É um simples pedaço de papel medindo cerca de dois centímetros quadrados de área – e será capaz de ajudar a salvar vidas. Pela simplicidade da tecnologia utilizada parece até difícil imaginar como essas minúsculas formas serão importantes para os pacientes. Orientada pelo professor Emanuel Carrilho, do Instituto de Química da USP de São Carlos, a pesquisa utiliza uma espécie de “selo postal” no processo de análises clínicas para diagnosticar doenças como diabetes, disfunções renais, malária, mal de Chagas e até aids. Outra vantagem do estudo é o baixo custo dos kits de análise.
O professor Carrilho aperfeiçoou o método no exterior, numa parceria com o pesquisador George Whitesides na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts. Carrilho ficou interessado pela inovação, porém, o processo de fabricação original utilizava solventes e polímeros para fazer o teste. Ou seja, a produção necessariamente deveria passar por um laboratório especializado, o que a deixava inviável financeiramente, num primeiro momento.
Diagnósticos múltiplos
A contribuição do pesquisador da USP permitiu o uso de folhas de papel especial de cromatografia (um tipo poroso, semelhante ao do coador de café) e uma impressora a laser com tinta a base de cera. De acordo com Carrilho, o teste é parecido com o usado para detectar gravidez, porém, mais barato e aplicável a inúmeras doenças. “Para ativá-los basta uma gota de urina, sangue, lágrima ou saliva. Em contato com reagentes, o papel muda de cor de acordo com cada tipo de enfermidade”, afirma o pesquisador.
Os pesquisadores ainda precisam definir alguns materiais a serem utilizados nesse processo, mas o custo médio de cada exame não deverá passar de R$ 0,10. Além das doenças, o teste pode ser usado para detectar metais pesados como mercúrio e chumbo, e até pesticidas na água ou em outros líquidos. “O número de variações da pesquisa é ilimitado. Em princípio, quase todas as reações que ocorrem em laboratório de análises clínicas podem ser transportadas para o papel”, afirma Carrilho.
Segundo o pesquisador, não há limites para aprimoramento do estudo. A próxima etapa da pesquisa incluirá a detecção de alguns tipos de câncer. Uma vantagem a mais para municípios com poucos recursos e que dependem de serviços laboratoriais exclusivos. A aplicabilidade vai além, pois a tecnologia poderá levar atendimento médico a locais mais distantes e isolados do País. “Uma das intenções nesse projeto é direcionar nosso esforços na busca de soluções inovadoras e de baixo custo. Seria possível levar o método a regiões carentes, onde os recursos de políticas públicas e de qualidade de vida não chegam, transformando os habitantes do local em verdadeiros agentes de saúde”.
Coleção de amostras
Com esse método, ele enxerga a possibilidade do uso até da telemedicina, que reduziria a proximidade do paciente com o especialista. O teste pode ser aplicado até no meio de uma floresta ou por uma pessoa pouco experiente. Com o celular será possível o próprio paciente tirar fotografia e enviar a amostra para um especialista que daria o diagnostico ou sugeriria o que fazer no próximo passo. Ou ainda exportar os resultados para um banco de dados internacional da área científica.
O professor Emanuel Carrilho prevê, ainda em 2011, fazer uma experiência inicial na cidade de Santa Luzia do Itanhy, em Sergipe. Porém, a sua equipe ainda aguarda liberação de financiamento para a realização do trabalho de campo em parceria com um instituto de pesquisa, o IPTI – Instituto de Pesquisa de Tecnologia e Inovação. A ideia inicial é executar testes de glicemia e proteinúria (proteína do plasma produzida pelo fígado, através do metabolismo dos alimentos ricos em proteínas, tais como carnes, ovos, leite e derivados) em 4,7 mil crianças e adolescentes. Em caso de sucesso, a experiência será estendida para outras cidades nos próximos anos, ampliando também a gama de exames realizados.
Da Agência Imprensa Oficial