A gerente financeira Cláudia Batista (nome fictício) decidiu, aos 37 anos, que era a hora de ter um segundo filho para fazer companhia ao seu primogênito, de cinco anos. Com 1,60 m de altura e 84 kg, Cláudia tinha um ciclo menstrual irregular. Para conquistar o sonho de ser mãe novamente, ela procurou um tratamento no Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida (IBRRA).
Assim como Cláudia, é grande o número de pessoas acima do peso que têm dificuldades para ter filhos. “Essa taxa é de aproximadamente 30% de mulheres/homens acima do peso. Nesse grupo de pessoas, cerca de 12% vão precisar de um tratamento de reprodução humana para engravidar”, diz o ginecologista especialista em medicina reprodutiva, Juliano Scheffer.
A última pesquisa do IBGE revela que 48% das mulheres e 50% dos homens acima dos 20 anos estão com sobrepeso. No último congresso realizado em julho pela Sociedade Européia de Reprodução Humana, um grupo espanhol – Instituto Valenciano de Infertilidade – demonstrou que os obesos (imc>30) apresentam uma queda de 10 milhões de espermatozóides no espermograma, quando comparado com pacientes não obesos. Um estudo americano publicado agora em setembro pelo médico J.E. Stern, da Universidade de Michigan, demonstrou que a obesidade aumenta em quase o dobro a chance de uma paciente não engravidar.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), podem ser considerados com sobrepeso os indivíduos com Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 25% e obesos aqueles cujo índice está acima de 30%. Scheffer, que é diretor científico do IBRRA, explica que a obesidade já é um problema de saúde pública: “Além do risco de doenças como a diabetes, hipertensão e cânceres, o impacto da obesidade na saúde reprodutiva também tem efeito maléfico, como aumento de ciclos anovulatórios, distúrbios da menstruação, alteração de seminograma, aumento do aborto, infertilidade e conseqüências prejudiciais ao feto e à gestante”. O médico explica que a obesidade aumenta significativamente a chance de um aborto – de 10% (uma pessoa com peso normal) para 35%.
Para conseguir engravidar, Cláudia se submeteu a uma Fertilização In Vitro. “Eu e meu marido fizemos vários exames. Ele tinha pouca mobilidade do sêmen e eu estava acima do peso. Por causa do excesso de gordura na barriga, até precisei mudar o local da aplicação da injeção, pois não estava fazendo efeito”, comenta. Depois da técnica, Cláudia engravidou de primeira. “Foi um susto, pois fiquei grávida de gêmeos, mas valeu à pena. Hoje tenho uma família muito feliz. Meus filhos são a razão da minha vida”.
A pesquisa do IBGE também revelou que, atualmente, dois terços dos adultos e um terço das crianças estão acima do peso. A prevalência da obesidade, de acordo com os dados, também é maior em mulheres do que em homens, e maior em negras do que em brancas. “A obesidade em crianças ocasionou o aparecimento mais cedo da menarca (primeira menstruação) em aproximadamente seis meses em relação à década de 60”, explica Scheffer. Segundo o especialista, várias teorias tentam explicar este efeito, sendo os mais aceitos o aumento da leptina (hormônio derivado do tecido gorduroso) e aumento da produção do estrogênio pelo mesmo tecido. “Essas alterações também causam a irregularidade menstrual, que afeta social e psicologicamente as mulheres. Na menopausa, aumenta a chance de câncer de endométrio, entre outros”, finaliza Scheffer.