O sonho de estudar numa das mais importantes universidades brasileiras atrai multidão de jovens. Nada menos que 28 mil estudantes do ensino médio e fundamental visitaram a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no início de setembro. Vindos em blocos, os primeiros chegaram depois das 7h. Menos de duas horas depois, o entorno da universidade estava tomado por ônibus e vans. No sábado, foram mais 12 mil alunos. Ao todo, foram necessários 900 ônibus e 120 vans para transportar os 40 mil adolescentes de 670 escolas públicas de 12 Estados brasileiros.
Do lado de dentro, um ‘mar’ de jovens caminhava rumo ao ginásio multidisciplinar, local de recepção dos participantes do programa Unicamp de Portas Abertas (UPA). Muitos esperavam em enormes filas para tomar o ônibus circular com destino a faculdades e institutos mais distantes. Outros perambulavam pelas unidades mais próximas do evento. Transitar pela universidade, só mesmo a pé. O carro teve acesso bem restrito. Foi assim a manhã toda. Só à tarde, com boa parte dos coletivos estacionados e os jovens acompanhando palestras e atividades, reinou certa calmaria.
Os milhares de estudantes foram recebidos pelos monitores (200 distribuídos pelo câmpus), que ajudavam na localização e logística, davam orientação nos estandes de profissão e encaminhavam para conhecer as faculdades e institutos. Nesta 8ª edição da UPA foram instalados mapas trilíngues para orientar os alunos dentro do campus. Outra mudança foi a programação diferente para cada dia do magaevento.
Unicamp é possível
Professores e alunos cuidaram de apresentar as 25 unidades de ensino e pesquisa, os quatro hospitais, as 20 bibliotecas e as centenas de laboratório de pesquisa científica e tecnológica. Cada unidade tinha um monitor que explicava o seu funcionamento, sua estrutura e os projetos de pesquisa. Os visitantes foram informados sobre os programas de inclusão para aumentar o ingresso na Unicamp, bolsas fornecidas pelo Serviço de Apoio ao Estudante e os serviços prestados. Participaram de ampla programação cultural na Casa do Lago, com música, dança, cinema e exposição.
A monitora Jaqueline Borges diz que, nos estandes de profissão, o estudante “tem todas as informações de que precisa para fazer o vestibular e até ajudá-lo na escolha da profissão”. A monitora Melina Souza salienta a importância de acabar com o mito de que só aluno da rede privada entra em universidade pública. “A Unicamp é acessível a todos”, garante. O slogan desta edição da UPA – Tome ciência: a Unicamp é possível – reforça a preocupação. As duas monitoras, auxiliadas por outras colegas, são responsáveis por prestar esclarecimentos sobre o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis).
Destinado a estudante de escolas da rede pública de Campinas, o Profis seleciona aluno com base na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para cada escola é convocado o estudante que obtiver a melhor nota. Edyelen Roberta Rosa, terceiranista, buscava informações detalhadas com as monitoras. Quando questionada se era boa aluna, responde apenas: “Tento ser”. Mas as próximas respostas não deixam dúvidas: desde o início do ano, a garota tem estudado com afinco as cinco últimas provas aplicadas pelo Enem.
Futuro profissional
Edyelen está ciente de que conquistar uma das 120 vagas do Profis é a primeira batalha para entrar na Unicamp sem prestar vestibular. A outra, ainda mais seletiva, é conseguir a vaga do curso que deseja já que são oferecidas duas vagas por curso. Isso significa que nos mais concorridos a disputa é acirrada. Quem obtiver nota suficiente para conseguir o diploma, mas não para ocupar a vaga no curso escolhido, poderá optar por outro ou fazer o vestibular. A diferença é que sai com diploma e pode começar a trabalhar. “Vou me esforçar muito para entrar em Economia pelo Profis”, garante a adolescente.
