Ator, compositor e cantor revela os bastidores de sua trajetória na televisão, teatro, cinema e nos palcos na obra a ser lançada pela Coleção Aplauso no dia 22 de novembro (segunda-feira) no Rio de Janeiro. Maurício Mattar nunca foi unanimidade. Talvez isso explique o tom confessional em “De Peito Aberto”, depoimento concedido a Tania Carvalho para a Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Aos 46 anos, esse carioca de porte atlético, sorriso franco e estampa de galã aproveita a oportunidade para rever sua carreira na TV, teatro, cinema e no show business. Sem censura, encara assuntos polêmicos como a separação dos pais, a infância vivida na casa de parentes, a fama de bad boy, os atritos com gravadoras, os quatro casamentos, a relação com as drogas e a religião. O lançamento está marcado para o dia 22 de novembro, segunda-feira, a partir das 19 horas na Livraria da Travessa, em Ipanema, Rio de Janeiro – Rua Visconde de Pirajá, 572.
Já no capítulo inicial, sugestivamente denominado “Tempo de Falar”, Maurício diz que aceitou ser biografado porque a geração mais nova desconhecia seu trabalho. “Há quem diga que estou na crise dos 40”, se diverte. Também queria evitar que as pessoas criassem mais confusão em torno de seu nome. “Acho até que, em alguns momentos da minha juventude, alimentei tudo isso”, afirma. O certo é que hoje ele se considera um homem mais equilibrado. “Não sou mais de saltos, arrancos, turbulências. Tudo o que passei me serviu de lição. Se vou errar, quero erros novos”, desabafa.
Ao contrário de boa parte das crianças, a separação dos pais aos cinco anos não foi um trauma para Maurício. O problema viria depois. Morou em casa de parentes e viveu a infância entre a Tijuca, Copacabana e o Realengo. Tolhido pela tia, foi estudar teatro para ter uma profissão. Aos 14 anos, saiu de casa e foi morar com amigos.
Graças a uma bolsa de estudos concedida por Maria Clara Machado estudou no Teatro Tablado, onde conheceu os então estudantes Andréa Beltrão, Pedro Cardoso, Fernanda Torres e Chico Diaz. Nesta época, ganhava uns trocados como palhaço, trabalhando na dupla “Birosquinha e Bacalhau”. Às vezes, dormia na rua por falta de dinheiro para a condução. Em 1982, estreou sua primeira peça profissional: “Capitães de Areia”, dirigida por Carlos Wilson.
O sucesso levou à montagem de “Os 12 trabalhos de Hércules”, premiada com o Mambembe de melhor espetáculo infantil. Ao protagonizar “O Guarani” foi convidado por Paulo Ubiratan a participar da novela “Roque Santeiro”, que estreou em 1985. Ao clássico de Dias Gomes, seguiram as novelas “Cambalacho” e “Rainha da Sucata” (Sílvio de Abreu), “Lua Cheia de Amor” (Ricardo Linhares), O Salvador da Pátria (Lauro César Muniz). A consagração veio com o papel principal de “Pedra sobre Pedra” (Aguinaldo Silva).
Incentivado por Caetano Veloso e outros músicos partiu para seu primeiro disco “No fundo do poço”, dirigido ao mercado pop romântico por decisão da Sony Music. Gravou quatro discos em cinco anos, que venderam mais de 100 mil cópias. Tornou-se o astro principal de megashows. Meio cantor, meio ator começou a falar mal da profissão de ator, o que “machucou muita gente”. Ao sair da Sony, passou por uma gravadora holandesa até chegar a Som Livre, com a qual gravou “O Meu Segundo Disco”, lançado com sucesso na Europa.
Ao falar sobre seu trabalho para a TV, lembra que a novela “A Viagem” (1994), a última escrita por Ivani Ribeiro, o fez reencontrar a doutrina espírita que aprendeu com o pai. Aliás a religião é algo muito presente em sua vida. Se declara praticante e estudioso do budismo, pratica yoga e meditação.
Do ponto de vista afetivo, Maurício, depois de três casamentos, vive hoje uma relação “madura, tranquila e estável” com a bailarina Keiry Costa, cuja filha Nahuana Costa considera “filha do coração”. Por ela tem tanto carinho quanto por seus filhos Luã, Rayra e Petra. Pai coruja assumido, diz ter errado muito nos seus relacionamentos afetivos pelas dificuldades que teve com as figuras femininas na infância.
O último capítulo de sua biografia é dedicado aos aspectos polêmicos ligados à sua imagem e ao rótulo de bad boy. Neste período foi tachado de dependente químico ao se internar num spa para “tirar toda a química do sangue”.
“Muita gente foi para a imprensa falar horrores de mim e virou uma carnificina”, desabafa. Embora tenha convivido com dependentes químicos, Maurício se declara um homem do esporte. É surfista, piloto profissional de vôo livre e faixa preta de jiu-jitsu. Apesar dos dissabores, ele confessa ter aprendido muito com o episódio. “Os inimigos são a grande jóia do praticante. Ou seja, é na dor que mais aprende. (…) E o mocinho, depois de apanhar muito, se conseguir ficar de pé, acaba como herói”.