A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) considera insuficiente a redução dos gastos públicos correntes em cerca de R$ 10 bilhões esse ano, conforme indicou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como tentativa de conter um eventual superaquecimento da economia brasileira. “A iniciativa do governo lembra um pouco aquela metáfora de se colocar uma tranca resistente na porta depois de já ter ocorrido o arrombamento. Há anos, temos alertado a administração pública sobre a necessidade de cortar gastos, tornar-se mais eficiente, de forma a estabelecermos as condições de crescer de uma forma sustentável”, observa Fabio Pina, economista da Fecomercio. “Só com uma redução drástica das despesas correntes teremos condições de equilibrar a economia e romper com o ciclo pernicioso de aumento dos juros para tentar conter a inflação”, adiciona, ao ponderar, entretanto, que uma reforma fiscal ainda pareça ser um “sonho de difícil realização” no País.
O economista lembra que vários analistas têm evidenciado o crescente exagero dos gastos correntes no Brasil. Exatamente por isso, observa, um ajuste muito maior do que os R$ 10 bilhões se faz necessário, independentemente dos resultados primários das contas públicas. “O País não deve atingir um superávit primário de nem 2% do Produto Interno Bruto, quando a meta é de 3,2% e já tivemos, um dia, uma proporção de 4,5%. Esse superávit primário de 2% não é suficiente para manter estável a relação entre dívida e PIB”, alerta.
Uma vez que o consumo das famílias é crescente, conforme têm mostrado os indicadores disponibilizados pela Fecomercio, e o investimento das empresas também está em evolução, é natural que o equilíbrio da economia brasileira passe pela contenção de despesas governamentais. “Em vez de ser motivo de comemoração, o aumento do consumo das famílias e os investimentos empresariais tiram o sono do governo. E essa insônia decorre exatamente pela incapacidade dos gestores públicos em conter suas despesas. O resultado é que surge uma enorme pressão sobre a balança de comércio e serviços, pressões inflacionárias e esse apressamento em agir agora, de forma açodada e sem planejamento, para conter os gastos”, analisa. “Tomara não voltemos aos tempos dos pacotes que surgiam sempre para resolver problemas em sua fase extrema.”
Sobre a Fecomercio
A Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo) é a principal entidade sindical paulista dos setores de comércio e serviços. Representa empresas e congrega 152 sindicatos patronais, que abrangem mais de 600 mil companhias que respondem por 11% do PIB paulista – cerca de 4% do PIB brasileiro – gerando em torno de cinco milhões de empregos.