No estande de Educação Física, Pedro Vinicius, 16 anos, emendava uma pergunta na outra ao monitor. O que aprenderá nos bancos universitários? Quanto tempo dura a formação? Onde poderá trabalhar? Quanto ganhará? Se jogará bola na faculdade, e por aí afora. De tudo quis saber um pouco. Diz que veio pela segunda vez para “tirar dúvidas e decidir o futuro”. Da primeira, cursava a 7ª série e “não aproveitou tanto”. Chegou indeciso entre cursar Educação Física e Ciências da Computação. Saiu quase decidido a colocar um “X” no curso de Educação Física ao responder o formulário do vestibular da Unicamp. “É uma área que me interessa cada vez mais”, sintetiza.
Ao preencher o formulário do vestibular, Pedro precisa marcar outro “X” no campo do Programa de Ação Afirmativa e Inclusão Social (Paais). Ao fazer isso, receberá 30 pontos a mais na nota final, após a segunda fase. Isso porque cursou os três anos do ensino médio em escola pública. Pela regra do Paais, se o candidato da rede pública ainda se autodeclarar negro, pardo ou indígena receberá mais 10 pontos, totalizando 40 pontos.
Por dentro da universidade
Colegas de escola pública de Cajamar, Lorena Rodrigues e Cibele Souza aproveitaram para ver por dentro o funcionamento do Instituto de Artes. Logo que entraram na instituição, foram direto ao ateliê que exibia trabalhos de alunos baseados em esculturas clássicas como a Vênus, de Milo, Davi e Madonna com criança, de Michelangelo, entre outras. Cibele pensa em estudar Música e, Lorena, Arquitetura. O instituto ministrou palestra sobre o mercado de trabalho, fez apresentações de música e dança, além de abrir suas oficinas ao público estudantil.
Na Faculdade de Geologia e Geografia havia mostras que explicavam a formação do solo, exploração das rochas, meteorito, pré-sal, ecossistema marítimo e até esqueleto de crocodilo similar aos atuais e que habitava o interior de São Paulo. Pelo microscópio, podia-se observar um âmbar e perceber partes de inseto que compõem a resina sólida. De Serra Negra, Marcelo Moura dos Santos Júnior veio conhecer a universidade onde pretende estudar Engenharia Química. “Estou gostando de tudo. É muito esclarecedor”. Diz que trabalhar com petróleo é uma das possibilidades de atuação que tem em mente.
A paulistana Helena Santana se queixou da espera na fila de ônibus para chegar à Faculdade de Ciências Médicas. “Acho que, se dividissem a visita em três dias, talvez tivesse menos gente circulando”, palpita. Quando chegou ao local, foi conferir a exposição de plantas (mamona, bico-de-papagaio, coroa-de-cristo) e animais tóxicos (aranha, escorpião, cobra). Ouviu atentamente a monitora explicar o amplo campo de estudo e de atuação de quem cursa Farmácia, das vacinas e medicamentos, dos testes necessários para produzir novas drogas.
Caderno e revista da UPA
Filha de farmacêutica, Helena só tem certeza de que prestará vestibular na área de biológicas nas universidades públicas estaduais (Unicamp, USP e Unesp) e nas federais. Fez questão, também, de saber se a monitora gostava de estudar na Unicamp. Depois, acompanhou palestras direcionadas aos futuros médicos. Numa das salas, uma terceiranista da Unicamp explicava princípios da cardiologia aos visitantes. Começou com o que diferencia uma artéria de uma veia, como o coração é irrigado, o que é trombose. De tão detalhada era a palestra que essa turminha saberá responder corretamente perguntas do vestibular sobre o assunto.
Quem visitou a universidade levou de lembrança um caderno, que traz a mascote Tiba (andorinha) na capa, com informações básicas dos cursos e do vestibular. A Revista da UPA, que até o ano passado era impressa, agora está disponível em versão eletrônica. Instituição responsável por 12% da pesquisa acadêmica nacional, na Unicamp estudam 35 mil alunos oriundos de diferentes regiões do Brasil e de outros países. Mais informações, no site oficial do evento: www.upa.unicamp.br.
Da Agência Imprensa Oficial