Por Fábio de Castro Agência FAPESP – A performance das universidades latino-americanas teve uma forte melhora no ranking QS World University de 2011, publicado nesta segunda-feira (05/09). O ranking britânico aponta as 300 melhores universidades do mundo a partir de seis indicadores.
A Universidade de São Paulo (USP), em 169º, subiu 84 posições em relação a 2010 e pela primeira vez está entre as 200 melhores. A Unicamp subiu 57 pontos e aparece na 235ª posição.
Outras três universidades latino-americanas aparecem entre as 300 do ranking: Universidade Nacional Autônoma do México (Unam), que subiu da 222ª para a 169ª posição em 2011, empatando com a USP em primeiro lugar no continente. A Pontifícia Universidade Católica do Chile passou de 331º para 250º. A Universidade do Chile, que estava em 367º lugar em 2010, passou para o 262º.
Pelo segundo ano consecutivo, o ranking foi liderado pela Universidade de Cambridge (Reino Unido). Em seguida estão as norte-americanas Harvard, Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) e Yale e a britânica Oxford.
De acordo com Ben Sowter, da QS (Quacquarelli Symonds), empresa especializada na produção de informações e estatísticas para o ensino superior, embora o ranking só publique as 300 primeiras colocações, é possível verificar que entre as 500 melhores do mundo há 17 universidades latino-americanas, do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai. “Há mais universidades latino-americanas que nunca entre as top 500”, disse Sowter.
Na metodologia utilizada pela QS, cerca de 2 mil universidades são consideradas e mais de 700 entram na avaliação para o ranqueamento das 300 melhores.
Dos seis indicadores utilizados, o mais importante é o de “Reputação acadêmica” (40% da avaliação). Os outros critérios são “Citação por docente” (20%), “Razão de estudante por docente” (20%), “Reputação junto ao empregador” (10%), “Internacionalização do corpo discente” (5%) e “Internacionalização do corpo docente” (5%).
De acordo com Marco Antônio Zago, pró-Reitor de Pesquisa da USP, a peformance apresentada pela maior universidade brasileira no QS World University é coerente com o que foi indicado por outros rankings publicados em 2011, como o Webometrics e o Academic Ranking of World Universities (ARWU).
“Cada ranking mede um aspecto específico ao privilegiar determinados critérios. Mas a USP subiu várias posições em todos os que foram publicados até agora e podemos dizer que, no conjunto, eles apontam de maneira bastante consistente uma tendência de melhora na posição da universidade. Ficar entre as 200 primeiras é algo bastante expressivo”, disse à Agência FAPESP.
Segundo Zago, a escalada da USP e da Unicamp acompanha uma tendência de melhora na qualidade da produção científica em todo o Estado de São Paulo.
“Esses resultados mostram que o ambiente de ciência e tecnologia está melhorando no estado. Além de contar com o apoio da FAPESP, as universidades têm aplicado recursos próprios em pesquisa e em políticas de formação de recursos humanos”, destacou.
Outro fator que contribui com o bom desempenho das universidades paulistas, segundo Zago, é que os critérios do ranking da QS privilegiam a ascensão na carreira universitária e no mundo acadêmico que são vinculados ao mérito e não a aspectos políticos. “No universo acadêmico paulista há uma tendência de predominância do mérito”, disse.
O ranking QS World University também classifica a performance das universidades nas diferentes áreas do conhecimento. Em algumas delas, a USP teve desempenho ainda melhor do que o conseguido na classificação geral, segundo Zago. Em alguns casos, está entre as 100 melhores do mundo, como em Ciências da Vida e Medicina (70º), em Humanidades (80º), em Ciências Exatas e da Terra (86º) e em Engenharia (97º)
“À primeira vista pode parecer estranho que estejamos entre as 100 melhores em todas essas categorias e apenas entre as 200 melhores na classificação geral. A explicação para isso é provavelmente que muitas das universidades têm altíssima competência em uma área específica, mas são focadas exclusivamente nelas –assim, acabam excluídas quando se observa a classificação por área em um setor no qual elas não atuam”, explicou.
Em Ciências da Vida e Medicina, segundo Zago, a excelente performance da USP se explica principalmente pela excelência da comunidade científica paulista nessa área. “Basta ver que é a área que recebe maiores investimentos da FAPESP – não por conta de uma política deliberada da Fundação, mas pela alta demanda qualificada existente”, disse.
A Unicamp, em 235º lugar na classificação geral, está em 270º em Ciências da Vida e Medicina, em 170º em Artes e Humanidades, em 152º em Ciências Exatas e da Terra e em 152º em Engenharias.
Reputação acadêmica
Segundo Ronaldo Pilli, pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, o ranking da QS, ao eleger a “reputação acadêmica” como critério principal adquire um viés que privilegia as instituições mais conhecidas mundialmente.
“Em qualquer parte do mundo, quando se pergunta a um acadêmico quais são as três melhores universidades do planeta, é natural que ele vá citar Cambridge, Oxford, Harvard e outras instituições de grande tradição. Não é à toa que elas dominam o ranking”, disse.
Apesar da ressalva, Pilli avalia que estar entre as 300 melhores universidades do mundo é algo significativo para a Unicamp. “O ponto mais importante para nós é esse progresso de quase 60 pontos na classificação, que reflete vários esforços que estamos fazendo na universidade, especialmente no que diz respeito à qualificação do nosso corpo de pesquisadores”, afirmou.
O pró-reitor lembra que o ranking da QS se baseia na base de dados Scopus para avaliar a quantidade de publicações indexadas vinculadas a cada universidade, a fim de estabelecer o indicador de “Citação por docente”. “Temos publicações indexadas no Scopus em número muito significativo para o tamanho do nosso corpo docente. Certamente esse critério nos projetou no ranking”, apontou.
Outro fator que provavelmente contribuiu com a escalada da Unicamp nos diversos rankings, segundo Pilli, é um contínuo aperfeiçoamento das informações fornecidas às agências que produzem essas classificações.
“No último ano houve um esforço da FAPESP, em conjunto com as universidades paulistas, para informar com mais propriedade e clareza o investimento feito em pesquisa”, disse Pilli.
Segundo ele, durante muitos anos o orçamento de pesquisa informado pelas universidades era baseado somente nos recursos captados junto às agências de fomento.
“No último ano passamos a incorporar ao cálculo a porcentagem do tempo dos pesquisadores que é pago pela universidade em função de seu trabalho de pesquisa. Isso não influenciou muito no ranking da QS, focado na reputação acadêmica, mas pesa bastante para os outros, que consideram o orçamento de pesquisa”, afirmou.
Segundo ele, a escalada no ranking da QS reflete uma melhora da qualidade das atividades da Unicamp e uma maior visibilidade da instituição.
“Essa performance também reflete as atividades de internacionalização que estão em curso na universidade e que visam aumentar a mobilidade internacional da graduação ao pós-doutorado, passando pelo corpo docente”, afirmou.