As condições da pecuária no Pantanal e projetos para melhorar a sustentabilidade da atividade foram discutidos durante o workshop da Rede de Pecuária do CPP, Centro de Pesquisas do Pantanal. “Os trabalhos estão ajudando a mostrar a importância da pecuária tradicional dentro da dinâmica do Pantanal, já que a atividade colabora para a manutenção dos campos e ajuda a manter o cenário do ecossistema como conhecemos hoje”, afirma o professor Paulo Teixeira de Sousa Jr.
Por isso, uma das grandes preocupações entre os cientistas é criar condições para a manutenção dessas comunidades na região pantaneira. Um dos projetos mostra que a estrutura fundiária do Pantanal vem mudando e que as condições de vida dos pantaneiros precisa melhorar. “Queremos diagnosticar as alterações nos grupos humanos e quais os impactos no ambiente de uma maneira geral. O objetivo é fornecer subsídios para a composição de políticas públicas para melhorar a situação dessas pessoas”, explica a professora Onélia Rosseto, coordenadora do sub-projeto.
Uma alternativa para aumentar a rentabilidade das propriedades rurais está num projeto que propõe o resgate dos produtos tradicionais do Pantanal. Pesquisadores de Mato Grosso do Sul identificaram itens que tem potencial para entrarem no mercado com o diferencial de serem fabricados na região. Entre eles estão a lingüiça, a carne de sol, a geléia de mocotó e produtos artesanais em couro e osso. “Em Aquidauana, a carne oreada é um bom exemplo dessa estratégia. É um alimento típico que está em processo para receber um selo de origem do Pantanal. Nossa idéia é dar visibilidade aos produtos e viabilizar sua fabricação pelas comunidades”, adianta André Simões, coordenador do sub-projeto.
O bovino do Pantanal também é alvo de pesquisa. Apesar de ser menor e ter menos carne, o gado pantaneiro se destaca pela resistência e adaptabilidade. “O gado do Pantanal é uma raça rústica, que suporta bem altas temperatura e é mais resistente à doenças. Nosso foco está no gado leiteiro e temos como objetivo conhecê-lo melhor seu potencial produtivo. Além de contribuir para preservar a raça, a pesquisa vai ajudar a descobrir quais genes o tornam tão forte”, conta o professor Marcus Morais, coordenador do sub-projeto.
As condições ideais de manejo dos pastos também devem colaborar para o incremento da atividade. Atualmente, os cientistas estudam qual o volume ideal de gado para a manutenção correta das pastagens. A equipe do projeto já identificou mais de cem tipos de pastos diferentes e já encontrou indicações de lotação de gado para as mais comuns, como a grama do cerrado e a tio pedro. “Temos notado que a lotação moderada é a ideal. Tanto o pasto com pouco gado quanto com muito prejudicam o equilíbrio ecológico”, revela a professora Sandra Santos, coordenadora do sub-projeto, que já produziu uma cartilha sobre o assunto.
Outro desafio para os cientistas em relação às pastagens nativas é o combate às espécies invasoras. O avanço do cambará e do pombeiro nos pastos do Pantanal norte degrada os pastos e vem comprometendo a existência de várias propriedades rurais. “Essas espécies são da flora do Pantanal, mas estão avançando para os pastos. O lugar natural do Pombeiro, por exemplo, é nas margens dos rios. Estamos pesquisando a dinâmica dessas plantas, pois temos que entender como funciona a dinâmica desse avanço. Assim, poderemos propor alternativas para ajudar as populações tradicionais”, reforça Cátia Nunes, coordenadora do sub-projeto. O trabalho vai subsidiar a normatização da limpeza de campo na Lei de Gestão do Pantanal. A criação dessas regras é importante poque ainda há muita confusão entre desmatamento e retirada necessária das espécies invasoras. “A limpeza é periódica é essencial, pois se a invasão não é controlada o pasto morre”, afirma Cátia.
As condições ecológicas do Pantanal também estão integradas aos trabalhos da rede, com pesquisas que avaliam as condições da biodiversidade nos sistemas agropastoris do Pantanal. O projeto BioPan traçou um retrato de quais espécies estão presentes em diferentes unidades da paisagem, como cordilheiras e cambarazais. “Esse informações de composição de espécies poderão ajudar a avaliar como a ação do homem ou as próprias mudanças da natureza”, antecipa a professora Christine Strusmann, coordenadora do sub-projeto. Já a equipe do professor Walfrido Tomas usa câmeras fotográficas escondidas na vegetação para detectar espécies de mamíferos. “Buscamos quais fatores determinam o aparecimento dos mamíferos, se isso tem relação com o manjeo, por exemplo, e quais são os critérios e limites para interferir na paisagem natural”, resume o pesquisador.
O comitê avaliador da Rede sugeriu que, nas próximas fases, sejam incentivados estudos históricos sobre o Pantanal. “Acho que podemos ver o boi como grande ele de ligação para dar sustentabilidade e economicidade à região. A rede pode criar mecanismos que permitam que o boi seja lucrativo e, ao mesmo tempo, mantenha o sistema de relações humanas e biológicas da região”, recomendou Luciano margins Verdade, integrante do comitê e membro da coordenação do Programa Biota da Fapesp.
Maria Luiza Braz Alves, Coordenadora Geral de Gestão de Ecossistemas do Ministério da Ciência e Tecnologia e Coordenadora da Comissão de Acompanhamento e Avaliação do CPP, acredita que a estruturação de redes pelo CPP cumpriu a meta de aumentar a competitividade dos pesquisadores locais em editais públicos e contribuiu para ampliar a pesquisa científica na região. “Há um grande volume de informações. A perspectiva que temos agora e trabalhar esses dados para que eles sejam repassados para a comunidade, seja na forma de seminários, publicações ou políticas públicas”, avalia.