Com o objetivo de discutir e buscar consenso para a indicação de vacinas em situações especiais, conferencistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais estarão reunidos no próximo dia 2 de junho, para a realização do evento Controvérsias em Imunizações na cidade do Rio de Janeiro. Entre os temas estão: recomendação alternativa da vacina contra o HPV (recomendação para pessoas fora da faixa etária prescrita em bula, sua eficácia ou não); a vacinação de gestantes e lactentes contra coqueluche; como proceder com os pacientes alérgicos à proteína do ovo ou qual é a melhor idade para aplicação da segunda dose da vacina contra varicela serão debatidos no evento. Também está na pauta a indicação da vacina inativada contra a pólio (VIP) para adolescentes brasileiros. Os médicos aceitaram participar do debate a convite da Sociedade Brasileira de Imunizações – SBIm.
“Esse é um evento anual que representa uma grande oportunidade de discutir questões extraordinárias, que implicam em tomadas de decisão visando à proteção do paciente, mas que estão além do que é determinado como padrão. A partir das conclusões dos especialistas, poderemos sugerir orientações para médicos de todo o país”, afirma Renato Kfouri, presidente da SBIm Nacional.
HPV para maiores de 26 anos
A indicação da vacina contra HPV para mulheres com mais de 26 anos está sendo considerada mediante os estudos que verificaram ser alto o índice daquelas que apresentam sorologia negativa para os tipos de HPV 16 e 18, causadores de câncer. “Estudos mostram que 68% das mulheres com idade entre 26 a 35 anos estão suscetíveis”, destaca Guido Carlos Levi, vice-presidente da SBIm Nacional. Entre as que têm de 46 a 50 anos, o percentual de suscetíveis é de 65,6%. “Esses dados reforçam a importância da vacinação mesmo que a mulher esteja acima da faixa etária recomendada na bula. Embora a vacina não vá tratar infecções pré- existentes, ela ainda será útil para a prevenção da infecção por outros sorotipos”, acrescenta Levi, que vai apresentar esses dados durante o evento. Outros estudos mostram que o risco da infecção por HPV aumenta com a idade, devido ao maior número de parceiros sexuais ao longo do tempo. Países como Austrália, México, Turquia, Índia, Equador, Filipinas e Macau já autorizam formalmente a vacina do HPV para maiores de 26 anos. “É importante lembrar que não há uma contraindicação específica para o uso da vacina nesses grupos. O que vamos discutir é o benefício da indicação”, afirma Levi.
Coqueluche: a vacinação não deve esperar o bebê nascer
Com o aumento dos casos de coqueluche entre bebês, tendo os pais como os principais transmissores da bactéria Bordetella pertussis, causadora da doença, a indicação da vacina para grávidas e lactentes é um dos principais tópicos a ser debatido no evento. O tema, que será tratado pela médica Isabella Ballalai, presidente da SBIm – RJ, vem merecendo atenção mundial, principalmente pelo fato de os adultos estarem transmitindo a doença para as crianças pequenas. Esta situação motivou a criação da “Estratégia Cocoon”, que é a imunização de todas as pessoas que estão em contato direto com a criança (familiares, profissionais de saúde, educadores etc.).
De acordo com Ballalai, a vacinação pré-natal representa melhor custo-efetividade, já que previne mortes em 51% dos casos (na vacinação pós-parto, esse índice cai para 21%). “Vacinar a mulher durante a gestação significa aumentar a proteção nos primeiros meses de vida da criança”, afirma. Durante o evento Isabella Ballalai irá enfatizar que a Estratégia Cocoon continua sendo importante e que essa vacinação de pai, irmãos, babás e avós, por exemplo, também deve ocorrer, preferencialmente, antes do nascimento do bebê.
Prevenção da febre amarela em idosos
A validade da indicação para idosos da vacina que previne a febre amarela será discutida pelo médico José Geraldo Leite, da SBIm – MG. O tema está em pauta devido ao maior risco de reações adversas em pessoas com mais de 60 anos. José Geraldo alerta para a importância de se considerar cada caso isoladamente. “É preciso analisar a realidade epidemiológica na qual o paciente está inserido. Sempre que o risco de contrair a doença por meio da picada do mosquito for maior do que o risco de reações adversas possíveis de ocorrer em idosos, a escolha deve ser pela imunização”, defende. O parâmetro é considerar a realidade epidemiológica na qual reside o paciente ou para onde ele pretende se destinar, em caso de viagens.
Antecipação da vacina contra varicela
A antecipação da primeira dose da vacina contra varicela (catapora) é outro ponto polêmico e será discutido no Controvérsias em Imunizações pelo médico Juarez Cunha, da SBIm- RS. A indicação atual é que a vacinação tenha início aos 12-15 meses de vida, para evitar a interferência de anticorpos maternos na resposta vacinal da criança. Contudo, já é conhecida a eficácia da aplicação de “dose de emergência” com o objetivo de prevenir a doença em bebês que tiveram contato com pessoas infectadas pelo vírus da varicela. “Diante dessa constatação, vamos discutir as indicações e a proteção conferida aplicando a primeira dose antes de 1 ano e após os 9 meses de idade e, nessa situação, como proceder posteriormente: serão necessárias mais uma ou duas doses da vacina? Quando aplicá-las?”, questiona Cunha.
