Um ano após sua última visita, o diretor do Federal Home Loan Bank of Atlanta e professor da George Washington University, William Handorf, voltou ao Brasil, à convite da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) e da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), para debater como se desenvolveu a crise econômica e quais as perspectivas da economia americana.
“Ainda há muitos bancos que estão com problemas nos Estados Unidos”, Handorf dá as más notícias logo de início. Segundo ele, o Governo norte-americano está tentando ajudar essas instituições, principalmente porque já viu as consequências de ter bancos falindo, mas isto está gerando muitos gastos. De modo geral, a economia está se fortalecendo, mas o diagnostico não é tão favorável como os Governos fazem parecer. “A antiga regulamentação financeira americana era um manual de 36 páginas. A nova regulamentação do Obama tem mais de duas mil, é tão ruim quanto à outra”, critica o economista.
Para Paulo Rabelo de Castro, presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, a situação pode ser comparada a dos médicos que, ao tratar alguém muito doente, falam que as coisas estão indo muito bem e tentam tranquilizar o paciente. “É isso que os Governos estão fazendo, mas nos podemos falar a verdade. E a verdade é que a coisa vai mal, muito mal”, afirma Rabello.
O diretor do Federal Home Loan Bank of Atlanta pondera que existe certo exagero em acreditar que 2011 e 2012 serão anos de forte crescimento econômico, tanto quanto em esperar uma nova recessão. “Eu acredito que teremos um crescimento, sim, mas um crescimento anêmico”, avalia Handorf. “Países como Brasil e China devem ter um crescimento mais expressivo, mas para o resto do mundo a crise foi um baque muito forte”, acrescenta.
Handorf ainda considera que a crise poderia ter sido evitada se, em 2004, os agentes financeiros tivessem sido mais responsáveis na hora de conceder crédito. “Poderíamos não ter crescido tanto, ou até entrado em recessão mais cedo, mas não seria uma recessão tão forte quanto foi a de 2008.”
Já o presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio acredita que o culpado é outro: o sistema de classificação de risco. “As agências praticam ratings obituários. Só alteram a classificação de risco depois que o óbito for atestado”, censura Rabello. “O mercado precisa assumir uma posição mais critica se quiser voltar a crescer”, conclui.
Sobre a Fecomercio
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Representa empresas e congrega 152 sindicatos patronais, que abrangem cerca de 700 mil companhias que respondem por 11% do PIB paulista – aproximadamente 4% do PIB brasileiro – gerando em torno de cinco milhões de empregos.