Um instrumento capaz de aproximar a epidemiologia nutricional e a tecnologia da informação, visando auxiliar a coleta de dados e acelerar procedimentos como a geração de banco de dados e a transmissão e coleta simultânea de dados.
Essa é a proposta do software Sistema para o Monitoramento da Saúde e Nutrição Escolar (Nutrisim), cujo projeto desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), “Desenvolvimento e avaliação da usabilidade de um instrumento computadorizado para avaliação e monitoramento da saúde e estado nutricional do escolar”, contou com o apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.
O projeto, coordenado pela professora Betzabeth Slater Villar, da FSP-USP, teve como objetivo a criação de uma ferramenta destinada a pesquisadores da área da epidemiologia nutricional e da saúde. De acordo com a professora, o desenvolvimento do software surgiu da necessidade de avaliar o consumo alimentar em crianças, principalmente, entre 5 e 10 anos.
“Avaliar o consumo nessa faixa etária é muito difícil, pois as crianças estão em pleno desenvolvimento cognitivo e a memória é o que mais atrapalha a avaliação do consumo alimentar. Elas não respondem corretamente porque não se lembram ou não têm uma imagem construída do que comeram”, disse Villar à Agência FAPESP.
Villar explica que o estudo para o desenvolvimento e a usabilidade do software envolveu testes com 200 crianças, da 5ª a 8ª série do ensino fundamental – de 7 a 15 anos –, de duas escolas da rede pública de Guarulhos (SP).
Segundo a professora, o Nutrisim avaliou o consumo do dia anterior às respostas, por meio de um método denominado Recordatório de 24 horas Estruturado. Nele, a criança avaliada descreve detalhadamente a alimentação nas últimas 24 horas, informando o tipo de alimento, preparações e porções.
“O software vem acompanhado de um álbum fotográfico digital de alimentos. Se, por exemplo, a criança responder que consumiu leite durante o café da manhã, o Nutrisim abrirá uma nova janela, na qual constarão imagens de diferentes porções desse alimento. A criança irá, então, selecionar uma dessas porções para, em seguida, o programa gerar os valores nutricionais para aquela quantidade”, explicou Villar.
A professora destaca que, paralelamente ao desenvolvimento do programa, foi realizado um estudo no qual se testou a usabilidade do Nutrisim tanto pelas crianças como pelos profissionais da informática.
“A pesquisa envolveu a relação do profissional e da criança com toda a interface do programa, layout, fotografias, perguntas e respostas. Com isso, observamos que as crianças menores de 10 anos ainda precisam de orientação para manuseio. Já para acompanhar o consumo dos menores, encaminhamos um pesquisador de campo, para auxiliá-los no manuseio do software.”
Além do consumo alimentar de escolares, Villar destaca que o programa ainda contempla questões relativas a estilo de vida, condições socioeconômicas, alimentação escolar, crescimento e desenvolvimento de escolares.
“O software inclui cerca de 12 instrumentos que acompanham o consumo. São questionários que avaliam o estado nutricional, a prática de atividades físicas, crescimento e desenvolvimento da criança, condições socioeconômicas, violência doméstica, uso de bebidas alcoólicas e drogas, insegurança alimentar e comportamento sexual”, completou.
“Trata-se de um instrumento que poderá apoiar pesquisas epidemiológicas, incluindo grandes inquéritos e estudos multicêntricos, pois o programa produz uma base genérica capaz de ser adaptada de acordo com os objetivos de cada estudo”, ressaltou a pesquisadora.
A professora destaca também que o Nutrisim – disponível em www.fsp.usp.br/nutrisim – pode ser acessado por toda a comunidade científica.
“O que fizemos foi propor um instrumento de formação de dados. No entanto, cada pesquisador irá decidir o que avaliar como, por exemplo, apenas saúde e atividade física para definir quantas crianças são ativas e inativas”, concluiu.
Por Mônica Pileggi
Agência FAPESP