As cirurgias de transplante de córnea realizadas no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) possuem um novo aliado: o laser de femtosegundo, que utiliza um pulso hiper rápido de laser (um milésimo de bilionésimo de segundo), o Intralase. A instituição disponibiliza o tratamento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) atendidos pelo Programa de Transplante de Córnea do Instituto Israelita de Responsabilidade Social (IIRS).
Conforme explica o oftalmologista Adriano Biondi, coordenador do projeto, os pacientes são encaminhados a partir de atendimentos realizados em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) com as quais o Einstein mantém parceria, por intermédio da Secretaria Municipal de Saúde, além do Centro Diagnóstico de Oftalmologia da Unidade Einstein Vila Mariana. São quatro UBSs em São Paulo: Vila Formosa, Itaim Paulista, Jaçanã e Campo Limpo.
“Todos os exames de planejamento do transplante de córnea são viabilizados pelo Programa, que conta com o Intralase, para assegurar uma cirurgia de precisão”, diz o oftalmologista. Segundo ele, não se trata de atendimento SUS, mas, sim, de um atendimento filantrópico oferecido pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein (SBIBAE). O Programa deve fechar 2010 com 60 transplantes, e a expectativa é de elevar esse número no próximo ano.
“Os pacientes que precisam de avaliação para o transplante de córnea podem procurar o nosso Centro Diagnóstico de Oftalmologia na Vila Mariana para um primeiro atendimento. Ressalto, também, que o programa foca a resolução de patologias da córnea”, diz Biondi.
Indicações – A tecnologia do laser femtosegundo também é utilizada em cirurgias refrativas (miopia e astigmatismo) e implantes de próteses (anéis) intracorneanos para o tratamento de ceratocone. Segundo o oftalmologista Claudio Luiz Lottenberg, presidente do HIAE, esse trabalho é realizado há um ano, com ótimos resultados. “Passamos a utilizá-lo também nos transplantes de córnea com o objetivo de obtermos maior segurança e precisão”, ressalta.
Trata-se de um laser ultra-rápido e aplicado com altíssima potência, permitindo que o corte seja realizado de maneira extremamente focada e com baixa lesão dos tecidos circundantes. “O grande ganho é que a precisão oferecida pelo laser femtosegundo permite um encaixe mais preciso da córnea doada com a do receptor. Esse encaixe faz com que a área de contato entre os tecidos receptor e doador seja maior, diminuindo o risco de rejeição e garantindo uma recuperação mais rápida”, explica Lottenberg.
Procedimento – Antes da cirurgia, uma análise da córnea do paciente é realizada e alimenta um software que auxilia no planejamento de toda a operação, com foco nos locais exatos de onde devem ser realizadas as incisões.
Durante a cirurgia, além de o médico contar com o mapeamento preciso dos pontos a serem trabalhado com o laser, a rapidez e a potência do equipamento permitem que as incisões sejam realizadas em poucos segundos, praticamente sem riscos.
Nesses segundos, o olho do paciente é mantido imóvel por um sistema de vácuo e o foco da aplicação é coordenado pelo cirurgião mediante o planejamento dos parâmetros da cirurgia. Além de rápido, o procedimento é possível de ser realizado com anestesia por colírio, o que também oferece mais segurança para o paciente, já que não há necessidade de anestesia geral.
Conforme explica Adriano Biondi, o femtosegundo é capaz de interagir com o tecido corneano – que é transparente – e liberar micro bolhas de gás carbônico (CO2). Essas microbolhas, quando criadas sistematicamente e de maneira coordenada, são capazes de formar planos de clivagem (divisão) na córnea, com muita precisão.
“A plataforma que utilizamos no HIAE nos permite visualizar toda a aplicação do laser diretamente através de um microscópio, que torna o procedimento mais seguro e controlado. As técnicas anteriores que não utilizavam o Laser de Femtosegundo apresentavam maior variabilidade de resultado e maior imprevisibilidade”, acrescenta Biondi.
Riscos – Os maiores riscos relacionado às cirurgias refrativas eram os chamados flaps – finas placas de tecido – que antes eram obtidos por meio de lâminas. Com o laser de femtosegundo esse risco foi minimizado. Os flaps passaram a ser obtidos com a separação precisa dos tecidos pela ação do laser, que separa o tecido corneano a partir de microbolhas de CO2 liberadas pela interação da energia emitida com o tecido da córnea.
Esse aspecto do novo procedimento também oferece mais segurança ao paciente. Essas bolhas são absorvidas pelos tecidos em 24 horas. Portanto, se a incisão for inadequada ou realizada em local errado, o procedimento pode ser abortado – enquanto o organismo absorve as bolhas sem sofrer nenhum dano – e efetivado em outro dia.
Além disso, durante a cirurgia, o médico conta com um monitor com imagens digitalizadas que conseguem programar as incisões do laser. É possível visualizar a sua ação antes mesmo das próprias aplicações, possibilitando qualquer correção, caso seja necessária, imediatamente.
Novos formatos de cortes – Durante cerca de 30 anos, os cortes em cirurgias de córnea eram feitos sempre em formato cilíndrico. Com o laser femtosegundo, os cortes podem ter vários formatos. Essa possibilidade é exatamente o que permite um encaixe perfeito dos tecidos no caso dos transplantes.
Recuperação – Com a nova técnica, a recuperação pós-operatória é mais rápida e menos desconfortável para o paciente, porque se reduz a necessidade de suturas (pontos). A qualidade refrativa é melhor com menor indução de astigmatismo no pós-operatório.