Atualmente, não é novidade que as mulheres vêm adiando cada vez mais uma gravidez em nome da carreira. Já em outros casos, elas simplesmente não encontraram o “homem certo” e vêem o tempo passando. Há também aquelas que, infelizmente, irão começar um tratamento de quimioterapia, por exemplo, o que provavelmente irá prejudicar suas chances de engravidar. Assim, para todos esses casos uma das opções que aquelas que sonham em ser mãe encontram é o congelamento de óvulos. Trata-se de um dos mais recentes avanços de Medicina Reprodutiva e, como todos os outros que vieram anteriormente, passou por um período de questionamento, próprio das novas técnicas.
Praticamente, todos os novos procedimentos atravessam um período de controvérsias até que possam ser realizados e testados por um número cada vez maior de profissionais. Com a experiência já obtida ao longo dos anos, a nova técnica já não é mais experimental havendo um consenso e aprovação pela comunidade científica. A cada ano o congelamento de óvulos prova a sua importância e eficácia com os resultados positivos apresentados. O Centro de Reprodução Humana do IPGO – Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia já oferece este tratamento há algum tempo às suas pacientes.
“O crescimento na procura deste procedimento está ao redor de 10% ao ano, mas deveria ser muito maior se considerarmos a melhora da tecnologia e dos resultados de gravidez” – afirma o Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi. A maioria é formada por mulheres que estão envelhecendo. É importante que elas tenham noção da perda da fertilidade no decorrer dos anos. Porém, também é necessário que os oncologistas saibam entender a importância da fertilidade que pode ser perdida com a quimioterapia, principalmente se a paciente não tiver filhos, e as avisarem sobre esta técnica.
Para Dr. Arnaldo, negar as alternativas e responsabilizar-se pelo futuro reprodutivo da paciente é ter pronta a resposta para uma possível pergunta no futuro: Doutor, se eu tivesse congelado os meus óvulos naquela época que conversamos, eu não teria alguma chance de ter filhos agora? “Hoje em dia a chance da gravidez com óvulos congelados atinge 40% (variável de acordo com a idade da mulher) e, quem sabe no futuro, venha aumentar ainda mais” – afirma o médico.
O início
O primeiro caso de gravidez com óvulo congelado ocorreu em 1986. Durante esses anos passados e até há pouco tempo os resultados eram muitos precários, com uma taxa de gravidez baixa, ao redor de 1%. Dr. Arnaldo Schizzi Cambiaghi, do IPGO explica: “A justificativa para estes resultados desanimadores estava na técnica de congelamento inadequada para os óvulos. O óvulo é uma célula mais sensível que as demais e carrega dentro de si uma quantidade maior de água quando comparada às outras”.
Quando se usava a técnica de congelamento habitual, a mesma que era utilizada para o congelamento de embriões, formava-se no interior do óvulo uma grande quantidade de cristais de gelo, que danificavam a estrutura da célula e causavam alterações cromossômicas que impediam ou dificultavam a fertilização da maioria dos óvulos, a divisão celular e a implantação dos embriões.
Esta rotina de insucessos foi quebrada há pouco tempo após as pesquisas da ginecologista italiana Eleonora Porcu, da Policlínica da Santa Ursula de Bolonha, na Itália. Há alguns anos quando o congelamento de embriões foi proibido naquele país, a Medicina Reprodutiva foi obrigada a procurar soluções para aproveitar os óvulos excedentes provenientes dos ciclos de fertilização in vitro. A saída foi aprimorar a técnica de congelamento de óvulos. Após várias pesquisas a Drª Porcu e seus assistentes aperfeiçoaram a técnica pela adição da substância 1 2 propaneoliol que desidrata a célula antes do início do congelamento, impedindo a formação de cristais de gelo.
Preservação da fertilidade
Sabe-se que a menina nasce com dois milhões de óvulos imaturos e que na menarca terá 400 mil. Durante a vida reprodutiva da mulher, todo mês, aproximadamente 1000 óvulos são recrutados, mas apenas um terá seu amadurecimento completo, assim 999 serão perdidos a cada mês. Portanto, a cada ano, são perdidos 12 mil óvulos. A somatória dos anos vividos mostra que após 30 anos restam pouquíssimos óvulos capazes de serem fertilizados. É o fim da “Reserva Ovariana”, da fertilidade e do sonho de ter o seu direito de iniciar sua família com os seus próprios óvulos. Hoje, percebemos que com o passar do tempo o ser humano vive mais. Talvez, seja o momento de pensarmos se não deveríamos também aumentar a longevidade reprodutiva de mulheres, já que o homem praticamente não tem limites.
Muitos estudos vêm sendo feitos com este intuito como os realizados por Jonathan Tilly da faculdade de Medicina de Boston, que descobriu o gene batizado de BAX, responsável pela atresia (ausência congênita ou oclusão de um orifício ou canal naturais) dos óvulos em macaco. Se houver semelhança com o ser humano e a possibilidade de sua função ser bloqueada, talvez a falência ovariana possa ser adiada. Outros estudos demonstraram que os ovários podem ter células tronco que, se estimuladas, poderiam fabricar óvulos saudáveis durante toda vida da mulher. Porém, esses trabalhos são promessas para o futuro. O congelamento de óvulos já é o presente mesmo se considerarmos as suas limitações.
O congelamento de óvulos e suas indicações
O congelamento de óvulos é uma alternativa para a preservação da fertilidade feminina e deve ser indicado em casos específicos. Embora seja considerada, por alguns, uma opção em fase experimental, como a própria Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) declarou em Setembro de 2004, os resultados positivos vêm demonstrando que, em breve, este conceito será modificado.
Atualmente, o congelamento tem maior chance de sucesso quando realizado com óvulos maduros, portanto, é necessário que a paciente passe por um processo idêntico ao da Fertilização in Vitro. Os ovários serão estimulados com drogas indutoras da ovulação, o crescimento dos folículos ovulatórios será acompanhado pelo ultrassom e, posteriormente os óvulos serão coletados sob sedação profunda. Em seguida, são encaminhados para o laboratório de reprodução humana, desidratados e congelados pela vitrificação.
Indicações:
1) Mulheres que serão submetidas a tratamentos oncológicos;
2) Mulheres solteiras com pouco menos de 35 anos preocupadas com a diminuição progressiva de sua fertilidade;
3) Mulheres com histórico familiar de menopausa precoce;
4) Fertilização in Vitro.