente protege diretamente contra quatro tipos de HPV, dois deles associados ao câncer de colo uterino (16 e 18) e dois deles associados a 90% dos casos de condiloma (verruga genital) (6,11), porém não há demonstração de que haja proteção cruzada (indireta) significativa contra outros sorotipos”, detalha Vallada.
Pesquisa recente da Fiocruz trouxe um dado preocupante que reforça a importância da vacinação. Uma em cada quatro adolescentes sexualmente ativas está contaminada com o HPV com menos de um ano de atividade sexual. Esse número aumenta para 40% em meninas com cinco anos de atividade sexual. O levantamento ainda preocupa porque mostra que elas não usam camisinha – outra forma estratégica para prevenção das DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Como muitos pais às vezes têm medo dos efeitos colaterais da vacina, o médico deixa claro que as duas vacinas são produzidas apenas com a proteína da superfície do vírus, sem a presença do agente infeccioso, o que as tornam muito seguras. “Ambas são administradas em esquema de três doses, a partir de 9 anos. Recomendo a vacina a partir dos 9 anos. Mas a administração entre 11 e 13 anos pode ser interessante porque muitas meninas já tiveram a menarca e já estão recebendo orientação sobre sexualidade e prevenção. A vacinação nesta idade entraria em um contexto maior, sobre cuidados com a própria saúde. Mas a eficácia é exatamente a mesma se for administrada aos 9 ou aos 11 anos”, opina.
Vale frisar que as vacinas contra o HPV têm ação terapêutica: elas não curam uma infecção que já tenha ocorrido. Ambas são vacinas profiláticas, que devem ser administradas antes da exposição ao vírus. A vacina pode ser administrada por quem já iniciou a atividade sexual, só que, se já houve infecção, ela não vai ser mais eficaz. Por ser uma vacina de uso recente, ainda não está estabelecida qual é a duração da proteção propiciada pela vacinação.
Cerca de 4.000 mil mulheres morrem por ano no Brasil por causa do vírus HPV, responsável pelo câncer de colo de útero, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Sobre o Hospital Infantil Sabará
Tradicionalmente conhecido por sua eficiência e bons resultados, o Hospital Infantil Sabará nasceu no início dos anos 60, quando um grupo de médicos pediatras resolveu criar um serviço diferenciado. A partir daí o complexo hospitalar se firmou como centro de referência na área, sendo o primeiro hospital a inaugurar uma UTI pediátrica em 1974. No início de 2010, o hospital passa a atender na avenida Angélica, nº 1.987, em um novo prédio de 17 andares que tem um conceito moderno e inovador.