Quase 2 mil pessoas sofreram esse tipo de intervenção na rede pública
do Rio por problemas vasculares nos últimos dois anos. SBACV-RJ indica
prevenção com hábitos saudáveis e acompanhamento médico
Apesar dos avanços na medicina, ainda há pessoas sendo amputadas por complicações na circulação sanguínea. E não são poucas. Para se ter uma idéia, somando os dados de 2008 e 2009, 1849 passaram pelo procedimento nos hospitais públicos do Estado do Rio. Somente em janeiro de 2010, foram 84. O que está faltando para diminuir essa estatística? Por conta da gravidade do assunto, este é um dos temas apresentados e discutidos no 24º Encontro de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro por especialistas nacionais e internacionais. Ele ocorre entre os dias 18 e 20 de março, no Windsor Barra Hotel & Congressos.
Avanços no mundo
Estima-se que mais de 90% dos pacientes com gangrena poderiam evitar a amputação ou limitá-la a uma parte do pé, se tivessem se tratado antes de chegar a esse estágio de morte do tecido. O especialista Marc Bosiers, chefe do Departamento de Cirurgia Vascular do General Hospital Saint Blasius, da Bélgica, irá apresentar sua experiência em tratamento inicial de gangrena e úlceras em estado avançado com intervenção endovascular. Trata-se de operação dentro da aorta com uso de cateteres. Bosiers observa uma baixa taxa de eventos adversos em relação ao procedimento convencional e avalia que a tecnologia nessa área está em evolução promissora. Já o cirurgião vascular John Hallet, do Roper Hospital, dos Estados Unidos, irá falar sobre o novo papel dos transplantes de medula óssea na isquemia crítica, que é a extrema falta de circulação na perna.
Brasil deve oferecer mais próteses
Há uma questão social importante que também deve ser levada em conta. “Nos EUA, quando há uma necrose no pé, por exemplo, os médicos amputam até a coxa e o paciente no dia seguinte recebe uma prótese. No Brasil, infelizmente, apenas 10% chegam a receber esse benefício e os outros ficam restritos ao leito”, compara Rossi Murilo. Todo cidadão que sofre esse procedimento tem direito a receber uma prótese pelo SUS. “Entretanto, a média de próteses oferecidas no Rio de Janeiro é de 40 por ano. Somente em 2009 foram amputadas 914 pessoas”, completa o angiologista e cirurgião vascular Paulo Márcio Canongia, que irá apresentar no 24º Encontro os obstáculos que devem ser vencidos no Brasil para se diminuir a necessidade dessa intervenção, as novas terapias e o que está sendo feito no país.
Prevenir é sempre o melhor
A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ) recomenda que doenças de base, como o diabetes, a hipertensão, o tabagismo e o colesterol, por exemplo, sejam controladas, porque elas podem levar à isquemia crítica. Para isso, indica uma vida saudável, com atividade física regular e consumo de alimentação balanceada, com frutas, legumes e verduras. “Essa é a melhor forma para se evitar a obstrução nas artérias, chamada de aterosclerose. Para avaliação da saúde vascular, é preciso consultar um especialista na área desde o início dos primeiros sintomas de dor nas pernas ao caminhar”, ressalta Canongia.
Como evolui para amputação
Geralmente, tudo começa com a chamada claudicação intermitente: “Ao caminhar, a pessoa sente dor na panturrilha e precisa parar. Quando volta a andar, a dor recomeça”, explica o angiologista e cirurgião vascular Paulo Marcio Canongia. Com o agravamento da obstrução arterial, o fluxo sanguíneo é reduzido gradativamente e a distância que o paciente consegue andar vai diminuindo proporcionalmente. Tem início a isquemia crítica, que é a situação máxima de falta de circulação. “Com a dor contínua no local, mesmo em repouso, o quadro pode evoluir para ferida e, por fim, para a gangrena”, conclui.
Atualmente, além das intervenções convencionais para o desentupimento da artéria da perna, estão sendo feitas angioplastias. Um stent, que é uma espécie de mola, fica definitivamente no lugar da dilatação e garante o fluxo de sangue. “O especialista avalia qual a melhor opção em função do risco cirúrgico, idade, expectativa de vida, disponibilidade de safena, grau e extensão da lesão, entre outras”, diz Canongia. Se esse tipo de procedimento não for realizado, haverá morte do tecido e será preciso amputar. Quanto mais cedo procurar um médico, melhores serão as chances do paciente em manter a perna.
Angiologistas se reúnem na Barra
Entre os dias 18 e 20 de março, ocorre na Barra da Tijuca o 24º Encontro de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro. Especialistas nacionais e internacionais irão apresentar e discutir temas atuais da área, controvérsias e aplicabilidade clínica. Organizado e coordenado pela SBACV-RJ, é presidido pelo angiologista e cirurgião vascular Manuel Julio Cota. Informações: www.sbacvrj.com.br.