Transtorno neurológico progressivo, a doença de Parkinson tem prevalência estimada em 150 a 200 casos em cada 100.000 pessoas. A causa da doença ainda não plenamente definida aparenta ser multifatorial, com a participação ambiental e genética. Reconhecida por manifestações clínicas como tremores de extremidades, rigidez e movimentos lentificados, a doença de Parkinson acarreta problemas urinários em até 75% dos casos.
O aumento do número de micções, a necessidade de interromper atividades cotidianas para urinar e a incontinência urinária figuram entre as disfunções mais comuns. Estas manifestações de hiperatividade da bexiga podem estar associadas a dificuldades variáveis de esvaziamento vesical, o que torna o quadro ainda mais complexo e comprometedor da qualidade de vida. Urinar inúmeras vezes diuturnamente é o sintoma que mais limita o dia a dia destas pessoas.
Tal qual para outras situações de bexiga hiperativa o tratamento inicial está baseado na adoção de medidas comportamentais, atividades de fisioterapia e o tratamento medicamentoso oral com anticolinérgicos. Os resultados nem sempre satisfatórios desta classe de medicamentos e um índice considerável de eventos adversos, acarreta um abandono do tratamento de 80% após seis meses do seu uso.
Até pouco tempo não dispúnhamos de opções efetivas para estes casos refratários às medidas iniciais. A cirurgia de ampliação vesical encontra restrições significativas neste grupo de pacientes, quer pelo caráter progressivo da doença, quer pela idade dos acometidos – usualmente pessoas com faixa etária mais elevada. O advento da aplicação vesical da Toxina Botulínica surgiu como uma alternativa real para portadores de doença de Parkinson.
A redução do número de micções diurnas e noturnas e a retomada total da continência urinária cinco meses após a aplicação da Toxina Botulínica foram resultados apresentados em um estudo recentemente publicado na Europa. Constatações similares têm sido replicadas em estudos nacionais e internacionais com o uso da toxina botulínica no tratamento da bexiga hiperativa de causa neurogênica ao longo da última década.
Vale ressaltar que todo tratamento para a disfunção miccional deve ser individualizado para cada caso, de acordo com o grau de comprometimento da Doença de Parkinson. Apesar da grande proporção de pacientes com Parkinson que vivenciam os transtornos miccionais e das possibilidades de tratamento, ainda é muito reduzido o número dos que buscam atendimento especializado.
O constrangimento provocado pelas perdas involuntárias de urina, a associação do transtorno urinário à afecção neurológica e a falta de atenção devida pelos profissionais da saúde contribuem para esta situação. A melhora do padrão urinário é fundamental para melhorar a qualidade de vida tão comprometida pela doença de base.
Fonte: Dr. José Carlos Truzzi, doutor em urologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Autor do livro: “Bexiga Hiperativa: aspectos práticos”, ao lado da Dra. Miriam Dambros, pela editora O Nome da Rosa.