A catarata, opacificação do cristalino, lente natural do olho responsável pelo foco, é a doença ocular que mais cresce no Brasil por conta do envelhecimento da população. Levantamento do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) aponta que a doença, maior causa de cegueira tratável, atinge 17,6% dos brasileiros com até 65 anos e 47,1% dos que têm idade entre 65 e 74 anos.
A boa notícia é que a ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) acaba de aprovar uma lente intra-ocular suplementar que pode liberar do uso de óculos quem já passou pela cirurgia, única forma de tratar a doença. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, a lente suplementar corrige erros refrativos residuais da cirurgia de catarata. Este é um problema comum à maioria dos brasileiros que já fizeram a operação. Isso porque, explica, as lentes intra-oculares multifocais são recentes no Brasil. Por isso, 9 em cada 10 usam lentes monofocais. Resultado – Continuam com dificuldade de enxergar de perto por causa da presbiopia ou vista cansada que atinge 100% dos maiores de 40 anos. O grau residual pós-cirúrgico, ressalta, também pode ocorrer em que tem alto grau de miopia ou hipermetropia, apesar da biometria de coerência óptica ter aumentado bastante a precisão de refração durante o procedimento. O especialista diz que os vícios de refração e a presbiopia podem ser corrigidos pelo uso de óculos, mas 60% preferem ficar longe das lentes corretivas.
Desenho elimina riscos de complicações
Queiroz Neto explica a lente suplementar é implantada no sulco ciliar, atrás da íris (parte colorida do olho), através de uma incisão de 3 milímetros que é feita na córnea. Produzida em material biocompatível com a estrutura ocular, é mais fina e flexível que a lente convencional. Isso elimina o risco de glaucoma e deformação da superfície óptica que poderiam ser causados respectivamente pelo atrito com a íris e lente convencional. O especialista diz que o procedimento é mais seguro que a troca da lente intra-ocular. Isso porque, a substituição pode provocar a ruptura capsular ou das fibras oculares que fixam a lente no lugar do cristalino. O implante, ressalta, também é previsível porque só de depende da refração atual. Quem tem altos graus de miopia, hipermetropia ou aberrações de alta ordem pode ficar com grau residual após a cirurgia de catarata que agora é eliminado pela lente suplementar asférica. Já o astigmatismo residual, comum em portadores de ceratocone, doença que afinal a parte central da córnea, é corrigido com a lente suplementar tórica. A indicação para corrigir presbiopia pós-cirúrgica é o implante suplementar multifocal. O médico diz que a lente multifocal convencional é contra-indicada na cirurgia de catarata de quem já passou por refrativa. Neste caso e em pacientes que fizeram transplante de córnea o tipo de implante complementar varia de acordo com a dificuldade visual.
Lente melhora desenvolvimento visual de Crianças
Queiroz Neto afirma que a grande vantagem da nova lente para crianças que têm catarata congênita é a possibilidade de troca sem causar trauma ocular, de acordo com as alterações de refração. Ele estima que no Brasil, 0,4 dos recém-nascidos têm a doença. Trata-se de uma importante causa de deficiência visual grave na infância, que pode levar ambliopia ou olho preguiçoso severo quando atinge só um olho. O implante de lente suplementar após a cirurgia de catarata congênita, comenta, otimiza a refração e impede a evolução do olho preguiçoso na catarata unilateral. A única ressalva é que os tecidos oculares na infância são mais suscetíveis a inflamações. Por isso, o tratamento exige maior acompanhamento médico para evitar complicações.