Outra discussão envolvendo a mesma vacina é se os especialistas irão recomendar a antecipação da segunda dose. No uso rotineiro da vacina, a indicação é que a primeira dose seja aplicada entre 12-15 meses e a segunda entre os 4-6 anos de idade. Em caso de exposição/contato com a doença é recomendada a antecipação da segunda dose. “Se já está definida a importância da dose de reforço e se há recomendações de antecipar caso seja necessário, por que não recomendá-la mais precocemente?”, questiona o médico. O que motiva o debate é a possibilidade da ocorrência da doença em crianças já vacinadas com uma única dose e a comprovação de que a dose de reforço pode conferir proteção de até 100%.
Adolescentes e a Vacina Inativada contra Poliomielite (IPV – sigla em inglês)
Atualmente existe o risco de queda da imunidade contra a poliomielite no adolescente brasileiro, embora a imensa maioria tenha sido vacinada na infância. Esta afirmação é da médica Luiza Helena Arlant, vice- presidente da Sociedade Latinoamericana de Infectologia Pediátrica, que defende o reforço na imunização de jovens e adultos contra a doença. “É mais seguro manter esse adolescente protegido e é esse o debate que iremos levar ao Controvérsias este ano”, disse. O vírus da pólio ainda circula mesmo em países que já erradicaram a doença, como é o caso do Brasil. Isso ocorre também porque o vírus presente na vacina oral, usada nas campanhas e na vacinação de rotina, é eliminado nas fezes das crianças vacinadas. “Essa vacina oral de vírus atenuado foi estratégica para conseguirmos reduzir o número de casos de poliomielite a zero no Brasil. Contudo, hoje, a realidade é diferente do que em anos passados quando tínhamos um número muito grande de casos de poliomielite no Brasil e no mundo, especialmente em crianças. Com a redução atual expressiva dos casos, o número de adolescentes e adultos mais velhos susceptíveis tende a aumentar porque a imunidade tende a diminuir. Daí a importância da dose de reforço com a vacina inativada”, defende Luiza.
A vacina VIP não é indicada somente para adolescentes. Ela pode ser também aplicada em pessoas de todas as idades. “Também indicamos a VIP para o viajante que se dirige a países nos quais ainda existe a doença, como é o caso de adolescentes que fazem intercâmbio fora do país, especialmente países onde a pólio ainda existe em níveis endêmicos”, explica Luiza. De acordo com a médica, a vacina inativada VIP tem uma resposta imunogênica excelente. “A doença em adultos é tão grave como em crianças, com uma letalidade bastante alta. Antes nós não tínhamos a vacina VIP produzida e fornecida em larga escala para indicar nas faixas etárias maiores e em grande número de pessoas, agora é o momento de garantir a proteção de nossos adolescentes e adultos contra poliomielite”, ressalta.
Como proceder com os casos de alergia à proteína do ovo?
As vacinas estão entre os medicamentos mais seguros e eficazes para a prevenção de doenças infectocontagiosas. Algumas, no entanto, são produzidas a partir do cultivo de vírus em ovos, o que pode representar limitação de uso por pessoas com alergia a esse alimento. A possível alergia a vacinas nestas pessoas leva alguns médicos a deixar de prescrevê-las. “Apenas pessoas com reações extremas à ingestão de ovos (anafilaxia, isto é, choque, falta de ar, edema de lábios, urticária generalizada), devem se precaver”, orienta Gabriel Oselka, pediatra e presidente da Comissão de Imunizações da Secretaria de Saúde de São Paulo. Segundo o médico, que vai tratar do tema durante o Controvérsias, tais casos são muito raros e excepcionais. De acordo com ele, das vacinas disponíveis hoje no Brasil, apenas as da gripe e febre amarela são produzidas em ovos. “Nesses casos, a orientação médica aos alérgicos é fundamental”, orienta.
“O objetivo da SBIm é, a cada edição do Controvérsias, é democratizar o acesso às informações de qualidade, atendendo, assim, ao estatuto da entidade que prevê o incentivo à educação continuada na área de imunizações”, destaca o presidente da SBIm Nacional, Renato Kfouri. As inscrições são gratuitas e as vagas, limitadas.
Serviço:
Controvérsias em Imunizações
Data: 2 de junho de 2012
Hora: de 8h às 18h
Local: Centro Empresarial Mário Henrique Simonsen
Av das Américas, 3.434. Bloco 8. Rio de Janeiro (RJ)
Data Limite para inscrições: 31 de maio de 2012
Inscrições pelo site: http://www.sbim.org.br/